O cálculo financeiro para redução de custos na geração de energia elétrica, e determinação do nível d’água nas barragens, ignora os prejuízos econômicos, sociais e ambientais de importantes pólos turísticos de Minas Gerais.

Quem diz que Minas não tem mar é porque não conhece o circuito de Furnas. Pode não ter ondas, mas o espelho d’água é uma imensidão azul, como um oceano. Os lagos das barragens de Furnas e a de Peixoto se tronaram um dos polos turísticos mais conhecidos do País. É como praia, não só para os mineiros, mas também para os paulistas, que lotam os clubes náuticos, enquanto os cânions atraem turista internacionais. São águas que movimentam não só o turismo, mas também outras atividades econômicas, como a agricultura em terras produtivas.

A crise hídrica dos últimos anos transformou de forma negativa esta realidade. Várias cidades fecharam os clubes náuticos e falta água para irrigação. A saúde também ficou comprometida, uma vez que o esgoto de algumas comunidades está mais concentrado. Por outro lado, as fortes chuvas de 2020 trouxeram a esperança de que os bons tempos estariam de volta. Porém, o nível de água da barragem de Furnas não subiu tanto quanto se esperava.

Resultado disso? Frustração, revolta e desconfiança da população com as autoridades responsáveis pelo controle do nível das barragens.

Ao contrário do que muitos pensam, o setor elétrico tem todo o interesse em manter as barragens cheias, especialmente barragens como a de Furnas. A água reservada em Furnas faz gerar energia elétrica em outras 12 hidrelétrica ao longo do rio, até chegar a Itaipu. Ou seja, por estar localizada em região mais alta, as águas armazenadas em Furnas tem mais valor, o que faz de Furnas uma ótima “caixa d’água” para geração de energia.

Entretanto, o nível de água da barragem mal começou a subir e as turbinas de furnas foram imediatamente acionadas. Daí veio a grande dúvida: Este interesse em manter a barragem de Furnas cheia é verdadeiro?

O Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS), unidade responsável pelo controle da geração de energia, tem uma resposta clara e estritamente técnica a esta pergunta.

As decisões sobre o nível de água nas barragens baseiam-se em uma fórmula matemática que busca minimizar o custo de geração de energia elétrica.

Por exemplo, quando fontes de energia mais baratas estão disponíveis, como hidrelétricas, o sistema indica o desligamento de unidades mais caras, como as termoelétricas. Como haviam termoelétricas ativadas, as turbinas de Furnas são acionadas para reduzir custos com termoelétricas.

Com base nesta justificativa, o ONS deixa evidente que barragem cheia pode até ser um objetivo do setor elétrico, mas este objetivo está longe de ser uma prioridade. Percebe que a justificativa trata apenas de custo financeiro e não se fala em prejuízo econômico?

A geração de energia em termoelétricas é cara, isso ninguém nega. Entretanto, não há como ignorar os imensos prejuízos causados pelo excessivamente baixo nível de água nas barragens, em especial barragens que já desenvolveram forte atividade econômica em torno delas, como a de Furnas e a de a Peixoto. É produção agrícola que se perde, desvalorização de terras, exposição de esgoto e, sobre tudo, a perda dos empregos gerados pelo turismo.

Além do aspecto econômico e financeiro, há também de se destacar a questão de justiça.

Quando se acionam as termoelétricas, o custo adicional é distribuído para todo o País, mas quando o nível de água dos reservatórios desce muito, o prejuízo fica apenas para aqueles que vivem em torno da barragem. Isso não é justo.

Recentemente, em Brasília, houve uma grande mobilização de representantes das comunidades afetadas. Prefeitos, vereadores e empresários, lotaram as audiências públicas e, frente-a-frente com as autoridades, demonstraram que o verdadeiro custo de geração de energia elétrica vai muito além dos custo financeiros. Com a boa política, sincera e transparente, ressaltaram a importância de que também sejam considerados os prejuízos econômicos, sociais e ambientais decorrentes do baixo nível de águas das barragens. Caso contrário, o País corre o risco da “economia burra”, em que se reduz custos no presente sem pensar nos prejuízos de maior proporção no futuro.

COMPATILHAR: