Acompanho o avanço do novo coronavírus desde dezembro do ano passado quando os colegas do INPE que trabalharam no satélite CBERS retornaram da China. Como já tivemos caso de doença vinda da China e que obrigou colegas a ficar de quarentena, imaginávamos que seria algo parecido. Pandemia sem controle parecia coisa de cinema.

Mesmo assim, procurei chamar a atenção de senadores e deputados, especialmente quando a doença atingiu a Itália. No final de fevereiro eu já brigava com quem divulgava “fakenews”. A imprensa divulgava a taxa de letalidade de 3,4%, algo assustador, já que a da gripe espanhola era 2,5%. Nestes quase cinco meses de pandemia ainda se vê muito cientista e médico expressando ideias estranhas sobre a doença.

Já afirmei diversas vezes que essa pandemia é assunto para cientistas e matemáticos, sem um conhecimento profundo de matemática, quem fala muito corre o risco de falar bobagens.

É uma doença difícil de entender e de prever. Porém, temos indicativos de que a covid-19 esteja em queda. É claro que isso só vai se confirmar se as medidas de isolamento e profilaxia continuarem. Basta observar os Estados Unidos para ter certeza do que acontece quando se relaxa. A evolução da doença segue um padrão, cresce abruptamente e cai lentamente, seguindo uma exponencial na subida e outra na descida. Mas o Brasil é uma exceção.

Fizemos uma quarentena voluntária para as pessoas, mas forçada para comerciantes e prestadores de serviço. Em 13 de março, os governantes e prefeitos das grandes cidades, em poucas horas optaram pela quarentena. O pavor tomara conta dos responsáveis pelo bem estar da população. O governo federal e seus militares que deveriam entender de guerra biológica não entenderam a dinâmica da doença e trabalharam contra os governadores e prefeitos. Até hoje…

A quarentena meia boca tornou a evolução da doença diferente, subindo lentamente em uma linha reta há nove semanas, mais de mil mortes todo dia, na média. A análise geral dá uma falsa impressão que a doença não cede, mas a regional mostra que grandes centros, como a cidade de São Paulo, já estão em queda. Por que isso ocorre?

Quando vemos os rebeldes não usando máscaras e não mantendo o distanciamento, ficamos confusos. Um erro fundamental é o entendimento da imunidade populacional, que se atribui entre 60 e 70%, número que estamos longe de atingir, mas esse número deveria ser considerado junto com o isolamento social que fazemos, que está próximo de 50%. Só isso já nos intuiria em estimar a imunidade coletiva em torno de 30%, mas devemos estimar exponencialmente o isolamento, então, algo como um quarto, talvez menor ainda. Isso implica que atingiríamos uma imunidade de 10 a 20% da população infectada, já atingido nos grandes centros.

O coronavírus agora grassa pelos centros médios e pequenos. Com quase 100.000 mortos, como nossa população é de 210 milhões de habitantes, uma parcela pequena teve algum morto conhecido e isso contribui para ainda desprezar-se a doença. A conclusão é que quanto maior for a rigidez nas medidas de combate, mais rápido acabaremos com essa pandemia. Mas se relaxar…

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