Preocupados com a possibilidade de meninas e mulheres se sentirem excessivamente pressionadas a corresponder às imagens presentes nas revistas de beleza, submetidas a procedimentos digitais e lipoaspiração, legisladores britânicos e franceses tentam obrigar publicitários a serem mais realistas.
Segundo as propostas desses legisladores, anúncios contendo fotos alteradas de modelos seriam obrigados a trazer mensagens revelando o emprego de efeitos digitais.
Quando adolescentes e mulheres olham para tais fotos nas revistas, elas acabam se sentindo infelizes consigo mesmas, disse Jo Swinson, parlamentar britânica do Partido Liberal Democrata. Os liberais democratas – terceiro maior partido da Grã-Bretanha, depois de trabalhistas e conservadores – adotaram este mês a proposta de Jo, que prevê um sistema de rótulos, como parte de sua plataforma oficial.
O partido quer banir completamente as fotos alteradas em anúncios destinados a crianças com menos de 16 anos.
Na semana passada, a legisladora francesa Valerie Boyer, do partido do presidente Nicolas Sarkozy, apresentou uma medida parecida na Assembleia Nacional, a câmara inferior do parlamento. Ela argumentou que as imagens alteradas estavam prejudicando a capacidade das jovens mulheres de controlar seus próprios destinos. Essas fotos podem levar as pessoas a acreditarem em realidades que, com frequência, não existem, disse ela.
Na França, onde os cartazes e anúncios nas farmácias beiram a obscenidade, é cada vez maior a preocupação com os distúrbios alimentares, e muitas jovens mulheres se mostram obcecadas pela magreza. Valerie foi a grande defensora de uma lei que previa a proibição de páginas na internet que pareciam encorajar a anorexia e a bulimia. Mas tal proposta perdeu força depois de ser aprovada pela Assembleia Nacional no ano passado.
Na sua tentativa de livrar a mídia de imagens enganadoras, Valerie quer ir ainda mais longe do que os liberais democratas britânicos.
A lei proposta por ela exigiria rótulos de alerta acompanhando as fotos retocadas, tanto as publicadas em conteúdo editorial quanto as que fazem parte de anúncios. Os infratores poderiam enfrentar multas de 37,5 mil, ou quase US$ 55 mil, o equivalente a até 50% do custo de uma peça publicitária.
Apesar de considerada em muitas redações como eticamente ambígua, a manipulação digital de fotos foi verificada em alguns casos de destaque na mídia francesa. Em 2007, por exemplo, a revista Paris Match, dotada de boas relações políticas, publicou uma foto de Sarkozy passeando de canoa durante as férias em New Hampshire na qual a cintura avantajada do presidente foi digitalmente retirada da imagem. Uma revista concorrente revelou o embuste, publicando cópias da foto antes e depois da manipulação.
Nem todos os retoques são tão flagrantes. Mas pequenas melhorias – um pouco de correção de cores ou alisamento de texturas, por exemplo – são amplamente empregadas mesmo nas fotos das agências de notícias, disse Derek Hudson, fotógrafo residente em Paris, apesar de ele ter acrescentado que criaria caso se um editor aplicasse o procedimento a uma foto de sua autoria.
Nas revistas de beleza, é claro, os retoques são a regra. Nunca vi, e duvido que alguém um dia veja, uma foto de moda ou beleza que não tenha sido retocada, disse Hudson.
Com a ilusão à espreita em tantos lugares, o fotógrafo afirmou não acreditar que coibir as alterações possa produzir o efeito desejado. Infelizmente, vivemos em um mundo retocado, disse ele.

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