Embalagens de alimentos deveriam mostrar quanto tempo de exercício é necessário para queimar as calorias contidas no produto, de acordo com pesquisadores do Reino Unido.

A ideia é que tais informações levem a uma maior consciência sobre escolhas alimentares por parte da população – por exemplo, saber que é preciso fazer quatro horas de caminhada para gastar as calorias de uma pizza, ou ainda 22 minutos de corrida para dar conta de uma barra de chocolate.

A presença desse tipo de dado nos rótulos ajudaria consumidores a não cometerem exageros, indicam estudos.

O objetivo seria encorajar hábitos alimentares mais saudáveis para combater a obesidade.

Segundo os especialistas da Universidade de Loughborough, que se debruçaram sobre 14 estudos, rótulos nesses moldes poderiam diminuir em cerca de 200 calorias a ingestão média diária das pessoas.

Pode não parecer muito, mas os responsáveis pela pesquisa afirmam, em artigo do Journal of Epidemiology and Community Health, que isso teria um impacto significativo nos níveis de obesidade.

De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil, esses níveis chamam a atenção: a obesidade atinge um em cada cinco brasileiros.

“Nós estamos interessados em formas diferentes de fazer com que a população tome boas decisões sobre o que come e também tentando tornar esse público mais fisicamente ativo”, disse a professora Amanda Daley, principal responsável pela análise.

Rotular os alimentos faria com que as pessoas entendessem mais facilmente o que estão consumindo e as encorajaria a tomar decisões melhores.

Sobre calorias

  • O tanto de energia contido em um alimento ou bebida é medido em calorias (kcal);
  • Nosso corpo precisa delas para funcionar;
  • Mas consumi-las em excesso, sem queimá-las, leva à obesidade;
  • Comer demais todos os dias faz com que esse excesso seja armazenado pelo corpo como gordura;
  • Homens precisam, em média, de 2.500 kcal por dia e mulheres, de 2.000 kcal.

Para saber quantas calorias determinada atividade consome, basta aplicar uma fórmula simples.

Deve-se multiplicar o peso (em quilos) do indivíduo, pelo tempo (em horas) de atividade física e pelo MET, o chamado equivalente metabólico da tarefa.

O resultado deve ser comparado ao número de calorias de um prato determinado.

Imagine a seguinte situação: uma mulher que tenha sobrepeso, marcando 80 quilos na balança, decide andar de bicicleta (atividade cujo MET equivale a 10) por uma hora. Como resultado, seu gasto calórico será de 800 kcal.

O valor pode ser, então, comparado aos alimentos consumidos. Pensando na ceia de Natal, por exemplo, 100 gramas de peru correspondem a 163 kcal, de acordo com a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Adicionar uma porção similar de arroz integral somaria 124 kcal à conta.

Se, para a sobremesa, a opção for chocolate ao leite, lá se vão 540 kcal, também pela porção de 100 gramas. Só com esses três itens, o valor total consumido já ultrapassou em 27 kcal o gasto calórico da hora de exercício.

‘O bolo de chocolate vale a pena?’

Daley afirma que muitas pessoas ficariam chocadas ao perceber de quanta atividade física precisariam para queimar calorias de certas guloseimas.

“Nós sabemos que a população costuma subestimar o número de calorias contido nas comidas”, afirma.

“Se você compra um muffin de chocolate e ele contém 500 calorias, por exemplo, isso equivaleria a 50 minutos de corrida”

A professora explica que não se trata de modelar dietas. “É educar o público sobre como, ao consumir alimentos, existe um custo em termos de energia, para que eles pensem ‘eu realmente quero passar duas horas queimando as calorias desse bolo de chocolate? O bolo de chocolate vale a pena?’.”

A Royal Society for Public Health declarou apoio à inclusão dessas informações nos rótulos e acredita que a exigência teria apoio da maioria da população.

“Esse tipo de rotulagem realmente coloca o consumo calórico individual contextualizado com o gasto de energia”, declarou a entidade.

“Pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença no consumo de calorias e, em última análise, no ganho de peso.”

A professora Daley espera que alguma rede ou empresa de alimentos esteja disposta a testar embalagens do tipo em seus produtos, para que o sistema possa ser avaliado na “vida real”.

Entretanto, há quem faça ressalvas ao modelo.

Tom Quinn, da organização de caridade Beat, que lida com transtornos alimentares é um deles. “Ainda que nós reconheçamos a importância de reduzir a obesidade, rotular alimentos dessa forma pode ser um gatilho terrível para aqueles que sofrem ou estão vulneráveis a transtornos alimentares.”

“Nós sabemos que muitas pessoas com transtornos alimentares acabam fazendo exercício de forma compulsiva, então dizer exatamente o tempo de exercício necessário para queimar calorias pode agravar esses sintomas.”

 

Fonte: BBC News ||
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