Nesta sexta-feira (6), o mundo relembra a catástrofe ocorrida há 65 anos na cidade japonesa de Hiroshima. Em 6 de agosto de 1945, pela primeira vez na história, uma bomba atômica foi lançada sobre uma cidade e contra uma população civil, matando cerca de 150 mil pessoas. Três dias depois, outra bomba era lançada sobre Nagasaki, aniquilando outras 70 mil vidas. O horror causado pela catástrofe, promovida pelos Estados Unidos, não foi o suficiente para afastar a ameaça de a tragédia se repetir. Ao contrário, o que se seguiu foi uma corrida nuclear que repercute até hoje.
Os apelos por um planeta sem armas nucleares voltou à tona quando o presidente dos EUA, Barack Obama, lançou a ideia em um discurso em Praga, em abril de 2009. Nesta quinta-feira (5), foi a vez de o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon reiterar a proposta, defendida por vários países. Em Nagasaki, no mesmo local da explosão, Ban declarou que ?a única maneira de assegurar de que tais armas jamais voltarão a ser utilizadas é eliminá-las todas?. Os EUA, a França e Grã-Bretanha, detentores de arsenais nucleares, pela primeira vez, vão enviar representantes para as cerimônias em memória da tragédia e das vítimas, como maneira de demonstrar apoio aos esforços para reduzir esse tipo de armamento.
Apesar das frases de efeito e das boas intenções declaradas, fantasmas de conflitos nucleares ainda assombram. Atualmente, além de EUA, França, Grã-Bretanha, Rússia e China, os primeiros a desenvolver a bomba atômica, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte também detêm a arma de destruição em massa. Os constantes atritos do Ocidente com a Coreia do Norte, a tensão entre Índia e Paquistão, a escalada de ameaças entre Israel e seus vizinhos no Oriente Médio e o polêmico programa nuclear do Irã, infelizmente, assombram a paz mundial. Apesar dos discursos e de alguns avanços para reduzir os arsenais nucleares, a possibilidade de eliminação completa das bombas atômicas é, por enquanto, um projeto utópico. É muito pouco provável que os detentores de tal poderio abram mão de sua superioridade militar.

Escalada
Os discursos belicistas surgem de tempos em tempos e, hoje, há dois principais focos de tensão, que podem provocar a detonação de um conflito nuclear. O primeiro é a Coreia do Norte, que ameaça com frequência o vizinho do Sul, apoiado pelos Estados Unidos. Os dois lados têm Exércitos poderosos e, embora a Coreia do Sul não detenha arsenal atômico, a forte aliança com os EUA garante que a escalada poderia causar outra catástrofe. A segunda e mais premente é o possível confronto entre Israel e o Irã. O primeiro, apesar de não assumir que detenha bombas nucleares, tem um arsenal estimado em pelo menos 80 ogivas. O Irã, por sua vez, desenvolve um programa nuclear controverso e é acusado de buscar desenvolver sua própria bomba atômica.
Um ataque israelense contra o Irã, para impedir que a República islâmica desenvolva a arma nuclear, é sempre cogitado. Na quinta-feira (5), o assunto voltou à tona por causa de uma carta, enviada ao presidente Barack Obama. O grupo Profissionais Veteranos da Inteligência pela Sanidade (Vips) alerta ?para a probabilidade de que Israel vá atacar o Irã tão cedo quanto neste mês?, acrescentando que a ofensiva provavelmente levaria a uma guerra mais ampla. A carta diz ao presidente que isso pode ser detido, mas somente se você agir rapidamente para prevenir um ataque israelense com uma condenação pública dessa medida antes que ela ocorra.
A carta é assinada por Phil Girardi, que foi da Diretoria de Operações da CIA (agência de inteligência dos EUA) por 20 anos; Larry Johnson, da Diretoria de Inteligência da CIA e consultor dos Departamentos de Estado e de Defesa por 24 anos; W. Patrick Lang, coronel reformado das Forças Especiais e ex-funcionário da Agência de Inteligência da Defesa; Ray McGovern, que foi da Inteligência do Exército e da diretoria de Inteligência da CIA; Coleen Rowley, ex-agente especial e conselheira do FBI; e Ann Wright, coronel reformada do Exército e ex-funcionária do Departamento de Estado. O grupo foi formado no começo de 2003, com o objetivo de denunciar as distorções que o governo do então presidente George W. Bush fazia das análises dos serviços de inteligência norte-americanos para justificar a invasão do Iraque.

Distensão
No entanto, segundo os integrantes do grupo, mais do que impedir que o Irã desenvolva a bomba, Israel pretende forçar a queda do regime islâmico. A pressa se justificaria porque, nas últimas semanas, alguns sinais de distensão com relação ao Irã foram dados em diferentes esferas. De acordo com o Vips, Israel pretende atacar antes que esse processo de diálogo ocorra.
O texto da carta diz: ?O anúncio, na semana passada, de que funcionários dos EUA vão se reunir com contrapartes iranianas no próximo mês para retomar conversações sobre maneiras de arranjar um enriquecimento maior do urânio levemente enriquecido do Irã para o reator de pesquisas médicas de Teerã foi bem-vindo por todos, menos para os líderes de Israel.
Além disso, o Irã estaria preparado para deter o enriquecimento em 20% (o nível necessário para o reator de pesquisas médicas).? Para os autores da carta, um acordo enfraqueceria grandemente o argumento mais assustador de Israel para atacar o Irã e, por isso, cresce o incentivo em Telavive para que os israelenses ataquem antes que tal acordo seja alcançado?.
Na quinta-feira (5), Obama disse que continua disposto a conversar com o Irã a respeito de seu programa nuclear e sobre as sanções internacionais se Teerã seguir um conjunto claro de medidas. Segundo a matéria do Washington Post, Obama deixou aberta a possibilidade de os Estados Unidos aceitarem um acordo que permita ao Irã manter seu programa nuclear civil, contanto que Teerã forneça medidas de construção de confiança, que permitam verificar que o país não está construindo uma bomba. Os comentários de Obama reforçam a tese de que Israel pretende se antecipar ao movimento de aproximação entre os EUA e o Irã.

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