Parece cena de filme sobre a dura realidade do sertão nordestino, mas uma família natural da cidade de Janaúba, no norte de Minas, terra também castigada pela seca, veio para Formiga no início deste mês fugindo da pobreza e em busca de melhores condições de vida.
João Carlos Ferreira, sua mulher, Marineide Aparecida Fernandes, grávida de seis meses, e o filho do casal de apenas um ano e meio, estão, temporariamente, alojados em uma sala no Terminal Rodoviário.
As necessidades que o casal vem passando viraram assunto divulgado no Facebook, que se transformou em uma corrente de solidariedade e de pedidos de ajuda para a família carente, que ainda enfrenta outra dificuldade, pois a mulher tem uma perna amputada, devido a um acidente que sofreu em 2010, e fica complicado ela se deslocar de um lugar para outro e, inclusive, de arrumar emprego.
A reportagem do jornal Nova Imprensa e do portal Últimas Notícias esteve com o casal, que contou as dificuldades enfrentadas e o preconceito. A mulher também agradeceu aos motoristas de ônibus e funcionários das lojas existentes no Terminal Rodoviário por alimentarem sua família.
?Não tenho como agradecer a essas pessoas que se sensibilizaram com a nossa situação. Pessoas da Prefeitura estiveram aqui, [na quarta-feira] mas preocupados se a carteira de vacinação do meu filho estava regularizada, com essa parte burocrática. Estão preocupados, mas era com coisa errada, se a criança estava sendo maltratada. Dormimos do lado de fora da Rodoviária, ao relento. Fomos atrás deles [Prefeitura], vieram aqui, uns querendo ajudar, outros condenando?.
A reportagem deu a notícia ao casal de que o prefeito Aluísio Veloso cedeu um terreno para que seja construída uma residência para eles. O prefeito se comprometeu ainda em oferecer um engenheiro da Prefeitura para realizar a parte do projeto e outras burocracias. ?Agradeço ao prefeito, pois não sabia disso e estou sem palavras. Ainda há pessoas de coração que ajudam ao próximo?, disse Marineide Fernandes.
Várias doações já foram feitas à família, que recebeu materiais e objetos para a construção da casa, como piso, vaso sanitário, cal, brita, blocos, lavatório, dentre outros. No momento em que a reportagem esteve no local, outras pessoas chegaram com doações. A senhora Marinha das Neves Leal, que mora na comunidade rural de Sobradinho, no município de Pains, pegou o ônibus e veio até Formiga para também fazer a sua doação e visitar a família.
?As pessoas se sensibilizaram conosco, foram para a internet e para a rádio. Somos muito gratos. O apoio ao deficiente é muito difícil, ele é esquecido pela sociedade. Existe um preconceito, e eu tenho que enfrentar os meus direitos que quando eu preciso, eles não são atendidos. Isso para mim é muito difícil, porque eu sou mal vista como uma aleijada pelo público e uma pessoa nessas condições pedir ajuda, é mais difícil ainda. Antes do acidente eu era perfeita. Trabalhava na limpeza da Prefeitura de minha cidade?, desabafou emocionada Marineide Fernandes.
A mulher contou que a funcionária da Asadef, de nome Matilde, e o Luciano do Trailer a informaram sobre a possibilidade de receber o Benefício de Prestação Continuada (BPC), direito que ela conquistou durante os anos de trabalho. ?Fomos ao INPS e descobrimos que eu tenho esse direito, só que é a minha mãe é que está recebendo desde maio deste ano. É ela que está com o cartão. Já estamos com um advogado para regularizar essa situação. Eu tenho direito a esta indenização pelo tempo que eu trabalhei. O valor é de R$700. Agradeço muitos aos dois por isso?, disse.
Ainda de acordo com Marineide Fernandes, uma assistente social levou o casal para ver uma residência, mas o local não oferece condições para uma pessoa deficiente e para uma criança. ?O deficiente tem que ter o espaço dele dentro da casa. Lá o corredor é muito escorregadio. Lá teríamos que pagar um aluguel no valor de R$250.?
João Carlos disse que as pessoas o olham como um mendigo, mas que um emprego já está em vista para ele. ?Eu vou tirar a segunda via da Carteira de Trabalho. Já trabalhei de servente de pedreiro, armador de ferragens, carvoeiro e tenho vontade de te uma profissão com carteira, ganhar uma classificação dessas. Me ofereceram também um curso de eletricista. Tenho fé em Deus que eu vou conseguir, o que falta é uma oportunidade?, explicou.
O casal falou ainda sobre as condições de vida no Norte de Minas. ?Lá quem tem dinheiro tem. Trabalhamos em lavouras e muitos vêm para cá em busca de melhores condições. Lá a pessoa trabalha para comer?.
Em entrevista ao jornal, a coordenadora do Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas), Marisa Lopes, explicou que a família passou por várias cidades da região, como Ibiá, São João Del Rei, Piumhi, trabalhando em lavouras de café. ?Estavam trabalhando na colheita, fugindo da pobreza lá de Janaúba e acabaram chegando aqui em Formiga. Eles procuraram a Secretaria de Desenvolvimento Humano, e, em seguida, foram encaminhados para o Creas, pois é aqui que agrega a população de rua. Achamos que eram migrantes e que estavam só de passagem , mas não, eles querem morar aqui em Formiga. Eles estão lá [no Terminal Rodoviário] até conseguirmos uma casa para eles. Solicitamos ajuda de todos. Podem levar os donativos lá mesmo?, disse.
A construção de uma casa de apoio ao migrante em Formiga é um dos temas sempre discutidos nas reuniões da Câmara Municipal e cobrados pela população formiguense.
A falta de segurança no Terminal Rodoviário é outro assunto bastante polêmico e criticado em Formiga. Na madrugada de quarta-feira (17), a lanchonete no Terminal Rodoviário foi furtada. Umas das proprietárias contou que ainda falta segurança no local. De acordo com ela, na noite do furto, o vigia passou mal e foi embora para casa.

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