Seja em busca de uma rotina de trabalho mais tranquila e de um estilo de vida com mais segurança, ou mesmo uma consequência da cultura de concursos públicos que existe no Rio de Janeiro, certo é que os delegados cariocas chegaram em solo mineiro para ficar. Um levantamento extraoficial feito apenas em Belo Horizonte e na área metropolitana mostra que há na região pelo menos dez chefes de delagacias da Cidade Maravilhosa.
Em todo o Estado não há um levantamento da Polícia Civil de quantos dos 978 delegados em Minas são cariocas, mas o sotaque forasteiro tem chamado cada vez mais atenção da população. O assunto já chegou até a internet, onde, em fóruns de discussão, candidatos mineiros a concursos demonstram sua insatisfação com a concorrência carioca, que, por sua vez, aproveitam para mostrar que vieram mesmo para ficar. Vamos que vamos, mineirada! Nunca vi tanto delegado carioca em Minas Gerais.
O delegado de homicídios de Venda Nova, Bruno Wink, 31, conta que foi muito bem recebido em Minas, em 2005. Para ele, as provas dos concursos nos dois Estados são muito parecidas e, por isso, Minas atrai tantos cariocas. O Rio ficou muitos anos sem realizar concursos e nós fomos nos preparando. O edital de Minas saiu primeiro e já estávamos prontos para os testes daqui, justifica.
Para o casal de delegados cariocas Alessandra e Júlio Wilke a segurança foi o atrativo. Aqui eu não tenho medo de ir a nenhum lugar para realizar o meu trabalho. No Rio, a criminalidade é muito grande, e o delegado tem que ter o cuidado redobrado, esclarece Alessandra.
Nem o salário mais baixo afasta os forasteiros. Fernando Miranda, da delegacia de homicídios do Barreiro, na capital, afirma que o baixo custo de vida em Minas é uma compensação. A gente tem praticamente tudo que temos no Rio, só que pela metade do preço, afirmou. Em Minas, um delegado em início de carreira recebe R$ 5.716,87 por uma jornada de 40 horas semanais. No Rio de Janeiro, os iniciantes têm uma remuneração de R$ 10,5 mil para a mesma carga horária de trabalho.
A proximidade entre os dois Estados também atrai os profissionais. A proximidade com o Rio e a admiração que tenho pelo povo mineiro foram determinantes para que eu ficasse. Hoje, não me imagino vivendo em outro lugar, declara o delegado de Betim Rafael de Souza Horácio, 31.
Dia a dia
O delegado adjunto de homicídios de Betim Thiago Saraiva, 31, chegou a Minas em 2007 e diz que são poucas as diferenças na rotina de trabalho. A diferença mais relevante é que no Rio um delegado trabalha no confronto. Em Minas é com a doutrina, diz.

COMPATILHAR: