Rosana Aparecida Urbano, de 57 anos, foi a primeira pessoa a morrer por conta do coronavírus no Brasil, segundo informou o Ministério da Saúde em junho. E, segundo conta sua filha, Thaís Aparecida da Silva, após a morte da mãe, em 12 de março, o avó, o avô, um tio e uma tia dela também morreram depois de contrair a Covid-19.


“Eu perdi a minha mãe no dia 12 [março], logo após a minha avó, em seguida o meu tio, depois o meu avô e por último minha tia, tudo em um período de 40, 50 dias e todos com Covid. O meu avô, quando descobriu que a minha mãe e minha avó tinham falecido, ele ficou muito mal, ele já não comia, não conversava mais. Então, acho que ele se entregou de uma certa forma”, contou Thaís. O avô tinha 93 anos.


“Não são cem mil mortos, são irmãs, mães, tios, pais. Minha mãe era aquela que largava tudo para ajudar o próximo, ela não media esforços. Ela sempre cuidou muito bem do meu irmão, com amor e dedicação que eu nunca vi nada vida. Acho que minha mãe é um exemplo de mãe e guerreira. Ela se foi, mas cumpriu o papel dela aqui”, disse.


Sem despedida
Thaís conta que recebeu mensagens da mãe no dia em que ela morreu, mas não teve tempo de se despedir da vítima após ela ser internada.


“No dia 12 [março], às 5h, ela começou a mandar mensagens perguntando se eu ia [no hospital], mas a voz dela já estava muito embargada, com muita falta de ar, ela não conseguia comer e estava com a máscara de oxigênio, já estava debilitada quando avisaram que ela seria entubada. Quando eu consegui conversar com o médico, às 16h, minha mãe já estava muito ruim, a saturação estava muito baixa. Mas não deu tempo [de vê-la], às 19h15 minha mãe teve três paradas respiratórias”, contou.


Rosana foi internada no Hospital Municipal Doutor Carmino Cariccio, na Zona Leste de São Paulo, no dia 11 de março e morreu um dia depois, mas a confirmação de que ela tinha sido infectada pelo vírus só aconteceu no dia 30 de abril. Antes disso, foi anunciado que a primeira morte causada pela infecção foi de um homem, de 62 anos. Com a atualização das notificações dos óbitos, o Ministério da Saúde passou a considerar a Rosana como a primeira vítima.


Diagnóstico tardio
A família não sabe onde Rosana foi infectada, mas diz que ela era ativa e usava bastante o transporte público. “Ela fez a ficha para entrar no hospital pra visitar minha avô e a diabetes dele estava alta, fez o processo de medicação, ela começou a reclamar de falta de ar, tomou medicações e não melhorava, então fizeram a tomografia e deu que o pulmão dela estava bem delicado, bem afetado”, disse a filha da vítima.


Sem o diagnóstico da doença, a família conta que se expôs ao vírus, o que pode ter contribuído para a transmissão do vírus para mais quatro parentes da primeira vítima. “Eu fiquei sabendo do resultado faz poucos dias do resultado positivo da minha mãe para Covid. Até então, no atestado de óbito está insuficiência respiratória e diabetes. Foi tudo muito impactante, porque nós não tínhamos a confirmação. A gente não estava preparado, a gente não trocou os devidos cuidados. Eu e meu padrasto que trocamos a minha mãe, eu peguei minha mãe no colo em vida para colocar na maca”, contou.

Primeira morte no Brasil
Além de Rosana, outra morte também foi adicionada antes do primeiro registro, em 15 de março.


O Ministério da Saúde explicou que pode haver “eventuais divergências” nas contagens de mortes por conta do tempo que se leva para confirmar e registrar cada caso no Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe).


“Como informado no boletim epidemiológico 19, existiam 3.972 óbitos em investigação, que podem ser confirmados por Covid-19, Influenza ou outros vírus e agentes etiológicos”, diz a nota. “Na medida em que os resultados são disponibilizados pelos laboratórios e as equipes de vigilância epidemiológica atualizam o SIVEP Gripe, as informações são atualizadas a nível nacional.”


A Secretaria de Saúde de São Paulo, onde ocorreu a morte do dia 12 de março, disse que “esse tipo de atualização é natural, desejável e ocorre com qualquer patologia” e que é “fundamental compreender que é rotina e obrigação das Vigilâncias municipais e estaduais investigar casos e óbitos suspeitos da Covid-19 bem como atualizar nos sistemas oficiais de notificação (E-SUS e SIVEP) eventuais informações identificadas no decorrer do processo de investigação e registradas à posteriori nos bancos.”


A secretaria afirma que “houve atualização no SIVEP quanto a confirmação de cinco óbitos que ocorreram nos dias 12, 15 e 16 de março, sendo três nesta última data” mas que, apesar disso, contabiliza ainda o primeiro óbito no dia 17 de março, assim como faz o ministério. “Em seu site oficial, o Ministério da Saúde também divulga o primeiro óbito com data de notificação de 17 de março de 2020”, completou a secretaria.

Fonte: G1

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