Em tempos de internet e “oversharing” (compartilhamento excessivo), os pais de crianças e adolescentes já sabem – ou deveriam saber – que nem todas as fotos dos filhos podem ou devem ser amplamente compartilhadas na internet. E, nessa seara, as escolas também têm um papel importante na garantia da segurança das crianças.

Em seus perfis nas redes sociais, as instituições postam fotos das atividades do dia a dia da criançada: aulas de educação física, feiras de ciências, excursões. Mas pode haver um problema quando essas fotos mostram as crianças em atividades que as expõem mais, como banho de mangueira ou dia de piscina.

Grande parte das escolas possui termo de direito de uso de imagens das crianças assinado pelos pais. Mesmo assim, esse documento não dá direito de postar qualquer foto em qualquer mídia. “A escola pode postar fotos da criança dentro das atividades da própria instituição, nas quais ela esteja com os trajes ideais e que não causem constrangimento infantil”, orienta o advogado Luis Felipe da Silva Freire, presidente da Comissão de Direito Eletrônico da OAB em Minas Gerais. Para contornar isso, ele sugere a criação de grupos no WhatsApp para compartilhamento das imagens com os pais ou a implantação de sistemas de acesso com login e senha restritos à comunidade escolar e dos responsáveis.

Para Fábia Lima, professora do curso de relações públicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mais do que judicialmente, esse assunto deve ser encarado de forma ampla. “A questão precisa ser debatida e discutida entre todos, porque estamos falando de temas que hoje estão muito presentes, como a exposição dos corpos das crianças, de pedofilia, de segurança”, afirma. A professora lembra ainda que, quando se publica uma foto nas redes sociais, “ela vai ser significada por outros sujeitos em outros contextos”. “Há um descontrole do significado dessa foto”, alerta ela.

Contraponto

Na Escola da Serra, uma situação recente gerou polêmica. Nas fotos de um evento anual em que os alunos vão com suas famílias passar o dia em um sítio com piscina, várias crianças apareciam em trajes de banho. Houve reclamação de pais sobre a exposição de seus filhos, mas a escola não vê as fotos como algo problemático.

“Acreditamos que deve haver bom senso e equilíbrio para saber o que é normal em uma atividade da programação escolar. Sabemos que o mundo está cheio de perigos, mas acreditamos que há de haver um equilíbrio, senão você acaba criando um mundo em que a criança fica refém de uma sociedade paranoica”, defende Marco Sbicego, assessor da escola e responsável pelas postagens no Facebook.

Dica é não contextualizar nem “marcar” alunos

Além do conteúdo das fotos em si, outros cuidados devem ser tomados para não expor os alunos. “Nós nunca marcamos as crianças nas fotos. E, mesmo se elas quiserem se marcar, não conseguem, pois as marcações devem ser aprovadas pelo administrador da página”, explica Marco Sbicego, responsável pela comunicação da Escola da Serra. Muitas vezes, segundo ele, são os próprios pais que demandam que as fotos de seus filhos sejam postadas nas redes sociais da escola.

“Não podemos dizer que o problema é a ferramenta. A discussão maior é da ressignificação das imagens: não sabemos nas mãos de quem vai cair. É aí que mora o perigo”, alerta a professora Fábia Lima, da UFMG.

Em casa, também não pode haver descuido. Continuam valendo as dicas de não postar informações pessoais, fotos por meio das quais seja possível identificar a rotina da criança e, acima de tudo, não deixar esses conteúdos públicos nas redes sociais.

 

Fonte: O Tempo Online ||

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