Não temos mar, não temos praia, mas esbanjamos túneis. E no final deles, muita luz de um grande farol, a Federação das Indústrias de Minas Gerais. No comando deste porto seguro, está Flávio Roscoe, presidente da Fiemg. E Roscoe não é apenas um otimista incansável, ele vem com dados, em forma de “V”. “V” de Vitória. Vitória contra o vírus, a pandemia, o confinamento e as crises. Não tem mágica, milagre ou alquimia, mas muito trabalho e, como Flavio Roscoe enfatizou várias vezes, a Senhora Tecnologia que, com belas ferramentas, enterrou o passado, semeia o presente, para colhermos os frutos já no fim deste 2020, prenúncio de belos 2021 e 2022.

Flávio, neste novo normal tem algo de realmente novo ou apenas uma crise piorada?  A sociedade, de fato, está passando por uma transformação. Tínhamos um processo a caminho e isso foi antecipado em alguns anos, com a pandemia. A tecnologia vai permear muito mais nossas atividades e nossas vidas. Acredito que este será o grande legado da pandemia.

Existe uma nova Fiemg?  Com certeza. Vamos aprimorar os avanços tecnológicos no nosso cotidiano. E também novas técnica e ferramentas de trabalho serão incorporadas na Fiemg. Além disso, todo o espírito de solidariedade, presente na Fiemg e nas indústrias, continuará no futuro próximo.

E um novo Flávio, existe? Todos nós, indivíduos, olhamos para nossas vidas com uma outra perspectiva, após a pandemia. Então, sim, estamos sempre mudando. É um processo da vida, só não muda quem já morreu. O novo Flávio existe e nasce a cada dia.

Sinceramente, como vai a indústria mineira? Para onde está indo?  Acredito que a pandemia deixará um legado positivo para a indústria. Ela possibilitou o acesso ao mercado consumidor direto. Possibilitou à indústria a percepção do que o consumidor quer do seu produto. Abriu também uma valorização do setor industrial. A sociedade viu a importância de ter uma indústria presente, forte e ativa em seu território; viu que não dá para depender apenas de produtos importados, porque na hora que o bicho pega, é aquele ali que está do seu lado, aquele que gera riqueza no seu país é que faz a diferença.

Qual o caminho das pedras preciosas, se ele existir? O caminho das pedras é retirar o custo Brasil, fazer as reformas estruturantes. Este é um país com potencial absurdo, mas muitas vezes, nós, brasileiros, reduzimos este potencial e atrapalhamos o desenvolvimento. É hora de todos darmos as mãos e fazermos as reformas e transformações necessárias, para que o Brasil do futuro seja um país acolhedor para as novas gerações

Qual o prejuízo? E como fugir dele? Como inverter a situação? O prejuízo já está dado, com o aumento do endividamento público. Muitas empresas perecerão. Agora, as que sobrarem ficarão mais fortes. A gente já sente uma retomada em “V”, da diconomia, diferentemente do que estava sendo previsto, por nós mesmos, pela Fiemg, uma retomada em “U”. A queda do segundo trimestre já foi um pouco menor do que esperávamos e acreditamos que vamos ter uma aceleração muito grande no terceiro trimestre e também no último trimestre de 2020, com vários segmentos se recuperando, em parte, devido às extraordinárias medidas tomadas pelo governo federal que estão mantendo a economia e os empregos vivos, no nosso país. 

Existe ou apareceu alguma oportunidade nesta crise? Oportunidades aparecem o tempo todo e acredito que o setor industrial tem uma grande oportunidade pela frente. Como eu disse, muitas indústrias de produtos, de bens de consumo, conseguiram, durante a pandemia, acessar seus consumidores; reduziram seus custos de distribuição, permitindo uma percepção maior da vontade, do desejo do consumidor, o que vai torná-las mais eficientes na hora de elaborar seus produtos e também de mudar seus processos. Acredito que o setor industrial como um todo viu novas maneiras de produzir e de se organizar. O teletrabalho chegou para ficar. O home office é uma melhoria na qualidade de vida das pessoas, em vários aspectos. Então, temos muita coisa positiva nesta pandemia e todos sairemos mais fortes.

Uma lição profissional outra pessoal, por favor. A pessoal é a valorização dos elos, das amizades, dos laços familiares. Durante a pandemia, acredito que todo mundo está valorizando mais estes pontos. Com relação à lição profissional, acredito que a grande transformação é a implementação de novas ferramentas de trabalho. Estamos presentes mesmo à distância. Acredito numa grande produtividade com estas mesmas ferramentas que já estavam à disposição, mas que, por uma barreira cultural, boa parte das pessoas não utilizava em sua vida profissional. Isso, com certeza, será um grande avanço para as sociedades mineira e brasileira.

Sem bola de cristal: existe luz no fim do túnel? Com certeza existe. Ela já está presente e visível na recuperação em “V” que mencionei. Estaremos melhor no final do ano, melhor do que julgávamos em abril ou maio, com certeza.

Sem a mesma bola de cristal, como vê 2021 e 2022? Vejo como anos de retomada. O Brasil tem um potencial de crescimento muito grande. A taxa de juros baixa vai permitir à nossa sociedade crescer de uma maneira mais rápida. Os ganhos de produtividade, que virão nos anos subsequentes com investimentos maciços, feitos tanto no parque fabril, quanto no processo de modernização das empresas, permitirão um salto muito grande no Brasil. Espero um grande 2021 e um grande 2022.

Matéria/Entrevista: Portal O Tempo

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