Ir a um show de rock de uma de suas bandas favoritas requer muitos esforços. No meu caso, tive que enfrentar algumas ?adversidades? para ver o U2 – pela terceira vez no Brasil – no primeiro show da turnê no país, no último dia 9 de abril (sábado).
Para começar, a dificuldade de quem mora no interior. Para ir até São Paulo utilizando a linha interestadual de ônibus e chegar em um horário confortável para ir ao show, exige o primeiro esforço: viajar no dia anterior, às 22h, já que são longos 450 quilômetros de distância entre Formiga e a capital paulista.
Buscando conforto e um pouco de descanso para antes ou depois do show, resolvi reservar um hotel na região central de São Paulo, mais precisamente na rua Augusta. No entanto, vem o segundo entrave: geralmente os hotéis fazem o check in ao meio-dia. Como cheguei em São Paulo 6h da manhã, tive que me arrumar para o show, (que começaria 16 horas mais tarde) no banheiro do Terminal Rodoviário paulistano. Uma breve parada no hotel para apenas deixar a mochila e, em seguida, seguir para o estádio do Morumbi. Isso tudo, antes das 8h da manhã.
Chegando ao local do show por volta das 8h30, filas imensas já se aglomeravam nos arredores do estádio, para todos os setores. Como meu ingresso era do setor mais concorrido ? pista ? peguei uma fila enorme, de pelo menos 2 mil pessoas.
A pluralidade regional nesses eventos é tamanha que à minha frente, um grupo de fãs cariocas. Atrás, algumas pessoas que se conheceram ali mesmo, sendo um do interior de São Paulo, outros dois de Criciúma/SC e outros de Curitiba.
Como se não bastasse a fila gigante, o sol encanou de dar sua graça e o calor batia fácil a casa dos 30ºC. Como é um estádio antigo, o Morumbi não foi tão bem planejado: não existe bares nem estacionamento como é no Mineirão, então o que se encontra são espaços improvisados que custavam a bagatela de R$ 200 para estacionar um veículo. Nestes espaços, foram utilizados cômodos que serviam de banheiro, ao preço de R$ 3. A garrafinha d?água era no tradicional ?uma por R$3, duas por R$5?, mesmo preço da cerveja ou do refrigerante. Além disso, capa de chuva e até sombrinha.
Os portões estavam programados para abrir às 16h, mas a produção resolveu antecipar em uma hora. Aí o esforço de pegar a fila às 8h30 da manhã começou a valer a pena. O palco do U2, que é mais alto que o estádio (50 metros), reserva um espaço para 4 mil pessoas dentro dele, onde fica a banda e umas passarelas. Os sortudos que ficam ali são os que chegam primeiro na fila. Como uma grata surpresa, consegui pegar um lugar neste espaço privilegiado entre os 90 mil lugares do estádio.
Às 20h subiu ao palco a banda Muse, um dos principais nomes do novo rock e que ainda engatinha para o sucesso no Brasil, já que em alguns lugares da Europa eles até rivalizam com o próprio U2. O calor do dia deu lugar a uma forte chuva durante o show dos britânicos, mas que cessou minutos antes do U2 entrar no palco. Talvez o termo ?Bono é Deus?, falado por boa parte dos fãs do U2, faça sentido mesmo.
Quando os irlandeses subiram ao palco, nenhuma gota de chuva. A banda desfilou hits dos 30 anos de carreira durante mais de 2 horas. A atual turnê não tem um Bono tão messiânico e falador como nas anteriores, o que é um ponto positivo. No entanto, alguns clichês estão lá, como convidar uma fã para subir no palco e ler um poema e mensagens por um mundo melhor no telão, em favor da Anistia Internacional. Sobrou espaço para homenagear as vítimas do massacre de Realengo, no final.
O palco é um show a parte. De fato, parece uma nave espacial. Com um cachê que beira os 7 milhões de dólares por noite, o U2 reverte boa parte disso na estrutura. Se a intenção deles é causar impacto, eles conseguem. Especialmente, quando se está a menos de 8 metros deles. Daí todos os esforços que precedem o show dão lugar ao sentimento de satisfação pessoal. Os perrengues passam a ser secundários e o show vira história para contar para os netos.

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