Após o governo federal anunciar, em dezembro de 2011, o investimento de R$ 4 bilhões para frear a epidemia de crack no Brasil, o governo mineiro foi na contramão e suspendeu uma de suas principais iniciativas de combate à droga: as abordagens de rua feitas pelo programa Aliança pela Vida. Lançado há oito meses, a ação do Estado ficou metade desse período sem realizar sequer um mutirão de acolhimento aos dependentes químicos que aceitam tratamento.
Quatro meses também foi o tempo que o governo mineiro demorou em solicitar à União parte da verba bilionária destinada ao enfrentamento ao crack. O projeto, necessário para a liberação do recurso, só foi apresentado em 4 de abril, sendo que o dinheiro estava disponível desde 7 de dezembro.
Sobre a demora, a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) informou que está dentro do prazo estabelecido pelo governo federal. Já sobre o Aliança pela Vida, a justificativa é que as abordagens foram suspensas para um período de reavaliação do programa, que foi retomado no último dia 28 de abril, com novo formato. A pasta informou ainda que outras ações do Aliança pela Vida não foram interrompidas, como as campanhas de prevenção, com entrega de materiais educativos, e o SOS Drogas, que presta atendimento telefônico por meio do 155.
A primeira ação após o período de interrupção ocorreu no bairro Vila Sumaré, na região Noroeste da capital, e teve como novidade apresentações de música, recreação e palestras. Porém, pouco se fez no que se refere à internação. A Seds informou que, na ocasião, 18 pessoas manifestaram interesse em se internar e receberam encaminhamento e orientações. No entanto, o órgão não soube comunicar quantos, de fato, iniciaram o tratamento, o que, na opinião de especialistas, demonstra a falta de acompanhamento dos casos.
O resultado completo é que, em oito meses de existência, o Aliança pela Vida acolheu 196 usuários de crack para internação. Desse total, 57% permaneceram em tratamento. Isso considerando os 178 atendidos em 2011 (veja quadro) e os 18 deste ano, após a pausa nas ações.
A falta de continuidade da iniciativa, de acordo com a conselheira da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), a psiquiatra Ana Cecilia Tetta Roselli, desestimula os próprios usuários. Muitos querem e procuram socorro, mas não encontram atendimento adequado e permanecem no vício, afirmou.
Sobre a periodicidade dos atendimentos de rua a partir de agora, o Estado informou que elas serão mensais, fazendo valer a prerrogativa de continuidade e sistematização das ações. No entanto, a Seds não soube dizer ainda quando e onde ocorrerão abordagens em cracolândias de Minas.
O governo mineiro também resiste em adotar a prática da internação involuntária, que é aquela feita sem o consentimento do dependente. Só acontece no Estado a internação voluntária, com a aceitação do paciente, ou a compulsória, por determinação da Justiça.

COMPATILHAR: