Representantes de várias entidades e órgãos públicos se reuniram na quarta-feira (4), no campus do Unifor-MG, com o objetivo de darem andamento às atividades iniciadas por um grupo criado para debater um dos principais problemas que tem preocupado as autoridades públicas e a população de modo geral: a falta de água.
O grupo é coordenado pelo Ministério Público, por meio da Curadoria de Meio Ambiente. Esse foi o segundo encontro da equipe e teve como tema ?Análise e discussão sobre a crise hídrica e ambiental de Formiga?.
A reunião teve início às 9h, com um café de confraternização. O reitor do Unifor-MG, Marco Antonio de Sousa Leão, deu início ao encontro com as boas-vindas aos participantes, também explicou as razões de estarem reunidos e apresentou a pauta do dia.

?Nós tivemos uma reunião, com várias entidades e com o Ministério Público, com a Promotoria do Meio Ambiente, três semanas atrás, e resolvemos reunir um grupo de entidades da região, principalmente das instituições que cuidam das questões de água, do meio ambiente, para trabalhar um projeto a fim de melhorar as condições hídricas de Formiga. Isso seria uma discussão bastante profunda a respeito dos problemas ligados à água e ao meio ambiente. O Unifor-MG se propôs a emprestar as instalações e ser parceiro nessa empreitada?, comentou o reitor.

A promotora de meio ambiente, Luciana Imaculada de Paula, não pôde estar presente no encontro na parte da manhã e enviou a assessora dela, Luciana Maria Carrilho, como representante. Depois de saudar a todos e de um breve pronunciamento, a assessora fez a leitura da ata da reunião anterior, realizada no dia 11 de fevereiro, na sede da Promotoria de Meio Ambiente.

As entidades representadas na reunião foram divididas em dois grupos, um deles destinado a trabalhar as questões emergenciais em relação à questão hídrica e o outro grupo para apresentar as estratégias que serão aplicadas.

A Comissão 1, com o tema ?Estudos e estratégias emergenciais?, foi composta pelos representantes dos seguintes órgãos: Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto), Secretaria Municipal de Gestão Ambiental, Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais), Polícia Ambiental, APROF (Associação dos Produtores Feirantes de Formiga) e Supram (Superintendência Regional de Regularização Ambiental).

A Comissão 2 discutiu o tema ?Planejamento estratégico?, com os representantes das entidades: Unifor-MG, ARPA (Associação de Proteção Ambiental), Saae, Emater, Câmara Municipal de Formiga, Sindicato dos Produtores Rurais, IEF (Instituto Estadual de Florestas) e Igam (Instituto Mineiro de Gestão das Águas).

No período da manhã, divididos em duas salas, os grupos fizeram as discussões de cada tema. Na parte da tarde, foi feito um ?grupão? com todos os participantes, inclusive com a presença da promotora de meio ambiente, para debates e também com a finalidade de elaborar um documento para dar início a um projeto de melhoria das condições hídricas, do meio ambiente, ou seja, às ações que serão implementadas no município de Formiga.

Situação hídrica em Formiga
O diretor do Saae, Ney Araújo, falou sobre a importância desse encontro. ?É uma grande oportunidade, pois de toda crise se tira proveito e essa iniciativa de juntar todas essas instituições vai dar muita força, porque a união ajuda muito. É uma grande oportunidade de tirarmos proveito e boas decisões dessa reunião?.
Ney Araújo também apresentou alguns dados que mostram a grave situação dos recursos hídricos no município e falou sobre algumas orientações do Saae para a população.
?O Saae está fazendo tudo o que pode, a curto prazo, inclusive estamos com sete poços artesianos que estão sendo finalizados e serão colocados em funcionamento quando tiver necessidade, porque, enquanto tiver água no rio, vamos usar. Mas a mais importante decisão que a população deve ter é de economizar água, porque, o ano passado, na época da crise, Formiga gastava 307 litros de água por pessoa e chegou a gastar 140. A Organização Mundial da Saúde manda que gaste-se 110 litros por pessoa. Fizemos as contas na época mais crítica do SAAE, que eram 78 litros por segundo, se dividíssemos isso por 24 horas, ainda daria 118 litros de água por pessoa. Então, mesmo na crise mais grave que teve em Formiga, se a população tivesse consciência e os moradores do centro, que passa água todo dia, não resgatassem a água toda para eles e deixassem os bairros sem água, seria o suficiente para abastecer Formiga?, esclareceu o diretor.

