?Fiquei sem consultar durante 40 dias, justamente nas últimas semanas de gravidez. Quando finalmente marcaram a minha consulta, a minha filha já havia morrido dentro de mim há dois dias?, é o que afirma Mônica Ferreira da Silva que, no dia 26 de março, recebeu a notícia do falecimento de sua primeira filha. Segundo ela, essa perda poderia ter sido evitada se o seu pré-natal tivesse sido feito da maneira correta, com as consultas médicas de 15 em 15 dias.
De acordo com Mônica Silva, nas informações de seu ?cartão da gestante?, onde são anotados todos os procedimentos durante a gravidez como ultra-sons, consultas e observações necessárias, sua última consulta, antes do dia 26 de março, teria acontecido no dia 17 de fevereiro. Segundo ela, outras datas para retorno foram marcadas, mas sempre eram desmarcadas por funcionários da Secretaria de Saúde, que afirmavam que não havia médicos no local para atendê-la e que nada poderia ser feito.
?Das seis consultas de que toda grávida tem direito no Antônio Vieira (edifício onde fica sediada a Secretaria de Saúde), só tive três e, mesmo estando no 9º mês de gravidez, não priorizaram meu atendimento? , afirma. As consultas que são feitas na sede da Secretaria acontecem somente nos últimos meses de gravidez. A assistência inicial é feita nos Programas de Saúde da Família (PSFs) do bairro onde mora a gestante.
O caso de Mônica não foi o único, pois, segundo dados da Santa Casa de Caridade de Formiga, entre o mês de março e abril deste ano foram registradas as mortes de quatro bebês, todos natimortos, ou seja, bebês que morreram dentro do útero materno.
Indignado com a morte da filha, Cláudio Antônio Resende, marido de Mônica, decidiu denunciar formalmente o fato ao Ministério Público. A Santa Casa de Caridade também será investigada, já que a constatação dos óbitos foi feita em suas dependências.
Procurado para falar sobre a morte dos bebês, o provedor da Santa Casa de Caridade, Geraldo Couto, afirmou que a instituição possui uma Comissão Intra-hospitalar de Verificação de Óbitos Materno Infantil e que esta já analisou todos os prontuários dos casos de natimorto que ocorreram até o momento em 2009. De acordo com ele, os relatórios foram encaminhados à Secretaria Municipal de Saúde de Formiga, aos cuidados da enfermeira responsável por dar segmento às verificações de óbitos nos serviços de atendimento de pré-natal. Ainda segundo o provedor, todos os quatro óbitos (três em março e um em abril) tiveram a causa da morte como ?indeterminada? pelos médicos que assistiram ao parto.

Outra denúncia
No mesmo dia em que Cláudio fez a denúncia, outro pai, João Gonçalves Pereira, conhecido como João do Povo, se dirigiu até o MP para pedir que sejam investigados os procedimentos realizados durante o parto de sua filha, que nasceu no dia 29 de março e precisou ser transferida com urgência para Belo Horizonte, após aspirar parte do líquido amniótico (líquido que fica dentro da placenta e é essencial para o desenvolvimento normal do feto), o que lhe causou séria infecção pulmonar. Em Belo Horizonte, também foi constatada uma ?distensão? no braço direito da criança, provocada provavelmente durante o parto, que teria sido bastante complicado, uma vez que a criança nasceu com mais de 4 quilos. O bebê já retornou a Formiga e precisará de um cuidado especial dos pais e de fisioterapeuta para recuperar os movimentos do braço direito.
?Ainda bem que o meu caso foi menos complicado e minha filha está viva, mas quero saber o que aconteceu, a última consulta da minha esposa deveria ter sido no dia 27, onde veriam que o bebê estava grande demais para nascer de parto normal, mas remarcaram para o dia 31, depois que insisti muito, porque queriam que a consulta fosse no dia 5. Na Secretaria de Saúde, me disseram que no dia 27 não teria médico para atendê-la e, por fim, minha filha nasceu dia 29 e teve todos esses problemas?, afirmou João. ?Durante toda a gravidez da minha esposa, por várias vezes remarcaram consultas e muitas vezes o ultrassom era feito 10, 15 dias antes da consulta e nesse tempo muita coisa pode estar diferente? , completa. João diz que a denúncia é uma forma de prevenir que outros casos como o seu aconteçam. Depois de ver a filha internada por oito dias no Hospital Sophia Feldman, na capital do Estado, decidiu dar a ela o nome ?Vitória?.
Secretaria de Saúde
Procurado para falar sobre o assunto, o secretário adjunto da pasta, José Tourinho Lima, afirmou que um conselho já foi formado para averiguar as denúncias. Sobre os cancelamentos das consultas, Tourinho explicou que a situação está realmente séria e que as providências cabíveis já estão sendo tomadas. ?No momento, temos cerca de 350 gestantes precisando de nossos serviços e apenas dois médicos para atendê-las e, agora, temos que criar meios para contratar esses profissionais? , afirmou.
No Ministério Público, as informações são de que já começaram as investigações, mas que só será instaurado inquérito civil se forem encontrados indícios que comprovem negligência por parte da Secretaria de Saúde ou da Santa Casa de Caridade da Cidade.

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