Imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram Minas Gerais em chamas e, segundo especialistas, a situação tende a piorar. A série histórica indica elevação de 77% no número de focos de calor em todo o estado, em comparação com o mesmo período do ano passado. Entre 1º de janeiro e terça-feira (20), foram detectados 2.699 pontos no Estado, contra 1.523 no mesmo período de 2018. O aumento de queimadas em Minas espelha cenário parecido em todo o Brasil, com 74.155 focos nestes pouco menos de oito meses, variação de 84,7% em relação a período idêntico do ano passado. Os dados foram extraídos do acompanhamento anual feito pelo Inpe. Realizado desde 1994, o monitoramento capta imagens de baixa (30 metros a 1 quilômetro) e média (10 a 50 metros) resolução espacial para estimar a superfície queimada no país.

Quando considerado levantamento do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, a situação é ainda mais preocupante. Embora o aumento percentual com base em dados dos militares seja menor, em números absolutos a quantidade de ocorrências explode, confirmando a tendência apontada pelo Inpe.  Em Minas, a corporação registrou nada menos que 8.928 incêndios em vegetação de janeiro a julho, um aumento de 31,18% em relação ao mesmo período do ano passado.

Desse total, 1.891 atendimentos ocorreram na Grande BH e 818 no território da capital. Em comparação com o ano passado, o aumento verificado nos números da região metropolitana foi de 23,19%, sobre os 1.536 casos de 2018. “A Grande Belo Horizonte é o ponto de Minas em que mais se registram incêndios florestais. A Serra do Rola-Moça é onde mais acontece, devido à extensão, que abrange muitas cidades. São 4 mil hectares”, informou o segundo-tenente Leonan Soares Pereira, comandante do Pelotão de Combate a Incêndios Florestais dos Bombeiros. Queimadas na área do aglomerado metropolitano corresponderam a 30% do total registrado entre janeiro e julho.

A grande diferença entre os números do Inpe e os do Corpo de Bombeiros se deve ao fato de o satélite ser sensível a áreas superiores a 30 metros por 1 metro e a partir de temperaturas de 47 graus Celsius. O oficial explica que o número maior de registros dos militares deve-se ao fato de os bombeiros combaterem incêndio em áreas que, provavelmente, não são capazes de sensibilizar o satélite.

O pior pode estar por vir

Neste ano, os bombeiros trabalham com a probabilidade de o prolongamento do período chuvoso no inverno mudar a dinâmica dos incêndios na Grande Belo Horizonte, a região de Minas que mais sofre com queimadas. E estamos exatamente no período mais crítico para isso, que começa em agosto e se estende pelo mês de setembro. “Houve atraso no período de estiagem. Tivemos chuvas até julho e baixa temperatura. Agora começa o calor, em que ainda temos um friozinho. Os grandes incêndios ainda não começaram”, afirma o segundo-tenente Leonan Soares Pereira. As condições meteorológicas podem fazer com que as ocorrências de fogo em matas sejam menos frequentes, mas com a possibilidade de as chamas tomarem conta de áreas mais extensas.

O Pelotão de Combate a Incêndios Florestais dos Bombeiros pode atuar, ao mesmo tempo, para debelar até 10 pontos de incêndios de grandes proporções na vegetação, em áreas como as serras do Rola-Moça, da Moeda e do Parque Estadual do Serra Verde, todos na Grande BH. O grupo conta com 30 militares à disposição para atuar especificamente nessa linha de frente.

Além do pelotão, batalhões contam com guarnições de socorro equipadas com caminhões de combate a incêndios, e guarnições de salvamento, com abafadores e bombas costais. “Contamos com várias equipes em pontos diferentes. Cada uma tem capacidade de discernir se precisa de apoio ou não”, diz o comandante do grupo. De maneira preventiva, uma equipe foi deslocada para o município de Brumadinho para ficar mais próxima ao Parque do Rola-Moça, considerado o ponto mais sensível para o risco de grandes incêndios.

Foto: Arte EM

Sobrecarga

Em áreas como a de Uberaba, no Triângulo Mineiro, o número de incêndios florestais é tamanho que, até o mês passado, o Corpo de Bombeiros ficou impossibilitado de atender a 395 outras ocorrências simultâneas a chamados para combate a focos em vegetação. De acordo com o comandante da corporação na cidade, o tenente-coronel Nivaldo Machado, muita gente tende a subestimar os riscos do fogo. “De forma proposital ou não intencionalmente, as pessoas fazem fogo e tendem a achar que é um foguinho inofensivo, mas as fagulhas e brasas podem fazer ele se alastrar rapidamente. Às vezes, as pessoas vão limpar o terreno, colocam fogo e, por descuido, perdem o controle e aquilo se alastra de forma não intencional”, explica. Os dados da sobrecarga sobre os militares se referem aos seis primeiros meses deste ano, e podem subir ainda mais, já que o período crítico vai até a setembro.

A corporação informa que tem pelotões especializados de combate a incêndio e um planejamento que prevê ações pertinentes ao período de estiagem. “Quando há um grande número de ocorrências ao mesmo tempo, existe também uma priorização das demandas consideradas mais graves. No entanto, não se pode falar em prejuízo ou impedimento a outras ocorrências, considerando que esse cenário é muito dinâmico”, informou o Corpo de Bombeiros, em nota.

Entre os principais fatores de risco para incêndios florestais estão baixa umidade relativa do ar, vegetação ressecada, ventos fortes e altas temperaturas. Apesar das condições naturais propícias, a maior parte dos incêndios ocorre por interferência do homem. “Nessa época do ano, é praticamente impossível que o fogo seja causado por raio, a única causa natural. De agosto a setembro, os incêndios são causados pelo homem: por limpeza de pasto, incineração do lixo, negligência no uso de fogueira e fogos de artifícios e fiação elétrica clandestina em chácaras na zona rural. Muitas vezes, o ‘gato’ (ligação clandestina) cai e coloca fogo na vegetação”, afirma o segundo-tenente Leonan.

Combate

Segundo a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) conta com 278 brigadistas, que podem atuar em unidades de conservação de todo o território mineiro. Assim, as áreas de preservação mais próximas a pontos em chamas enviam brigadistas para a contenção de focos, como é o caso das unidades de Ouro Preto, Ouro Branco e Moeda, na Região Central, Belo Horizonte, São José da Lapa e Nova Lima, na Grande BH.

O IEF tem ainda brigadas que são parcerias, contratadas e também voluntárias para apoiar unidades de conservação em Conselheiro Pena, Ouro Preto, Belo Horizonte, Montes Claros, São João del-Rei, Moeda, Barão de Cocais e Itabirito. “Somam-se ainda a esses os efetivos do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais nos municípios onde há representação da instituição, que também pode, de acordo com a complexidade dos incêndios, deslocar efetivos de regiões diversas”, acrescenta a secretaria.

 

Fonte: Estado de Minas ||

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