O prejuízo de ter um celular roubado ou furtado agora pode ir muito além do valor do aparelho em si. Depois de uma onda de casos estourar no Estado de São Paulo, uma nova modalidade de crime começa a ser bastante registrada também em Minas Gerais.

A tática dos criminosos tem um alvo preferencial: o roubo de celulares com a tela desbloqueada se aproveitando da distração da vítima. Com isso, os ladrões têm conseguido entrar em contas de e-mails, capturar informações como arquivos de senhas salvas no aparelho pelo próprio dono do smartphone e acessar sem grandes dificuldades, por exemplo, os aplicativos de banco, fazendo uma “limpa” no dinheiro das contas bancárias das vítimas.

Foi o que aconteceu no mês passado, em Belo Horizonte, com uma advogada que não quis se identificar. Enquanto almoçava em um restaurante na região Centro-Sul da capital, ela teve o smartphone furtado por um vendedor de balas. O aparelho estava na bolsa.

Ao notar que o aparelho tinha sido levado pelo criminoso, ela entrou em contato com a operadora para bloquear o telefone, mas já era tarde demais.

“Meu sócio me procurou perguntando se eu havia autorizado uma transferência da nossa conta jurídica. Foi quando eu percebi que eles pegaram diversos valores das minhas contas e transferiram para a minha conta no Banco Inter, onde eles conseguiram aumentar o limite de transação e fizeram transferências para diversas contas. Isso tudo ocorreu num intervalo de três horas”, conta a vítima.

Caso similar

O caso da advogada é semelhante ao de um jovem, de 29 anos, que também pediu para não ser identificado. “Estava com amigos em um bar do Mercado Novo quando um vendedor de balas se aproximou. Meu telefone estava em cima da mesa e, sem eu perceber, ele foi levado”, contou o homem.

“No domingo, chegaram a invadir meu Gmail e Instagram, mas consegui recuperar rápido. Na terça-feira, fui usar o cartão de crédito e não passava de jeito nenhum. Quando fui ao banco, descobri que fizeram um Pix movimentando o dinheiro. Usaram o meu cheque especial de R$ 3.900 e ainda fizeram um empréstimo de R$ 700”, lamentou a vítima, que disse ter tomado um prejuízo de quase R$ 5.000. O valor foi ressarcido depois de muita insistência junto aos bancos.

Além das semelhanças na ação dos criminosos, ambas as vítimas relatam que tentaram, após os furtos, localizar o aparelho via GPS e que a última localização encontrada dos telefones foi em Ribeirão das Neves, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte.

A Polícia Civil informou que a nova modalidade de furto na capital está sendo investigada, mas que, por enquanto, não poderia passar detalhes da apuração.

Senhas de 4 dígitos são frágeis, alerta especialista

O especialista em segurança da ESET Brasil – empresa de proteção de dados -, Daniel Barbosa, conta que isso tem se tornado cada vez mais comum, especialmente quando os criminosos encontram brechas na segurança, como senhas repetidas, celulares desbloqueados e outras coisas. 

“Existem algumas formas de burlar o acesso inicial, principalmente se o celular está configurado com senhas mais simples, como o PIN, que é de apenas 4 dígitos. Com ferramentas que quebram essa senha, em poucos minutos o hacker consegue acessar o telefone e ter ver a todas as informações”, detalha Barbosa.

Segundo o especialista, práticas muito comuns, como deixar as redes sociais e o email logado, facilitam a invasão.

“Dado que a pessoa tem acesso ao seu celular, ela consegue facilmente ver as conversas nas redes sociais e suas senhas salvas em blocos de notas, por exemplo. Por isso, a maioria das invasões não se utiliza de ferramentas complexas que quebram o sistema do banco, mas sim da abertura que o próprio usuário dá ao invasor”, explica.

PM orienta a saber o número IMEI do aparelho

O novo perfil de crime tem causado preocupação nas autoridades de segurança. Em São Paulo, a Polícia Civil já identificou quadrilhas especializadas em furtar aparelhos celulares apenas para acessar os aplicativos de bancos. A situação é considerada tão grave que, em Minas Gerais, a Polícia Militar faz um alerta.

“Temos visto com frequência o acesso remoto dos aparelhos através de links que são enviados e a pessoa acaba clicando. Mas a característica dos criminosos é sempre ir se aperfeiçoando e agora também há essa nova modalidade, que requer ainda mais cuidados por parte da vítima”, explica a capitã da sala de imprensa da PM, Layla Brunella.

A Polícia Militar possui uma ferramenta para bloquear o aparelho através do IMEI. Esse mesmo banco de dados também é utilizado para tentar rastrear e identificar telefones. Segundo a capitã, a recomendação é sempre procurar as autoridades caso o celular seja levado.

“O furto é um crime de oportunidade, normalmente a vítima dá a oportunidade ao agente. Uma desatenção, por menor que seja, facilita a vida dos criminosos. Por isso é tão importante que o usuário se previna, tenha sempre o celular por perto ou guardado em partes sensíveis ao corpo”, ressalta.

Fonte: O Tempo

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