A cada dois dias, cinco organizações religiosas foram registradas em Minas Gerais nos últimos sete anos. Segundo dados da Receita Federal, de 2010 até o primeiro mês de 2017, 6.495 entidades ligadas à religião foram registradas no Estado pela Receita Federal, sendo 5.071 matrizes e 1.424 filiais. No Brasil, o número chegou a 67 mil, cerca de uma por hora, no mesmo período. Além de novos templos, também entram nessa conta associações religiosas, entidades beneficentes e ações sociais.

 

Obviamente, a maioria das organizações são cristãs, como a Assembleia Pentecostal Avivamento Puro, registrada em 2013, e a Associação da Igreja do Poder de Deus A Fortaleza, Tocha de Fogo e Fonte de Água Viva, de 2015. Mas outros grupos também marcam presença, como o Centro Swami Vishwananda, que segue o hinduísmo, aberto em 2014, e o Datcha Xamanica Thathanka Iyotake, de 2012, que defende o xamanismo.

Diversos motivos podem justificar essa ampliação, que vão desde a expansão do pluralismo religioso no país a fraudes contábeis e ocultação de patrimônio. Para o professor de teologia do departamento de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Rodrigo Coppe, um dos motivos é que a religião cristã tem deixado de lado a salvação da alma e apostado no sucesso da pessoa. “A salvação é agora e aqui, não mais eterna, no além. Eles defendem que é agora que Jesus precisa ser encontrado, e o sinal disso é ser bem-sucedido”, detalhou.

Para ele, esse número também é consequência de uma mobilidade religiosa que não existia há algumas décadas. Coppe explica que são comuns as pessoas que frequentam diversas denominações, selecionando aspectos religiosos que lhes agradam e ignorando dogmas e tabus mais restritivos.

“Estamos em uma sociedade plural, em que temos várias possibilidades, e isso atinge também as religiões”, explicou. “Somos bombardeados com inúmeras possibilidades, e vivemos igrejinhas particulares: cada um cria a sua maneira de pensar, a relação com o divino”, contou.

Alternativa

Foi justamente por discordar dos ensinamentos das igrejas que frequentava que o pastor Gregory Rodrigues decidiu fundar sua própria organização. Homossexual, ele percebeu que a rejeição quase total dos templos evangélicos às orientações sexuais diversas acaba por excluir um público que ainda busca um conforto espiritual.

“A necessidade de criar um novo ministério ocorreu depois que várias pessoas me viram na televisão, em debates, defendendo uma postura diferente da teologia tradicional contra a exclusão do público LGBT”, afirmou.

Na Igreja Apostólica Bênção e Vida, gays, lésbicas e transexuais são bem-vindos, desde que não levem uma vida promíscua. “Deus não faz acepção de pessoas, isso está na Bíblia. Apresentamos uma nova interpretação para as pessoas viverem suas sexualidades, mas com respeito e fidelidade ao parceiro ou parceira, sem abandonar a fé”, explicou.

Números

6.495 organizações religiosas foram abertas entre 2010 e 2017

2,5 igrejas foram abertas por dia no Estado, cinco a cada dois dias

Filiais ajudam na expansão

O número de novas organizações religiosas divulgado pela Receita Federal inclui, também, as filiais de templos já existentes. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, por exemplo, iniciou em 2015 uma campanha para abrir 60 novos templos nas regiões metropolitana e Central do Estado. A direção fornecia equipamentos como cadeiras, caixa de som, notebook, microfone e Bíblias, cabendo ao responsável apenas a manutenção do espaço.

“Foram abertos 45 templos que estão ativos: 15 em cidades onde ainda não existiam igrejas, e 30 em bairros onde já havia membros, mas ainda não havia templos”, declarou a igreja, por meio de sua assessoria de imprensa.

Saiba mais

Presença. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), Minas Gerais conta hoje com 20.282 organizações religiosas ativas. O número representa 10,56% do total do país, que tem 191.997 CNPJs ativos para o mesmo propósito.

Ranking. O Estado com maior número de organizações religiosas é São Paulo, com 51,2 mil entidades ativas, seguido pelo Rio de Janeiro, que tem 28,7 mil grupos em funcionamento. Minas Gerais aparece em terceiro lugar na lista.

Quantidade. Juntos, os três Estados são responsáveis por mais da metade das organizações religiosas do país: 52,18%.

Procedimento

Processo de abertura é burocrático como o de qualquer empresa

Começar uma nova igreja não é exatamente um processo simples. Os passos são parecidos com o pesadelo burocrático que um empreendedor encara no Brasil para abrir uma nova empresa.

Primeiro, é necessária a elaboração de um estatuto, aprovado em assembleia. Esse documento deverá ser registrado em cartório. As taxas variam, mas giram em torno de R$ 500. Normalmente, também é necessária as presenças de um contador e de um advogado, que orientem na questão legal da organização. É proibido, por exemplo, que as regras da igreja violem alguma lei vigente no país, mas não existem requisitos teológicos ou doutrinários para a criação de uma igreja nem um número mínimo de fiéis.

Após isso, é necessária a inscrição na Receita Federal, que expedirá o número do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), que pode demorar até 30 dias úteis. De posse desse número, é necessário procurar as receitas do município e do Estado para garantir o direito à imunidade tributária.

O pastor Gregory Rodrigues ainda luta com a burocracia para registrar sua Igreja Apostólica Bênção e Vida. “Estamos passando pelo processo, mas precisamos de coisas como uma sede fixa antes de conseguir regularizar tudo”, afirmou. Entre as dificuldades, está a falta de uma sede própria. “Ainda estamos procurando um lugar”, afirmou.

 

Fonte: O Tempo Online||

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