A aparente recuperação da economia brasileira, em 2017, não impede que as tradicionais contas de início de ano tenham reajustes salgados – como de hábito –, e, eventualmente, forcem a contratação de novos empréstimos pelas famílias. São os casos, por exemplo, do IPTU, que na capital terá alta de 2,94%, do preço das mensalidades escolares, com reajustes de 4% a 8%, e do material escolar, com elevação estimada em 8%.

Isso tudo sem falar em incertezas no horizonte, já que se avizinha um conturbado período eleitoral e o governo federal, com baixíssima aprovação, ainda precisa garantir reformas consideradas fundamentais à retomada econômica, como a da Previdência.

Para lidar com as despesas sem apertar o orçamento familiar, o segredo, segundo especialistas ouvidos pelo Hoje em Dia, não é complexo. “Não importa a faixa de renda das famílias e a época do ano: a melhor forma de lidar com as finanças do dia a dia é fazer um planejamento financeiro, sempre focado em metas”, resume o economista Guilherme Almeida, da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomercio).

“As pessoas precisam ter esse tipo de educação, que não é o mesmo que a educação formal. Saber somar o que entra, a renda, e subtrair o que sai, os gastos de diferentes naturezas, para planejar o orçamento de casa”, acrescenta o professor de economia do Ibmec, na capital, Felipe Leroy.

Os economistas lembram que 2017 chegou ao fim com números positivos na economia, sobretudo se comparados a indicadores colhidos a partir de 2013, quando uma nova crise, com graves contornos, teve início no país. Mais vendas – como no Natal, o melhor desde 2011 –, mais empregos, inflação reduzida, aquecimento do setor de serviços, reações no setor industrial e aumento da confiança de diferentes agentes econômicos, sobretudo na segunda metade o ano, delinearam boas perspectivas para 2018.

Mas, no caso das finanças pessoais, todo cuidado é pouco. Ainda mais em um país onde, segundo dados do Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), referentes a novembro último, seis em cada dez famílias estavam endividadas – 62,2%, ante 61,8% em outubro e 59,6% em novembro de 201 – e praticamente duas em cada dez vinham deixando de honrar seus compromissos – 25,8% em novembro, contra 26% em outubro e 24,4% em novembro de 2016.

Método usado por advogado evitou o fechamento de escola

Não é raro encontrar pessoas de diferentes setores e profissões que, por meio do planejamento financeiro familiar, mudaram suas vidas para melhor. O advogado e contador Sandro Borges, de 51 anos, que hoje é educador financeiro, conta que a revelação de que a organização das contas para concretizar sonhos poderia ser realidade em casa veio em 2013. “Minha esposa, dona de uma escola infantil no bairro Céu Azul, região Norte de Belo Horizonte, estava para fechar o estabelecimento, por problemas nas contas”, diz ele.

“Na época, conheci a educação financeira pela Internet. Em seguida, eu, minha mulher e nossas filhas, de 13 e 17 anos, nos reunimos e aplicamos a metodologia DSOP: diagnosticamos os problemas da casa e da escola, apontamos nossos sonhos, orçamos os recursos para atingi-los e conseguimos fazer reserva necessária. A escola continua funcionando e foi a primeira da cidade a ter aulas de educação financeira para crianças. Em casa, as finanças também estão bem equilibradas”, acrescenta.

Borges aconselha que qualquer família, não importa a faixa de renda, faça o mesmo para 2018.O importante é que se coloque renda e gastos no papel, que se fixe metas individuais ou coletivas e que se encontre recursos para elas. Por exemplo, é interessante usar parte do 13º para pagar dívidas e contas tradicionais de janeiro, claro, mas também é fundamental que se separe outra parte para sonhos que possam ser realizados”, explica Sandro.

A reumatologista Naila Tricia do Espírito Santo, professora universitária e também educadora financeira, adotou o mesmo método DSOP em 2009, quando um triste evento familiar (o falecimento do pai) bagunçou as finanças de casa. “Desde então, abri mão de três dos cinco empregos que tinha, passei a receber menos, mas também a trabalhar apenas com o que me dá prazer e a investir em meus sonhos”, afirma ela. Um desses sonhos realizou-se a partir de 2016: Naila tirou um ano sabático, desejado por muito tempo, no qual viajou por diversos países das Américas. E, capitalizada para atingir essa meta, não passou apertos financeiros. “Com um bom planejamento financeiro, tudo é possível”, assegura.

Consumidor deve avaliar se é vantajoso pagar IPTU e IPVA à vista

Uma dúvida comum de contribuintes neste início de ano é sobre o pagamento dos impostos obrigatórios (IPTU e IPVA): parcelados ou à vista. Especialistas dizem que, em razão da dimensão dos descontos, não há uma única reposta.

O IPTU de Belo Horizonte, por exemplo, terá desconto à vista, este ano, de 5%, ante 7% no ano passado. Se uma família paga R$ 100 pelo imposto, por exemplo, o desconto, de apenas R$ 5, talvez não seja tão vantajoso quanto o parcelamento em 12 vezes.

Já o IPVA de Minas Gerais, mais barato, em média, 3% em relação a 2017, tem desconto de 3% em parcela única ou pode ser dividido em três vezes, entre janeiro e março. A tentação de usar o 13º integral ou parcialmente, no caso de trabalhadores assalariados, para quitar essas contribuições de uma vez é grande, mas é preciso cautela. “O que é fundamental é avaliar qual modalidade de pagamento seria mais interessante para as famílias caso a caso, pensando na estratégia financeira para o ano”, diz o professor Felipe Leroy.

Ele compara o planejamento das finanças de uma casa ao processo de reeducação alimentar, substituto de dietas sacrificantes. “O fato é que não adianta ser radical. O ideal é cortar excessos e adotar um regime em que se possa emagrecer, claro, mas com saúde e felicidade, sem passar apertos”, diz o professor.

Para colher bons resultados nesse planejamento, o primeiro passo é reunir-se com a família ou outros companheiros de moradia e discutir despesas que sejam ou não essenciais e passíveis ou não de redução. Com lápis e papel em mãos – ou planilhas de computador e aplicativos gratuitos, oferecidos até pelos bancos –, a tarefa é relacionar a renda total da casa de um lado e, do outro, o que se gasta em um mês para mantê-la e satisfazer as necessidades de seus ocupantes: luz, água, alimentação, lazer, crediários etc.

Uma vez mapeado o que entra e o que sai, é hora de estudar as melhores formas de cortar o que não seja essencial, com o objetivo de pagar dívidas inadiáveis ou guardar recursos visando à realização de objetivos específicos, como uma viagem – sem esquecer de, sempre que possível, aplicar a sobra nas melhores opções de investimento possíveis.

“Muita gente diz que, no planejamento, deve-se fazer uma reserva de 30% da renda mensal. Mas cada família e pessoa têm perfis e conjunturas diferentes. Penso que, primeiro, é importante se preocupar em quitar compromissos urgentes, sem protelar. Aí, sim, pode-se concentrar nas metas”, defende o economista Guilherme Almeida.

 

Fonte: Hoje em Dia ||

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