O consumidor mineiro já começa a sentir os efeitos da greve nacional dos Correios, deflagrada pela categoria dia 1º. Apesar de apenas 3,37% dos 10,5 mil funcionários em Minas Gerais (cerca de 354) terem aderido à paralisação, já existem reclamações no Procon estadual sobre o atraso no recebimento das contas desse mês. No estado, são 1,37 milhão de objetos simples e 27,5 mil registrados retidos nas agências, com entrega atrasada.
A funcionária pública Renata Helena de Macedo, de 30 anos, não recebeu a conta do celular que deveria ter chegado na semana passada. Como o vencimento foi na segunda-feira, Renata usou a internet para a emitir a segunda via e efetuar o pagamento. Mas, para ficar em dia com as dívidas do cartão de uma grande loja de departamento de Belo Horizonte, enfrentou um incômodo maior. Como a fatura estava vencida, teve que procurar a empresa, e já havia multa. ?Tive sorte. A loja entendeu que não recebi a conta por causa da greve, e resolveu não cobrar a multa?, conta.
A empresa, no entanto, não era obrigada a ter perdoado a multa. Como explica o assessor-técnico do Procon estadual, Ricardo Amorim, as empresas devem disponibilizar aos consumidores outras formas de cobrança que não utilizem o serviço dos Correios, que podem estar previstas nos contratos com os clientes. Segundo Amorim, o consumidor deve buscar uma alternativa imediatamente em caso de não recebimento ou atraso nas contas. Na maioria das situações, há outras opções para o pagamento, e, por isso, as empresas têm o direito de cobrar juros, informa.
O mecânico de manutenção Edgard Corrêa, de 64 anos, também não recebeu a fatura do cartão de uma loja de vestuário da capital, que deveria ter chegado no início do mês. ?Agora, já passou o prazo de pagamento. Vou ter que ir até a loja e ver como está minha situação?, diz ele, que recebeu as outras contas de julho antes do início da greve. Situação parecida vive a encarregada de limpeza Laci Fernandes Martins, de 61 anos. As faturas do cartão de crédito e do telefone celular, que vencem quinta-feira, ainda não chegaram à sua casa. ?Vou ligar para a empresa e tentar pegar o valor da fatura do cartão de outra forma. Já a do celular, vou tentar a segunda via pela internet.? Laci conta que sua caixa de correio, que ficava diariamente cheia de malas-diretas, convites e comunicados, está vazia há uma semana.

Paralisação sem data para acabar
Depois de assembléias nos sindicatos de todo país realizadas na segunda-feira, a Federação Nacional dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos (Fentect) decidiu manter a greve por tempo indeterminado. A decisão foi tomada mesmo depois que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) determinou o encerramento da paralisação, em audiência de conciliação entre os trabalhadores e a estatal, no mesmo dia, em Brasília. Segundo a Fentect, não há previsão de volta até que a empresa se disponha a negociar as questões levantadas pela categoria: adicionais de risco aos carteiros, plano de carreira que atenda as reivindicações e renegociação na participação de lucros e resultados.
Com a recusa da volta ao trabalho, o presidente do TST, ministro Rider de Brito, vai designar, dia 15, um relator para que seja julgado pelo tribunal o pedido de abusividade da greve, protocolado semana passada pela diretoria dos Correios. Sobre a determinação do TST de manutenção de, no mínimo, 50% dos funcionários em cada unidade trabalhando, a diretoria dos Correios informou na terça-feira que a norma não estava sendo seguida em 435 agências no Brasil. No país, 34% dos carteiros em 20 estados e no Distrito Federal aderiram ao movimento, que já gera uma carga de 60 milhões de objetos com entrega atrasada.

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