Depois de imensuráveis impactos humanos, sociais e hídricos, a lama despejada pela barragem de Fundão, no início do mês passado em Mariana, na região Central de Minas, também é responsável por uma significativa supressão de vegetação nativa da região afetada. De acordo com análise da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 324 hectares (ha) de mata atlântica foram destruídos pela lama de rejeitos.

O estudo sobre o desmatamento e supressão vegetal é feito anualmente pelas instituições, e a última versão havia sido divulgada poucos dias antes do desastre causado pela barragem da Samarco. Após o rompimento, a fundação e o Inpe decidiram fazer um novo levantamento para detectar o que foi destruído pela lama. Imagens de satélite dos dias 25 de setembro e 12 de novembro foram usadas na última análise.

O estudo constatou que os rejeitos impactaram uma área total de 1.775 hectares (17 km²), equivalente a 2.150 estádios do tamanho do Mineirão. A lama chegou a regiões de vegetação nativa, sendo 236 hectares de florestas nativas e outros 88 hectares de vegetação natural (um total de 324 hectares). 

De acordo com a diretora-executiva do SOS Mata Atlântica, Marica Hirota, a destruição deve servir para mobilizar governos e sociedade para aperfeiçoar os mecanismos de controle de atividades de grandes impactos ao meio ambiente.

“Minas Gerais já é um Estado bastante castigado em relação à supressão de vegetação nativa e foi campeão do ranking do desmatamento da Mata Atlântica por cinco anos consecutivos. A tragédia de Mariana, com seu rastro de degradação, se soma a essa realidade e reflete as trágicas consequências do desmonte gradativo da legislação ambiental brasileira e da sua não aplicação”, conclui Marcia Hirota.

Usina. Foram analisados 114 km de cursos d’água e a vegetação em seu entorno, desde a barragem de Mariana, onde ocorreu o rompimento, até a represa da Usina de Candonga (UHE Risoleta Neves), no município de Rio Doce.

Segundo Flávio Jorge Ponzoni, pesquisador e coordenador técnico do estudo pelo Inpe, a represa da Usina Candonga absorveu o impacto da onda de lama que afetou a área do entorno dos rios e evitou que a vegetação fosse destruída depois desse ponto. “Após a represa, o impacto foi no leito do rio, na qualidade da água e no deslocamento de sedimentos, não havendo remoção de vegetação nas margens dos rios, ou ao menos na escala do estudo, que considera áreas com no mínimo 1 hectare”, explica.

Saiba mais sobre o trabalho

Hidrografia. A lama atingiu 680 km de cursos d’água, entre eles 114 km da barragem até a usina de Candonga, parte já analisada pelo SOS Mata Atlântica e pelo Inpe. Após a Usina de Candonga, são 403 km do rio Doce até a divisa com o Espírito Santo e mais 161 km até o mar. Uma equipe das duas entidades está agora em expedição por esse trecho para analisar o impacto pelo rio Doce.

Vegetação. Além dos 324 hectares de mata, há 1.451 hectares de áreas urbanas, pastagem e agricultura afetados.

Pontos afetados. As áreas atingidas de florestas remanescentes (236 ha) estavam todas em Mariana. Já no caso de vegetação nativa, foram 58 hectares em Mariana e 3 hectares em Barra Longa. Nos outros lugares, o impacto foi em matas, várzeas, áreas urbanas, pastagens e agricultura. Foram 493 hectares em Barra Longa, 163 ha em Rio Doce, 67 ha em Santa Cruz do Escalvado e 40 ha em Ponte Nova.

Importância. A área devastada, segundo o estudo, é importante no contexto local, em especial para a proteção do solo e preservação da quantidade e qualidade da água que abastece a região.

Detalhes. Ao contrário do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, feito anualmente, o estudo do impacto do desastre de Mariana avaliou a vegetação de forma mais detalhada. Ele identificou fragmentos florestais de até 1 ha (normalmente são 3 ha) e áreas de vegetação de menor porte e/ou com menor grau de conservação.

Experiência do Japão ajudará Minas Gerais a superar tragédia

A partir de janeiro, Minas Gerais irá se espelhar no Japão, país com grande experiência no enfrentamento de catástrofes, para tentar recuperar os danos ambientais e sociais causados pela tragédia de Mariana. Bombeiros mineiros deverão receber treinamento por meio da Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica), a exemplo do que já acontece no Estado com a polícia comunitária, espelhada no modelo japonês Koban. Além disso, um professor da universidade do Japão especialista em recuperação ambiental virá ao Brasil.

De acordo com o cônsul geral honorário do Japão em Belo Horizonte, Wilson Nélio Brumer, a previsão é que troca de experiências renda soluções para a recuperação do rio Doce, reconstrução dos distritos destruídos, dentre outras coisas.

Redação do Jornal Nova Imprensa

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