Desde criança, ouço que o Brasil é um país abençoado, sem guerras, sem terremotos, sem furacões, sem desertos, sem desastres… Mas não é bem assim. Nosso povo joga lixo na rua, pavimenta os quintais, constrói casas nas encostas de montanhas e depois desmata os cumes… Resultado? Milhares de mortos soterrados ou afogados nas enchentes.
Porém, ao que parece, Deus é brasileiro! Veja-se que em 2014, como um alerta, a barragem da Herculano Mineração, em Itabirito, rompeu-se, resultando em três mortes. Os motivos? Estavam depositando rejeitos em ampliação da barragem e houve falha na drenagem. As autoridades irresponsavelmente ignoraram os avisos e os perigos dos milhares de barragens pelo país.
Então, um ano depois, foi a vez de Mariana, com 19 mortes, e ainda provocando o maior desastre ambiental da história brasileira e do mundo. Os 62 milhões de metros cúbicos de lama mataram o rio Doce, afetando 230 municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
Com este segundo aviso, seria de esperar que as autoridades nacionais ou, ao menos, as autoridades de Minas Gerais, passariam a atuar responsavelmente sobre as barragens, mas não foi assim e em 25 de janeiro último, mais uma barragem mineira, a de Brumadinho, rompeu-se e provou o maior desastre com rejeitos de mineração. Contam-se 310 mortos. E os 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro foram parar no rio Paraopeba.
E tudo isso acontecendo pertinho da capital mineira, Belo Horizonte. Será que agora as autoridades escutarão os avisos inefáveis dos fatos? E não me refiro somente ao estado mineiro e nem somente de rejeitos, há muitas hidrelétricas também. E não nos esqueçamos dos nucleares, como o vazamento na mina de urânio Church Rock nos Estados Unidos em 1979.
Em Minas, há barragens que, comparadas à de Brumadinho, são gigantes, como a barragem de Itabiruçu que comporta até 222 milhões de metros cúbicos. No total, são 357 barragens de mineradoras em Minas, sob-responsabilidade da Agência Nacional de Mineração (ANM), no país totalizam 790, ameaçando muitas cidades, como Congonhas, cidade histórica de Minas que tem uma barragem a apenas 250 metros de distância.
A Vale tem 175 barragens, das quais 56 (51 em Minas e 5 no Pará) são classificadas como de alto dano potencial associado, ou seja, com possíveis perdas de vidas humanas e prejuízos sociais, econômicos e ambientais em caso de rompimento, segundo a Agência Nacional de Águas. A barragem que se rompeu em Brumadinho era classificada como de baixo risco, assim como a de Mariana. A mesma ANA aponta 1.124 reservatórios de alto risco no país.
A quantidade de mortos denuncia a inoperância dos servidores públicos. Não somente dos que deveriam fiscalizar, mas foram omissos, também dos delegados que deveriam apurar os crimes e criminosos, dos promotores públicos que deveriam processar os responsáveis pelos mortos e dos juízes que não puniram. Sai mais barato pagar as indenizações do que prevenir os incidentes… O que será que os cidadãos precisarão fazer para que as autoridades e políticos façam alguma coisa?

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