Tendência mundial, a geração distribuída, que permite ao consumidor gerar a própria energia e, assim, reduzir em até 70% a conta de luz, ganha cada vez mais adeptos em Minas Gerais. O Estado tomou a dianteira e detém 18,8% das estações do país, figurando no primeiro lugar no ranking nacional. De olho na possível economia, empresas, residências e até o poder público, por meio da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), aderiram às estações e fazendas solares.

A energia fotovoltaica, vale ressaltar, é a principal fonte dos projetos. Das 48.625 estações que funcionam em solo tupiniquim, 48.380 são movidas pelo sol.

Recentemente, o Mercado Central e a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), em parceria com a Cemig, anunciaram que vão aderir à tecnologia. Para isso, a energética vai investir R$20 milhões em uma fazenda solar de 5 megawatts (MW) de potência no Norte de Minas e vender as cotas para as lojas do Mercado e as fábricas associadas à Fiemg. Até 2020, conforme o diretor-presidente da Cemig GD, Tarcísio Andrade Neves, serão implantadas 30 unidades desse tipo.

Nas fazendas solares, que começam a pipocar no Estado, as empresas conseguem reduzir até 15% da conta de luz. Voltadas a comércios e pequenas indústrias, as grandes estruturas de painéis fotovoltaicos são montadas em áreas de grande incidência solar por meio de consórcios e o crédito da energia gerada é distribuído entre as organizações que “alugam” as placas.

Ou seja, é uma espécie de “assinatura de energia”. “A eletricidade é gerada em outro local e injetada na rede da Cemig. Os créditos são abatidos na conta de quem ‘aluga’ as placas”, explica o diretor-presidente da Cemig GD. A vantagem desse modelo é que não é necessário fazer investimentos na própria empresa. Há casos, por exemplo, de grandes construtoras que utilizam as fazendas solares para reduzir as contas de luz das obras em que atuam.

Já no caso das estações residenciais de geração distribuída, a energia gerada durante o dia abastece a casa. Caso ninguém use o que é gerado, a energia é injetada na rede. À noite, quando os moradores retornam, eles usam a energia da Cemig. No fim do mês, há um encontro de contas e ele só paga o excedente. Nesse caso, a redução na conta de luz chega a 70%. O mesmo modelo pode ser utilizado para empresas.

Conforme o consultor da Loja Elétrica, Herbert Abreu, embora as fazendas estejam em alta, investir em uma estação residencial vale a pena pelo fato de o investimento se pagar em alguns anos. Ele explica que a partir de R$ 10 mil de investimento é possível ter uma estação em casa. Além do dinheiro, a pessoa precisa de um telhado ou laje de 12 metros quadrados. Nesse caso, é possível implantar uma usina de 5 KW.  Com a instalação, uma conta de R$320 mensais pode cair para R$100. “A pessoa vai pagar a taxa de iluminação e a taxa fixa”, diz o consultor.

O presidente da CMU Energia, Walter Fróes, pondera que as fazendas são alternativa ideal para quem não tem verba para investir ou espaço para implantar a usina. Ou, ainda, para as empresas que alugam o imóvel onde atuam. A própria CMU opera fazendas.  “Temos quatro plantas e vamos construir mais dez”, diz o executivo. Em casa, ele tem uma estação residencial. “Investi R$80 mil, que foi pago em cinco anos”, afirma.

Investimento na geração distribuída alivia o bolso e ajuda na manutenção dos reservatórios 

Embora o Brasil tenha demorado a homologar os sistemas de geração distribuída, conforme afirma o consultor no setor energético e ex-conselheiro de Furnas, Roberto D’araújo, a expectativa é a de que a tecnologia deslanche cada vez mais rápido nos próximos anos. Ele destaca que os benefícios para o consumidor são muitos, especialmente com relação à economia e à manutenção dos reservatórios.

Atualmente, o nível dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro Oeste está em 26%. O ideal para que não haja risco de desabastecimento de energia é 70%.“Quando a pessoa ou empresa gera a própria energia ela deixa de gastar água dos reservatórios, fazendo com que o sistema seja mais sustentável”, explica o especialista no setor.

Além disso, a autogeração diminui a necessidade de ligar as térmicas, cujos combustíveis são mais caros do que a água das hidrelétricas. Isso significa que se muitos consumidores investirem em geração distribuída, a bandeira vermelha da conta de luz pode não ser acionada, aliviando o bolso dos brasileiros.

Vale ressaltar que a bandeira vermelha encarece a conta de luz em até R$ 5 a cada 100 quilowatts/hora. Um casal com filho consome, em média, 250 KWh por mês. Ou seja, a família tem um custo extra de R$12,5 sempre que a bandeira é hasteada.
D’araújo afirma, ainda, que os sistemas de autogeração ajudam a aliviar as redes das distribuidoras durante o período em que há incidência solar.

“As distribuidoras provavelmente terão que investir em filtros para que a retomada da carga não seja muito brusca quando o sol se põe e todos começarem a usar a eletricidade das concessionárias para não sobrecarregar o sistema, mas os benefícios são muito maiores”, diz.

Além Disso

Participantes da edição de 2018 do programa de empreendedorismo universitário do Instituto TIM (AWC) estão desenvolvendo startups com foco em sustentabilidade e meio ambiente. Nesse ambiente, nasceu a mineira Envesty, plataforma destinada ao investimento em energia solar. Levando em conta os altos custos da energia elétrica, a equipe identificou uma boa oportunidade de negócios, com foco em financiamento pulverizado.

“Ao entender melhor o mercado, percebemos que o principal problema que torna a energia solar menos atrativa é o alto investimento inicial. Com isso, surgiu a startup, para oferecer uma nova forma de financiamento para projetos de energia solar, menos burocrática e com juros menores, utilizando o modelo de P2P lending e também outras fontes de financiamento”, contam os desenvolvedores do projeto, Roger Mathews Arruda Santos, estudante de Sistemas da Informação e Gustavo Soares Eleutério, estudante de engenharia elétrica.

 

Fonte: Hoje em Dia ||

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