A lista de servidores estaduais que teriam sido vacinados de forma irregular contra a Covid-19 não para de crescer. Na manhã desta terça-feira (27), durante entrevista no quadro Café com Política, da rádio Super Notícia FM, o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que investiga denúncias de “fura-filas”, deputado estadual João Vítor Xavier (Cidadania), informou que já são 2.684 nomes. 

Deputado, o governo de Minas Gerais decidiu manter alguns dos servidores investigados na CPI. O senhor concorda com essa decisão?

Eu acho que todo cidadão tem o direito de se defender, e enquanto não há uma confirmação, até em respeito à biografia prévia das pessoas, eu acho que elas têm o direito de seguir suas vidas. Chegando-se ao fim de uma apuração e constatando uma irregularidade, aí é preciso se toma ruma posição severa e dura em respeito à sociedade. 

Como está o andamento da CPI? 

Nós ainda não recebemos um parecer da Controladoria do Estado, então não posso falar especificamente dos servidores que foram afastados, pois a documentação não nos foi entregue, mas está muito claro que houve um processo absolutamente equivocado de vacinação no Estado. O ex-secretário (de Saúde) construiu deliberações internas que extrapolavam seu direito de secretário e que eram irresponsáveis no que diz respeito ao Plano Nacional de Imunização. Essas deliberações permitiam que quase três mil funcionários fossem vacinados foram da ordem prevista neste plano. É bom lembrar que os servidores teriam direito a vacinação em algum momento, mas não foram vacinados no momento adequado, o que acabou gerando um prejuízo grande à sociedade. Em especial a vacinação de funcionários administrativos, do gabinete do secretário e de áreas como a comunicação, pessoas que estavam em home office. Enquanto nós tínhamos médicos dentro dos hospitais ainda sem a vacinação, pessoas que trabalhavam em casa já haviam recebido a dose. Essa é a nossa realidade. Isso é absurdo do ponto de vista da gestão pública e impensável do ponto de vista humano.   

Sobre o áudio, divulgado há alguns dias e com orientações ao governador Romeu Zema para que ele não falasse mais sobre os servidores em home office, o senhor acha que novos desdobramentos serão descobertos? 

É importante dizer que isso não é uma caça às bruxas, nem mesmo perseguindo os servidores, mas é importante deixar claro que essas pessoas cometeram um erro. Estamos falando de pessoas que estavam há mais de um ano trabalhando de casa e foram vacinadas. Eu acredito que mais detalhes serão revelados. Nós vamos ouvir os investigados nas próximas semanas. 

Em relação aos nomes que compõe a lista de vacinados de forma irregular, o senhor acredita que ela ainda vai crescer mais?

Nós temos recebido denúncias de todos os cantos do Estado. Nós dissemos desde o princípio que essa CPI seria exclusiva para este caso dos servidores da Saúde do Estado, não temos condição de fazer uma apuração nos 853 municípios de Minas. O que faremos é encaminhar as denúncias para as câmaras municipais e para o Ministério Público de Minas Gerais, para que a promotoria possa tomar a medida cabível a cada caso. Ontem finalmente nós conseguimos chegar ao número de pessoas vacinadas através dessa ação da secretaria de Saúde do Estado, são 2.684 pessoas. Agora nós vamos comparar essa lista com a que foi enviada pelo Ministério Público que também nos foi enviada ontem, já no fim da tarde. 

Sobre a vacinação no país em Minas Gerais, como o senhor tem avaliado o andamento do processo como um todo?

O Brasil cometeu erros graves no processo de vacinação. Um erro gravíssimo foi não ter comprado imunizantes já no início e tem ficado dependente do processo do Butantan.  E o governo do Estado colaborou com esse problema, não tendo feito esforço para desenvolver a sua vacina, através da Funed. O governo de Minas escolheu caminhar a reboque do governo federal. Esse para mim foi o erro mais grave do processo. Nós tivemos a oportunidade, em outubro do ano passado, de comprar cerca de 200 milhões de doses de vacina o que praticamente, somado ao processo do Butantan e da Fiocruz, resolveria grande parte do problema do Brasil. 

A vacinação irregular envolvendo o deputado Professor Irineu (PSL) em Betim, na região metropolitana, será investigada pela CPI?

A CPI não entra em questão municipais, no entanto é um caso simbólico e se trata de um deputado. Nós confiamos no trabalho feito pela prefeitura de Betim e pedimos para ela o compartilhamento da apuração para darmos, via CPI, o encaminhamento necessário, tanto para o Ministério Público, quanto para o Conselho de Ética da Assembleia. Não tem deputado, secretário ou qualquer cidadão que esteja acima do outro. Todo mundo tem cumprir a lei e seguir o plano de vacinação.

Fonte: O Tempo

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