A situação hídrica atual de Formiga é muito preocupante, segundo Ney Araújo. ?O problema é que a barragem do município não reserva água, ela é simplesmente uma barragem de captação, ela tem, no máximo, quatro metros de profundidade. No dia 22 de janeiro deste ano, se ficassem mais 15 dias de sol, teria problemas novamente. Estamos tomando todas as medidas, já deixando os poços artesianos prontos. A minha intenção é que, do Rio Mata Cavalo para lá, do lado direito da cidade, vai ser abastecida por poços artesianos, inclusive Alvorada e Santo Antônio, e do lado de cá temos mais três poços artesianos que furamos um abaixo do Saae, um onde era a Sonda, perto do Tiro de Guerra, e outro na Rua Jonas Juvenal que vamos colocar uma caixa de água de 200 mil litros, no fundo do Cursilho, no terreno do Paulo Couto para abastecer todo o bairro Novo Horizonte e o Santo Antônio, que é um dos bairros mais críticos também de abastecimento de água?.
O diretor da autarquia ainda acrescentou: ?Se a pessoa deixar de gastar 307 e gastar 110 litros, é o mesmo que se tivéssemos produzindo 60% de água a mais no Saae, é isso que a população tem que economizar?.

A fiscalização continua. O Saae tem dois fiscais que ficam na rua, inclusive nos finais de semana, eles notificam e multam as pessoas que estão desperdiçando água. ?A nossa intenção não é multa, porque o dinheiro não resolve o problema do SAAE, o problema é água que infelizmente não temos para fornecer para a população. Então, se a população se conscientizar e fizer a parte dela, vamos passar até a tomar uma atitude mais a longo prazo, conseguimos resolver o problema de Formiga sem maiores transtornos?, concluiu.

Parceria do Unifor-MG

O reitor do Centro Universitário de Formiga, Marco Antonio de Sousa Leão, falou sobre a parceria da instituição nessa iniciativa. ?Além da responsabilidade social que nós temos, o Unifor-MG tem cursos voltados para essas áreas e que poderão ajudar também. Convidamos dois professores que vão fazer parte, por enquanto, que são o professor Leyser Rodrigues Oliveira e o professor Michael Silveira Thebaldi, que irão colaborar. Nós somos parceiros de um projeto maior e que várias entidades vão participar?.

O coordenador do curso de engenharia ambiental e sanitária, Leyser Rodrigues Oliveira, apresentou algumas informações que mostram também a gravidade da situação e como o curso pode colaborar com o projeto.

?Mais do que nunca, a população tomou consciência de que as agressões constantes em relação ao meio ambiente são um problema não só climático, mas também um problema relacionado à gestão. Por isso, o curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, em que se trabalham várias disciplinas ligadas ao gerenciamento dos recursos hídricos, é importante a sua participação nesse grupo. Eu e o professor Michael Tebaldi (doutor em Recursos Hídricos em Sistemas Agrícolas) que estamos fazendo parte dessa discussão, temos a ideia de apresentar propostas e sugestões para poder fazer com que o município se prepare melhor para uma eventual escassez de água ou possa pelo menos atenuar esses efeitos.

Os alunos serão inseridos nesse contexto do sistema de rede que pressupõe a colaboração dos estudantes e professores.

?A situação é grave. A verdade é que se nós observamos os últimos 24 meses, as precipitações ficaram muito abaixo do esperado. Mesmo no mês de fevereiro, quando a precipitação ficou dentro do esperado, até um pouco acima, nos meses de dezembro e janeiro isso não ocorreu. Isso faz com que o tempo de chuva tenha sido muito curto o que influencia no armazenamento de água no solo que é usado ao longo do ano. Então, essa preocupação que nós temos hoje é exatamente isso, como os dias de chuva estão se acabando, já estamos agora no início do mês de março, a crise pode se agravar, sobretudo a partir dos meses de julho e agosto?, alertou o coordenador.

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