O universo de mineiros que buscam ganhar a vida fora do país alcançou neste ano o maior nível desde 2011. Dados da Receita Federal sobre brasileiros que declararam saída definitiva do país mostram que de janeiro a outubro 788 mineiros atravessaram as fronteiras à procura de uma vida melhor.

A crise econômica e os altos índices de violência são apontados como os principais motivos por aqueles que escolhem recomeçar a vida no exterior.

Os números ruins do Brasil na economia – com aumento do desemprego e retração no Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços do país) – a partir de 2015 refletiram diretamente no número de brasileiros que procuraram oportunidades fora.

Em 2014, quando a recessão começou a dar os primeiros sinais, 490 mineiros deixaram o país. Em 2015, o número aumentou para 566. No ano passado, esse universo voltou a crescer significativamente, com a partida de 758 mineiros para o exterior.

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No Brasil

Os dados de Minas Gerais acompanham o cenário nacional. De acordo com os registros da Receita, até o mês passado, em todo o Brasil foram 21.236 declarações de saída definitiva. Ainda faltando dois meses para o fim do ano, o número já é maior do que o de 2016, quando 20.493 pessoas deixaram o país. No ano passado, o crescimento foi considerável em relação a 2015, quando 14.612 brasileiros foram para o exterior.

Os Estados Unidos seguem como principal destino dos brasileiros e onde são feitos os maiores investimentos. Segundo o Banco Central, em 2016, dos mais de US$6 bilhões investidos por brasileiros em imóveis no exterior, US$2,3 bilhões foram para a terra do Tio Sam – mais de R$ 7 bilhões.

Diretor de uma imobiliária paulista especializada em negócios em Miami, nos EUA, Sylvio Martini conta que a questão da segurança é a mais citada por brasileiros que procuram opções para morar no exterior. “Nos últimos três anos, a busca por imóveis perto de boas escolas públicas aumentou bastante, justamente pela razão que brasileiros estão trazendo a família inteira para Miami com intenção de ficar. Antes, a busca por imóveis era mais direcionada para investimentos ou lazer e não para moradias”, explica Sylvio.

Oportunidades 

A professora universitária Alexandra Gomide, de 47 anos, partiu para Portugal em maio do ano

Alexandra se mudou para Portugal e quer levar toda a família
(foto: Arquivo pessoal)

passado e, apesar da saudade da família e dos amigos, não pensa em voltar tão cedo. “As únicas coisas que me fariam voltar seriam uma vida profissional frustrada ou meus filhos não se adaptarem. Nenhuma das duas coisas ocorreu. Logo, não penso em voltar. Na verdade, pretendo convencer o resto da família a vir”, conta Alexandra.

Ainda que com uma carreira bem-sucedida, o motivo que levou Alexandra a deixar o Brasil foi o que leva a maioria dos brasileiros a deixarem sua terra natal: “Vim em busca de qualidade de vida, tranquilidade, segurança e melhores oportunidades para meus filhos”, explica. Em Portugal, ela abriu uma empresa de consultoria e uma escola de programação e robótica. “Apesar de uma dinâmica de trabalho intensa, tenho uma vida muito menos acelerada e menos estressante. Não há dinheiro que pague poder andar à noite pelas ruas”, afirma Alexandra.

A busca por uma vida mais tranquila e segura para sua família também foi o principal motivo para que Wesley Carvalho, 38 anos, tentasse a vida no exterior. Depois de ter trabalhado em imobiliária e hotel na região da Savassi, Zona Sul de Belo Horizonte, o mineiro buscou oportunidades em outros países. Trabalhou no Uruguai e na Argentina, antes de ir para Portugal, onde ficou de vez.

Wesley Carvalho esteve no Uruguai e Argentina e hoje vive em Portugal
(foto: Arquivo pessoal)

“Nasceu em meu coração enorme vontade de tentar uma vida mais tranquila para mim e minha família, com mais segurança e qualidade. Foi quando decidi sair do Brasil”, conta Wesley. Ao chegar na Europa, ele trabalhou em áreas que jamais imaginou, como a operação de máquinas agrícolas no campo, e descobriu nova vocação. “Eu nunca tinha operado uma máquina de grande porte antes e fui treinado por um ucraniano que falava muito pouco de português”, lembra. Hoje, a esposa e os três filhos de Wesley têm cidadania portuguesa.

 

 

Fonte: Estado de Minas ||

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