As taxas de juros médias cobradas pelas instituições financeiras no cartão de crédito rotativo e no cheque especial subiram em junho e ultrapassaram a barreira dos 300% ao ano, de acordo com informações divulgadas pelo Banco Central (BC) nesta sexta-feira (26).

Houve também aumento das taxas quando considerado todo o primeiro semestre.

O juro médio do cartão de crédito rotativo para pessoas físicas subiu de 299,8% ao ano, em maio, para 300,1% ao ano, em junho deste ano. No primeiro semestre, o crescimento foi de 14,7 pontos percentuais, pois a taxa estava em 285,4% ao ano no fim de 2018.
Já a taxa média do cheque especial, de acordo com a instituição, avançou de 320,9% em maio para 322,2% em junho de 2019. Nos seis primeiros meses deste ano, a alta foi de 9,6 pontos percentuais – pois somava 312,6% ao ano no fim de 2018.

O aumento dos juros bancários em junho, e no primeiro semestre, acontece em um ambiente de estabilidade da taxa básica da economia, fixada pelo Banco Central a cada 45 dias para controlar a inflação. Essa taxa está na mínima histórica de 6,5% ao ano desde março do ano passado.

Ao mesmo tempo, o crescimento das taxas cobradas pelos bancos foi registrado em um ambiente de inadimplência relativamente estável. A taxa geral de inadimplência para pessoas físicas somou 3,3% em junho, contra 3,4% em maio e 3,2% no fim do ano passado.

Linhas de crédito caras
O crédito rotativo do cartão de crédito pode ser acionado pela pessoa que não pode pagar o valor total da sua fatura no vencimento, mas não quer ficar inadimplente.

Para usar o crédito rotativo, o consumidor paga qualquer valor entre o mínimo e total da fatura. O restante é automaticamente financiado e lançado no mês seguinte, com juros.

O cheque especial é uma linha emergencial que permite ao correntista gastar um certo limite definido pelo banco, mesmo que ele não tenha dinheiro na conta.

A recomendação de especialistas é de que os clientes evitem essas linhas de crédito ou as utilizem por um período muito curto de tempo, pois as taxas de juros cobradas são extremamente elevadas.

A recomendação é que os clientes substituam essas modalidades por linhas mais baratas, como, por exemplo, o crédito consignado, em que as prestações do empréstimo são descontadas da folha de pagamentos.

Juros bancários médios
De acordo com o BC, houve pequena queda nos juros médios das instituições com recursos livres (sem contar BNDES, crédito rural e imobiliário) de maio para junho. Entretanto, a taxa avançou na parcial dos seis primeiros meses deste ano.

a taxa média total (pessoa física e jurídica) passou de 38,5% ao ano, em maio, para 38,3% ao ano em junho. No primeiro semestre, avançou 2,7 pontos percentuais, pois estava em 35,6% ao ano no fim de 2018.
os juros nas operações com pessoas físicas passaram de 52,9% ao ano, em maio, para 53,2% ao ano, em junho. Nos seis primeiros meses do ano, subiu 4,3 pontos percentuais, pois somava 48,9% ao ano no fechamento de 2018.
a taxa cobrada das empresas recuou de 19,5% ao ano, em maio, para 18,7% ao ano, em junho. Na parcial deste ano, recuou 0,1 ponto percentual, pois estava em 18,8% ao ano no fim de 2018.

Spread bancário
Com o aumento dos juros médios de todas as operações das instituições financeiras, o chamado spread bancário (diferença entre o que os bancos pagam pelos recursos e o que cobram de seus clientes) também apresentou aumento em junho.

No caso das operações com pessoas físicas e com empresas, o spread passou de 31,1 pontos percentuais, em maio, para 31,5 pontos em junho deste ano. Nas operações com pessoas físicas, passou de 45,2 pontos para 46,2 pontos nessa comparação. Com isso, o spread bancário segue em patamar elevado para padrões internacionais.

O spread é composto pelo lucro dos bancos, pela taxa de inadimplência, por custos administrativos, pelos depósitos compulsórios (que são mantidos no Banco Central) e pelos tributos cobrados pelo governo federal, entre outros.

Juros bancários elevados
Juros bancários elevados inibem o consumo e também os investimentos na economia brasileira. Esse é um dos problemas, segundo economistas, a serem enfrentados pela gestão do presidente Jair Bolsonaro.

Dados do BC mostram que os cinco maiores conglomerados bancários do país detinham, no fim de 2018, 84,8% do mercado de crédito. Esse cálculo engloba os bancos comerciais, os múltiplos com carteira comercial e as caixas econômicas.

No ano passado, a rentabilidade dos bancos brasileiros ficou no maior patamar em sete anos e o lucro líquido dos bancos somou R$ 98,5 bilhões, recorde da série histórica que começa em 1994.

O economista Roberto Campos Neto, antes de ter seu nome aprovado para comandar o Banco Central, avaliou que o sistema bancário brasileiro não é mais concentrado do que em outras economias desenvolvidas e disse que atuará fortemente para reduzir o spread e os juros bancários.

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