Quem acompanha com maior atenção o desenrolar das reuniões do Legislativo formiguense e tem alguma facilidade para perceber o que acontece, em especial nos bastidores daquela Casa, deve a esta altura dos acontecimentos estar se perguntando sobre as razões que levaram alguns vereadores a mudarem radicalmente suas posições.

Se por um lado, alguns – poucos,  é claro – abandonaram a cômoda posição de aliados a que fizeram jus por algum tempo e hoje adotam, pelo menos ao que transparece em suas falas públicas em que se mostram frontalmente contrários a certos projetos de interesse do Executivo, por outro, destacam-se alguns vereadores que tem alternado seus posicionamentos, quando viajam da crítica mais severa ao aceno claro e favorável aos pleitos do Executivo, tudo numa demonstração mais que visível de que o “toma lá da cá”, possa estar mesmo pautando tais atitudes e justificam assim, a postura que eles mesmos definem como salutar e democrática.  “A divergência de opiniões é a aplicação prática da independência entre os poderes e certeza de que estamos no caminho correto”, justificam.

Prova disto tivemos, não faz muito tempo, quando publicamente um veto acabou sendo “desvetado” tão logo o proponente do tal projeto, deixou claro em sua fala no Legislativo quando se valendo da tal imunidade, anunciou que “pau que dá em Chico, também dá em Francisco”. Aí, houve uma reunião entre as partes, cujo teor tornou-se público e culminou com o recuo do Executivo que sabiamente apagou o incêndio antes que ele se alastrasse.

O morde assopra naquela Casa tem sido prática corriqueira e o que se vê por gente da Mesa Diretora e também é claro, pelo “baixo clero” ocupante do plenário, onde ao final das contas se decide o que deve ou não ser aprovado, são demonstrações inequívocas desta peculiar forma de comunicação. Recado dado, resta-lhes apenas aguardarem o resultado almejado!

E tome pareceres jurídicos “paridos” de ambos os lados. Os do Legislativo ainda contam com o importante auxílio de um tal medidor da opinião pública para a tomada de decisões.

Estes documentos, apesar de serem concluídos, sempre trazendo em destaque a famosa expressão “SMJ”, sinalizando que de sua interpretação possa surgir alguma dúvida, são eles, via-de-regra, quase sempre voltados, ainda que de forma sutil, na direção do interesse dos que o encomendam e assim sendo, uma vez adotados, em nome deles, se justifica tudo! Até mesmo, voto contrário aos interesses do chefe maior.

Pois bem, é importante ressaltar ainda, que na última reunião, depois de todos concordarem com as declarações de alguns colegas mais afoitos que assinalaram com grifos e em letras garrafais que o clamor do povo estava indicando grande insatisfação com os rumos da atual administração, por 5 votos a 4, o Legislativo aprovou ao analisar a LDO, o artigo que dá ao prefeito a chance de, se ele assim quiser, movimentar livremente, nada menos que 20% do orçamento do ano vindouro. Como explicar tal conduta dos vereadores? Quantos milhões representam o tal “cheque em branco”?

Das críticas severas ao funcionamento mais que precário do Terminal Rodoviário; das inúmeras e reiteradas reclamações sobre a até então ineficiente operação tapa-buracos; das insinuações da existência real do grande número de “pendurados” nos cabides oficiais; das inúmeras e recorrentes apresentações de filminhos exibidos no telão do plenário, meses a fio trazendo à mostra as mazelas perpetuadas pela ineficiência de determinadas secretarias de governo para esta agora, enxurrada de elogios e de declarações de confiança no governo, por mais paradoxal que seja, o que se viu foi a aprovação do texto trazido pelo Executivo que, de quebra, ainda “ganhou” um veículo de presente de nossos legisladores. E vale ressaltar que naquele mesmo dia, a augusta Casa publicou um edital, mostrando que pretende adquirir rapidamente um novo “carrão” que custará aos cofres públicos, provavelmente, duas ou três vezes mais do que vale aquele “presentinho” que numa prova inequívoca do desprendimento de seus “convivas”, simbolicamente através das chaves, se entregou ao prefeito.

Por estas e outras, é que ousamos perguntar aqui, o que virá depois desta enxurrada de demonstrações de boa vontade? Acreditamos que o mais provável é que nosso Executivo, caso não volte atrás em sua decisão sobre o veto do projeto apresentado pela vereadora Joice Alvarenga, constate mais uma vez, que dentre os componentes de  sua base, poucos são os que se dispõem a manter afiveladas na cintura as próprias calças, relembrando aqui a fala da vereadora que não tem poupado esforços na defesa de suas ideias e que, ultimamente, se valendo de busca nos arquivos que registram os pronunciamentos havidos em um passado não muito remoto, tem mostrado como diferem os comportamentos de nossos políticos quando estes transitam de um para outro dos poderes constituídos.  Evoluíram ou regrediram? Eis a questão!

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