A origem da dificuldade de aprendizado e de concentração, vivida por várias crianças no início da fase escolar, pode estar no período no qual elas ainda estavam na barriga das mães. Após comprovarem que a falta da tiamina – a vitamina B1 – em animais grávidos causou uma série de danos para os filhotes, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tentam agora avaliar quais problemas ocorrem com os humanos.
A gente viu que, em ratos, o déficit de vitamina B1 nas mães afeta o desenvolvimento cerebral da prole. Será que com seres humanos isso ocorre também? Ninguém sabe, mas é bem provável, avalia a bióloga Danielle Marra Azevedo, que está concluindo um projeto de doutorado sobre o assunto na UFMG.
As conclusões da pesquisa, que ela vai apresentar em 14 de outubro, são de que os circuitos cerebrais dos ratos filhos de mães com ausência de tiamina são alterados. A gente avaliou o aprendizado e a memória e vimos que eles aprendem e lembram menos que os vindos de mães saudáveis, explicou.
Outra pesquisa, também realizada na UFMG, mostra que não só a memória é afetada pela falta da vitamina. Vimos que esse déficit pode trazer para a prole distúrbio motor e fraqueza muscular. A criança pode perder a coordenação motora e o equilíbrio, explica a coordenadora da pesquisa e professora do Laboratório de Neurociência Comportamental e Molecular (Lanec), do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, Ângela Maria Ribeiro. Ela conta que, em muitos casos, essas deficiências podem passar despercebidas na fase adulta. Depende do nível da deficiência. Mas há casos em que a diferença não é tão grande, explica.
Agora, o médico e professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Fernando Vilhena Dias está tentando avançar nessas pesquisas, buscando avaliar o que ocorre com os seres humanos.
Também coordenado por Ângela, ele está começando uma tese de doutorado com esse tema. Vamos fazer a pesquisa na zona rural de Conceição de Mato Dentro (Alto Jequitinhonha) porque é uma região com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Vamos avaliar as taxas de B1 consumidas pelas grávidas daqui e ver o que ocorre com as crianças. Como a região é mais pobre, vamos analisar também se elas têm mais dificuldade de acesso à saúde, explica o especialista.

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