Uma combinação de hipnose e anestesia local para determinados tipos de cirurgia pode ajudar na cura de pacientes e reduzir tanto o uso de medicamentos quanto o tempo de internação em hospitais. Essa é o resultado de um estudo belga apresentado no domingo (12) durante o congresso anual da Sociedade Europeia de Anestesiologia, em Amsterdã, na Holanda.
Os cientistas avaliaram o impacto do emprego de anestesia local e hipnose em operações de certos tipos de câncer de mama e tireoidectomia (remoção total ou parcial da glândula tireoide). A técnica também pode evitar a recorrência de tumores e metástases.
A redução da percepção da dor e o conforto do paciente são garantidos, de acordo com a professora Fabienne Roelants, que liderou o trabalho ao lado da dra. Christine Watremez, ambas da Clínica Universitária Saint-Luc, em Bruxelas, que faz um quarto das operações de mama e um terço das de tireoide por esse método.
Para hipnotizar o paciente, um hipnoterapeuta deve conversar com ele durante o procedimento e evitar comandos negativos, com os quais o inconsciente pode não saber lidar. O cirurgião, por sua vez, precisa ser suave, evitar movimentos bruscos e ser capaz de manter a calma em todas as circunstâncias.
No primeiro estudo belga, 18 entre 78 mulheres usaram a hipnose em uma série de procedimentos cirúrgicos de câncer de mama, enquanto as demais receberam anestesia geral. Apesar de as pacientes hipnotizadas terem passado alguns minutos a mais na sala de cirurgia, o uso de drogas nesse grupo diminuiu, assim como o tempo de recuperação e internação.
Na operação de tireoide, os cientistas compararam os resultados de 18 pacientes do grupo de hipnose e anestesia local com os de 36 que receberam anestesia geral. Ambos fizeram tireoidectomia por videolaparoscopia, um procedimento minimamente invasivo. E, mais uma vez, o uso de remédios na recuperação e a permanência hospitalar foram muito reduzidos no primeiro grupo.
A hipnose é um estado alterado de consciência que se baseia na focalização do olhar em determinado ponto, no relaxamento muscular progressivo ou na recuperação de uma memória agradável. O fato de ela funcionar em casos médicos tem sido demonstrado por vários estudos, inclusive por imagens do cérebro com tomografia por emissão de pósitrons (PET) e ressonância magnética.
O modo exato como esse processo ocorre ainda é discutido. Alguns pesquisadores acreditam que ela impede que as informações cheguem às regiões do córtex cerebral superior, responsáveis pela percepção da dor. Outros defendem que a técnica permite uma melhor resposta à dor, ativando caminhos que a inibam de forma eficaz.
Não há diferenças de sexo ou idade relacionadas com a susceptibilidade à hipnose, dizem os cientistas. Se o paciente estiver motivado, pronto para cooperar, e confiar nos médicos, ela funciona.
Além do uso em cirurgias de câncer de mama e tireoidectomia, as autoras afirmam que a prática poderá ser aplicada no futuro em uma série de outros procedimentos: ginecológicos, oftalmológicos, otorrinolaringológicos, plásticos e contra infertilidade.

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