Congresso. Para o país, nenhuma perda. Risco mesmo só para os parlamentares. É que a população pode, com a paralisação, se convencer de que eles não fazem falta ao país e decidir trocar todos eles nas eleições de 2018. Brasília estará vazia, o que não significa que muita coisa pouco republicana não esteja ocorrendo. É bom não nos esquecermos do samba de Chico Buarque “Vai Passar”, que, composto nos anos 90, retrata com perfeição o Brasil de hoje: “Dormia a nossa pátria mãe tão distraída,/ Sem perceber que era subtraída,/ Em tenebrosas transações”…

E esta será, sim, uma semana de tenebrosas transações em busca da recomposição do governo Temer, que, pressionado, terá que fazer mudanças em seu ministério por exigência dos parlamentares mais ousados do chamado “centrão”, um grupo que, evidentemente com alterações em sua composição, comanda o Parlamento desde a Constituinte de 1988. O grupo tem sede de cargos e quer mais espaço para sustentar as propostas do governo. Cargos que nunca vêm sozinhos, mas sempre acompanhados de recursos para atendimento das chamadas “bases”.

Temer, se quiser levar adiante algumas de suas propostas, especialmente a reforma da Previdência, sabe que terá que entrar no jogo. É assim que se faz política num país onde os eleitores não votam em propostas, mas em pessoas. E as pessoas vão moldando o comportamento político e o voto ao sabor de tenebrosas tentações. A este ir e vir ao balcão de negócios deram o pomposo nome de “presidencialismo de coalizão”, única forma de se assegurar a governabilidade num país que tem um Parlamento fragmentado, com representantes de mais de 20 legendas, todas sem compromissos programáticos sérios.

Enquanto perdurar essa realidade de partidos fracos, sem compromisso com uma linha programática, enquanto tivermos um eleitorado que também não tem posições políticas, que se comporta como “folha de bananeira”, pendendo para onde toca o vento, vamos viver assim. Com governos sem legitimidade para fazer o que é preciso ser feito, pois foram eleitos com base na mentira, prometendo algo sabendo que não fariam aquilo que prometeram.

Não imaginem que apenas em Brasília existam um balcão de negócios e coalizões pela governabilidade. Esta é uma realidade nacional em todos os níveis de poder. Basta dar uma olhada nas Assembleias legislativas e nas Câmaras municipais das cidades maiores. Em qualquer uma delas, o Executivo paga – o termo é esse mesmo –, nas mais diferentes formas, pelo que deseja ser aprovado. E, quanto mais “bravo” é o governante, mais raivosa a oposição, maior é o preço dos situacionistas.

Aqui e ali começa a surgir alguma resistência a esse tipo de comportamento. Alguns prefeitos, com visão política, e sem discurso de não político, trabalham para mudar essa relação Executivo/Legislativo. Para conseguirem isso, vão precisar de apoio popular. Que busquem, mas que fujam da tentação populista do “eu” faço.

COMPATILHAR: