É impressionante como os mesmos autointitulados especialistas em tudo atuam no Facebook. Arrogam-se entendimentos que fogem à capacidade e que só se adquirem em instituições de ensino, como o cálculo, estatística, pesquisa científica, etc. Passam os anos e esses arrogantes tornam-se ainda mais ousados.

O ano de 2016 foi marcante para o Brasil, tivemos a pílula do câncer e a microencefalia. Esses especialistas de Facebook, pessoas aparentemente inteligentes e articuladas são presas fáceis de “teorias de conspiração”. Naqueles dias, estavam atribuindo a microencefalia às vacinas e outras causas improváveis. Afinal, culpar vacinas parecia ser mais interessante, ainda mais que quem atribuía ao vírus Zika era uma cientista, mulher e de Pernambuco.

No final, a Zika alastrou-se pelo mundo e provocou prejuízos ao Rio de Janeiro, pois teve atleta que desistiu de vir ao Brasil e muitos turistas cancelaram suas reservas a poucos dias da Olimpíada.

A chamada pílula do câncer virou sensação nas redes sociais pelo alegado poder de cura e suposto boicote farmacêutico. A fosfoetanolamina sintética foi desenvolvida há mais de 20 anos por um químico do Instituto de Química de São Carlos. Foi usada por anos, sem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sem verificar-se a eficácia, a quantidade necessária, o tempo de aplicação e, principalmente, a toxicidade do remédio. Aliás, distribuição obrigada pela Justiça e depois aprovada pelo Congresso…

Para que qualquer remédio entre no mercado tem que passar por algumas fases de teste. Inicia-se com a chamada Fase Pré-Clínica, em que as drogas são testadas em animais, se for tóxica ou não funcionar, ela nem é testada em humanos. Na Fase 1, o teste é feito com algumas pessoas saudáveis para se verificar se a substância é segura, sem verificar a eficácia. Na Fase 2, uns poucos voluntários recebem a droga. Na Fase 3, o teste é feito em muitas pessoas, buscando avaliar a eficácia da droga. Após a comprovação da eficácia, o medicamento pode obter a licença para a produção e comercialização.

E, muito importante, quando se testa algum medicamento, os pacientes voluntários tomam pílulas sem saber se é o medicamento ou o placebo (O placebo é uma pílula de algum material inerte que não prejudica nem beneficia o organismo, como açúcar ou farinha). Também os aplicadores não podem saber quem toma remédio e quem toma placebo. Isso é feito para se eliminar o efeito da sugestão ou qualquer subjetividade da interpretação no tratamento. É conhecido como método duplo-cego.

Pois é, a miraculosa droga fosfoetanolamina não passou no primeiro teste. Descobriram que essa substância era inerte, havia outra, substância, a monoetanolamina, com alguma atividade, mas insuficiente.  Essa não foi a primeira vergonha da USP, lembram da descoberta da fusão a frio pelos pesquisadores desta universidade? Estampou a primeira página da Folha de São Paulo em 19 de abril de 1989. E o único “cientista” que nega as mudanças climáticas, também é da USP! Que vergonha!

Hoje, a droga milagrosa da vez é a cloroquina, um remédio com efeitos colaterais terríveis. Alguns políticos catatônicos e psicóticos a adotaram. E tem até médico defendendo o uso sem nenhuma evidência científica. Que os deputados e senadores não sejam seduzidos e continuem sendo o pendor da Ciência e da racionalidade da Pátria.

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