As organizações não governamentais (ONGs) de assistência social não acompanham a distribuição da pobreza no país, aponta estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Das 30,4 mil entidades que atendem aos grupos mais vulneráveis da população, 76,6% estão no Sul e no Sudeste, as regiões mais ricas. Norte e Nordeste têm apenas 17,2% das instituições.
Para a diretora executiva da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), Vera Masagão, isso ocorre por dificuldades de financiamento. As associações comunitárias, e de defesa do direito, estão presentes no Nordeste. São pequenas, contam com o trabalho de militantes e voluntários. Prestar serviço de assistência social envolve continuidade, funcionários, recursos contínuos. Ou se tem apoio governamental ou não se consegue manter esse trabalho. E o apoio governamental tem diminuído, afirma.
A socióloga Anna Maria Medeiros Peliano, pesquisadora do Ipea, lembra que essas instituições também atuam com moradores de rua, adolescentes em risco, exploração sexual, problemas frequentes nas metrópoles. Tem que olhar com certo cuidado (o dado) porque há ideia de que assistência social é restrita à pobreza, mas extrapola para outras questões.
A pesquisa mostra que 2,1 milhões de pessoas trabalham nas 290,7 mil organizações que se enquadram nos critérios de definição das Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos (Fasfil): não são estatais, nem têm fins lucrativos, são legalmente constituídas, voluntárias e autoadministradas.
A mão de obra feminina é predominância na força de trabalho das organizações – são 62,9% de mulheres, ante 37,1% de homens. Elas chegam a ocupar 86% dos postos de trabalho na educação infantil, 73,5% das vagas na área da saúde e 71,7% na assistência social.É um caminho alternativo à política tradicional, que ainda é domínio do homem. Elas expressam interesse em cuidar das pessoas, em se envolver, por isso a maior adesão das mulheres, afirma Vera.
O levantamento mostra ainda que uma em cada três pessoas empregadas em instituições sem fins lucrativos tem nível superior completo. Nos demais segmentos da economia acompanhados pelo IBGE, a proporção é de uma em cada seis. Foi uma surpresa. É bem acima do que se observa em outros setores, afirma Anna Maria.
As instituições ligadas à educação e pesquisa têm a maior proporção de profissionais com curso superior (56,3%), bem acima da média nacional, de 16,6%. Na educação infantil, o percentual cai para 31,8%.
Quase um terço é voltado para religião
Quase um terço das fundações privadas e das associações sem fins lucrativos é religioso (28,3%), seguido de associações patronais e profissionais (15,5%) e de desenvolvimento e defesa de direitos (14,6%). As entidades de meio ambiente e proteção animal correspondem a menos de 1% das instituições. Existem 2.242 associações e fundações com esse perfil ? 60% delas, criadas na última década.
Entre 2006 e 2010, houve crescimento de 8,8% das fundações privadas e associações sem fins lucrativos no Brasil, expansão significativamente menor do que a observada no período de 2002 a 2005 (22,6%). Em números absolutos, o maior crescimento foi o das entidades religiosas, o que significou a criação de 11,2 mil entidades ou quase a metade (47,8%) do total das 23,4 mil criadas no período. Do total das instituições, 40,8% surgiram na última década, mas empregam apenas 18,5% da mão de obra.

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