No dia em que Minas bateu o recorde de mortes pela Covid-19, com 95 óbitos confirmados em 24 horas, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, concedeu entrevista exclusiva ao jornal Estado de Minas na qual projetou início da desaceleração no número de novos registros em 15 dias, embora tenha destacado que não há certeza quanto a isso.

“Essa curva no topo, ela pode ser a ponta de um pico ou um platô. Não me parece que esse platô vai ser por muito tempo, mas é impossível prevermos com certeza”, destacou. Ele creditou o alto número demortes adicionadas ao boletim ontem a descompasso entre as datas dos óbitos e o lançamento nos registros. De acordo com o balanço de ontem, Minas tinha 98.741 casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus. Desses, 2.166 resultaram em óbito,  71.478 se recuperaram e 25.097 pacientes continuam em acompanhamento.

Disse ainda que, no momento em que se confirmar desaceleração da curva de transmissão, o governo pretende ampliar a testagem, que, de forma ideal, deveria ser realizada em 2% da população de 21 milhões de mineiros, mas depende da disponibilidade de insumos. Ao comentar a disputa judicial de bares e restaurantes com a Prefeitura de Belo Horizonte para reabrir (uma liminar obtida pelos estabelecimentos foi cassada ontem), aconselhou os estabelecimentos a não voltar a funcionar sem segurança. “Estamos reavaliando o Minas Consciente agora. Nós temos protocolos de cuidado e de manejo para todas atividades econômicas. Então, espero que aqueles que vierem a abrir sigam os protocolos adequados para não colocar ninguém em risco”, defendeu.

Pico ou platô


“Temos duas projeções. Na primeira, a epidemia tem um aumento muito rápido, e essa explosão de casos, no geral, está relacionada à desassistência ou à morte sem assistência e, depois, ela acaba caindo. Mas isso não significa que, depois, não possa ter algumas outras ondas. A outra técnica que, quase todos no mundo tentam seguir e que em Minas conseguimos com ela efeitos satisfatórios até o momento, é que, com o isolamento, a gente vai ter um incremento, um aumento progressivo dos casos, e, depois uma queda progressiva dos casos e não aquela queda abrupta e verticalizada. Nesse momento, é o que está acontecendo. Tivemos aumento ao longo do tempo. Acelerou um pouquinho no último mês, conforme tínhamos avaliado em nossas projeções, e, agora, estamos fazendo uma curva. Essa curva no topo, ela pode ser a ponta de um pico ou um platô. Não me parece que esse platô vai ser por muito tempo, mas é impossível prevermos com certeza”, disse.

Mortes


“O que vimos em algumas projeções nossas é que, do ponto de vista de necessidade por internação hospitalar, estamos passando praticamente há uma semana numa flutuação sem aumento na demanda por leitos ocupados. Do ponto de vista de óbitos, temos que separar muito… Às vezes, as pessoas confundem, o que é a data do óbito do que é a confirmação pela Secretaria de Saúde. A confirmação não é necessariamente a data do evento. Hoje tivemos a confirmação de um número até grande de óbitos, mas vários desses óbitos f oram ao longo do final de semana. Temos óbito que entrou aqui que ocorreu há 39 dias. Uma análise baseada na confirmação, às vezes, não vai ser tão fidedigna. Para nós aqui, que avaliamos a data do óbito, não temos tido tendência de crescimento, neste momento”.

Projeções


“Não posso ainda falar que estamos em tendência de queda, mas parece que não temos mais uma tendência de crescimento. Isso é bom. Como você falou, as pessoas ficam angustiadas para ver se não vai descer, se não vai poder flexibilizar mais rápido, essa angústia do povo é a mesma angústia nossa aqui. Primeiro a gente para de subir para depois cair. O platô tem relação com comportamento da epidemia nas pessoas, ou seja, o tanto de pessoas que fariam o mecanismo de barreira que pudesse parar a epidemia. Dentro das nossas projeções, é possível que, em 15 dias, possamos ter um início de queda. Mas prever o futuro é complexo. Tenho receio de afirmar qualquer coisa que envolva prever o futuro”.

Isolamento


“O mineiro tem comparado com o Brasil, um dos comportamentos mais adequados que nós vimos. Por outro lado, é de se esperar que as pessoas comecem a entrar em exaustão. O isolamento, naturalmente, fica um pouco mais difícil. Por outro lado, existe um aprendizado coletivo. Lá em março, quando entramos no isolamento, ninguém sabia direito o que era preciso fazer para evitar a transmissão da doença. Usava máscara ou não? Como usar o álcool em gel? Como tirar a máscara? Qual era o distanciamento entre as pessoas? Como se comportar no ônibus? Como você se comportava em casa? E houve um aprendizado coletivo que, naturalmente, traz o benefício de as pessoas se cuidarem mais, de uma forma espontânea. Na medida em que tivermos mais clareza que os leitos estão menos ocupados, temos condições de voltar, progressivamente, ao dia a dia. Estou muito confiante neste sentido. Várias regiões de Minas têm tido pequenos progressos ao longo das últimas três semanas. Deve estar chegando a vez da Região Central ter progresso também”, explicou.

Minas Consciente


“Na minha visão, muitas pessoas fizeram uma interpretação um pouco equivocada do que queríamos sinalizar com Minas Consciente. Não era programa com foco em flexibilizar. Era um programa do ponto de vista da saúde com foco muito maior num isolamento coordenado. Tínhamos naquele momento, com diagnóstico da nossa equipe, que o estado estava um caos. Havia regiões que estavam muito abertas. Outras estavam muito fechadas. Tinha misto numa mesma região. Município vizinho do outro estava funcionando tudo, o outro não estava. Nosso objetivo era: um isolamento coordenado, em que o Estado oriente que a região tal possa estar mais aberta ou não. De forma que os prefeitos e secretários de saúde entendam com clareza qual é a visão do Estado, mesmo que eles tomem as decisões deles”.

Resultado


“Até na sexta (17), eram 215 municípios aderidos ao Minas Consciente, que não correspondiam a 30% dos municípios mineiros, porque não tivemos uma adesão alta. Nós passamos de 240 municípios, mas mesmo assim não são 853. Na filosofia nossa, entendemos que os municípios têm que ter autonomia para decidir. O objetivo é sinalizar com clareza aos municípios o que era uma boa prática de isolamento, principalmente o tempo correto. De uma forma geral, isso aconteceu. Teve momento em que fiz videoconferência com todos os secretários municipais de saúde, passando região por região, discutindo com eles as tendências que nós víamos, o que achávamos que deveríamos fazer, mesmo não intervindo. A grande maioria dos municípios fez ajustes no sentido de seguir, de uma forma ou outra, as orientações do tempo, dos direcionamentos da epidemia na região dele”.

Fonte: Estado de Minas

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