Por mais que fosse esperada por todos, a condenação do ex-presidente Lula surgiu como um terremoto na política brasileira. Chamou a atenção, na sentença proferida, o repúdio do juiz Sergio Moro à agressividade da defesa de Lula, vista pelo magistrado como tentativa de ameaçar o Judiciário. Esse detalhe nos indica muito a respeito dos cenários político-eleitorais que se desenham para a campanha presidencial de 2018.

Inicialmente, nota-se que a estratégia da defesa jurídica de Lula representa apenas uma fração da postura adotada pelo ex-presidente nos últimos meses. Assim como os advogados de Lula se portavam rispidamente durante as audiências na Justiça Federal, também o acusado adotou retórica agressiva e vingativa nos palanques pelos quais tem passado por todo o Brasil. Concomitantemente à defesa judicial, Lula assumiu sua pré-candidatura à Presidência da República, iniciando assim uma cruzada que se pretende épica e voltada para a redenção pessoal do líder petista.

Trata-se, afinal, de um planejamento político-eleitoral bastante claro e condizente com parte da trajetória passada de Lula; infelizmente para o ex-presidente, o roteiro traçado para sua volta ao Palácio do Planalto coincide justamente com o trecho de sua carreira política de menor sucesso. É fácil perceber as semelhanças entre o Lula de 1989 e o de 2017: radical da retórica às propostas, volta-se para uma fração bem nítida do eleitorado, desconsiderando o fato básico de que vai precisar do apoio da ampla maioria dos brasileiros se quiser voltar ao poder. Além de eliminar sua famosa versão “paz e amor”, vitoriosa nas urnas em 2002 e 2006, Lula também comete o erro de priorizar uma agenda que já foi superada, principalmente pela ação de seus próprios governos: prometer o combate à pobreza tem pouco, se tem algum, apelo para a população mais carente do Brasil, que aguarda novidades após mais de uma década de atendimento pelos programas sociais do governo federal.

Assim como a demanda por estabilidade econômica predominou na década de 90, sendo sucedida pelo desejo popular de intensificação dos programas sociais na década de 2000, o fato é que cada tipo de assunto teve seu momento específico na história brasileira recente, deixando de ser um clamor popular quando atendido pelo governo da vez. O descompasso entre as promessas de Lula e os interesses da população pode ser indicador de que, pela primeira vez em muitos anos, o ex-presidente não conta com o apoio intensivo de uma equipe de publicidade que o oriente em relação à forma e ao conteúdo de suas falas e comportamento em geral.

É com base nessa estrutura precária que Lula parte para a campanha presidencial do ano que vem, carregando o peso extra de se ter tornado um cidadão condenado criminalmente. A marca social que deriva da sentença dada por Sergio Moro independe do resultado dos demais julgamentos e recursos que virão nos próximos meses: trata-se de um dano à reputação que dificilmente poderá ser refeito, pois torna concretos os mais ofensivos boatos contra o ex-presidente Lula.

Em 2018, até mesmo o menos expressivo candidato se verá compelido a mencionar a condenação contra Lula, como forma de destacar a própria carreira pregressa. Esse ferimento à imagem de Lula, tema que será onipresente na campanha do ano que vem, é um obstáculo de tipo inédito na carreira política do líder petista: mais um que se coloca em sua busca pela volta ao poder.

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