Um em cada três remédios gratuitos e de uso contínuo oferecidos na Farmácia de Minas está em falta nas unidades regionais. O desabastecimento afeta pacientes que passaram por transplantes de órgãos e que fazem o controle de doenças crônicas. A situação pode colocar em risco a vida dessas pessoas.

A escassez foi denunciada pelo Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte (CMS-BH) e confirmada pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Dos 217 medicamentos distribuídos, faltam 74. O estoque de outros 23, segundo a pasta, está “parcialmente abastecido”. O número de doentes afetados não foi informado.

Uma das situações que mais preocupa é a dos transplantados, que necessitam dos chamados imunossupressores para evitar que o organismo rejeite o órgão doado. Segundo o CMS-BH, cerca de dez remédios estão com o estoque zerado.

Um terço dos remédios gratuitos está em falta nas unidades regionais. Estado diz que a situação é tratada com “prioridade extrema”

 Sem a oferta na rede pública, muitos são obrigados a desembolsar quantias consideráveis para não prejudicar o tratamento. Nas drogarias, há remédios que podem custar mais de R$2 mil.

O servidor público Geraldo Magela, de 61 anos, precisou pagar R$900 por um imunossupressor ao perceber que ele não estava disponível nas unidades do Estado.

“Tive que bater perna e fui localizar apenas na região Norte de BH”, conta ele, que começou a tomar a medicação no fim de 2012, após receber um transplante de rim. Segundo Magela, a procura foi “angustiante”.

A mesma preocupação é vivida pelo lavrador José de Araújo, de 56 anos, que enfrenta cerca de duas horas de Curvelo, na região Central de Minas, a Belo Horizonte.

O remédio de que faz uso, devido a um transplante no coração em 2006, é o Tacrolimo. Ontem, o deslocamento foi em vão. “Venho quantas vezes for necessário para buscar os remédios aqui. Sofro prejuízo, mas quero viver”.

Risco
Para a nefrologista Sandra Vilaça, que também coordena a unidade de transplantes do Hospital Felício Rocho, a ausência dos imunossupressores é preocupante.

“Essas pessoas não podem ficar sem a medicação porque dependem que o órgão recebido esteja viável. Se não tomarem o remédio, o órgão poderá ser rejeitado pelo corpo”, explica. “Dois ou três dias sem a medicação pode ser tempo demais”.

Em nota, a SES-MG atribui o problema “à pendência financeira do Estado junto aos fornecedores, cuja dívida foi herdada do governo anterior”. Conforme a pasta, a situação é tratada com “prioridade extrema” e uma análise da Saúde em Minas está em andamento. “Estão sendo implementadas ações prioritárias para a regularização dos pagamentos junto aos fornecedores e consequente reversão da situação instalada”, afirmou.

Ainda segundo a pasta, “tão logo ocorra a entrega dos itens em nosso almoxarifado, autorizaremos a distribuição a todas unidades de saúde do Estado”. Sobre o Tacrolimo, citado pela reportagem, afirmou que a medicação já está no almoxarifado, que irá distribuí-lo às unidades regionais.

Também por nota, o Ministério da Saúde confirmou o envio de remessa do Tacrolimo. Conforme a pasta, a responsabilidade da entrega do medicamento às unidades dispensadoras municipais é das secretarias estaduais.

 

 

Fonte: Hoje em Dia ||

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