cabelo black power é sinônimo de identidade e afirmação para pessoas negras. No entanto, no documento que atesta a individualidade, a identidade do cidadão brasileiro, esse traço de da operadora de linha Sara Policarpo, de 25 anos, foi removido. 

Sara foi providenciar a segunda via do documento de identidade no UAI em Divinópolis. Por coincidência o fato ocorreu em 20 de novembro. Na data, celebra-se o Dia da Consciência Negra, em outras palavras é momento de reafirmar os traços das pessoas negras, a história de luta por direitos e apresentar novas reivindicações. Mas foi, nessa ocasião,que ela passou por constrangimento que a fez chorar. 

Em um post publicado em seu perfil no Instagram, ela relata que, quando foi renovar a carteira de identidade num fotógrafo disse que não seria possível ela aparecer na foto com o cabelo black. Ela teria que baixar o volume. Ela relatou a história em um post no perfil do Instagram, gerando muita indignação das pessoas com a situação de constrangimento pelo que ela teve de passar.

“Eu fui tirar a foto e tive que desfazer meu afro puf pois não poderia sair na foto o meu cabelo, mas como tenho muito cabelo eles removeram com photoshop. Fiquei sem cabelo na foto pois só assim aceitam”, escreveu.

No relato, ela informou que não foi a única a passar por esse constrangimento. Sara relatou que uma criança que foi com a mãe fazer o documento teve que passar pelo mesmo constrangimento.

O procedimento de apagar uma característica negra, o cabelo crespo com volume, é apontado como uma forma de racismo.

A reportagem do Estado de Minas entrevistou Sara, que vive com o marido e a filha em Itaúna, mas teve que ir ao UAI de Divinópolis fazer a renovação do documento, pois o serviço não é oferecido em sua cidade.

E aproveitaria a ocasião para também fazer o documento para a filha. Ao ser atendida, foi informada que a foto não estava no tamanho padrão que era necessário fazer outra. Teve o horário remarcado e foi até o fotógrafo que fica em frente à unidade. Quando chegou lá, ela encontrou uma mulher negra que reclamava de ter que esconder o cabelo black da filha. A mãe contou que fez um coque, mas ainda assim o fotógrafo não quis fazer a imagem e que ela teve que amarrar o cabelo da menina embaixo. Sara pensou que teria que fazer o mesmo com cabelo da filha, que tem o cabelo cacheado, mas, para sua surpresa, o procedimento foi bem diferente do adotado com a menina de cabelo crespo.

Quando chegou a vez de Sara fazer a foto teve início o constrangimento. “Sequer tinha sentado para tirar a foto e ele começou  oferecendo o banheiro, para eu poder abaixar o cabelo, porque não poderia aparecer na foto. Ele disse que se não ia ter que cortar. Falei não existe isso. Você pode tirar a foto com meu cabelo aparecendo”, disse.

O fotógrafo retrucou e disse que não poderia aparecer cabelo nenhum. “Mesmo indignada fui ao banheiro e baixei o cabelo. Comecei a chorar dentro do banheiro. Voltei, mas eu precisava do documento. Quando estava descendo a escada, ele falou que eu desse jeito, porque o cabelo não ia poder aparecer. Senão, ele teria que cortar o cabelo. Você também vai ter que esconder o seu”, relembra.

Sara disse que até pensou que o problema fosse pelo fato de o seu rosto não estar aparecendo, mas que ele colocou o cabelo para trás e, ainda assim, o fotógrafo seguiu dizendo que não poderia ser daquela forma. “Se a questão era aparecer rosto, orelha, estava tudo visível. Eu estava com cabelo preso. Não tinha necessidade de ele tirar, cortar meu cabelo”, conta ela sobre a alteração feita na foto no photoshop. Ele mostrou a ela a imagem no computador totalmente alterada. “Ele tinha recortado todo o meu cabelo. Fiquei sem cabelo nenhum na foto. Ficou só meu rosto.”

CABELO FOI APAGADO NO PHOTOSHOP

O fotógrafo iniciou o programa de edição de imagens, o photoshop, e recortou todo o cabelo dela. Segundo ela, a justificativa do fotógrafo é que havia uma orientação do UAI. “O povo do UAI não vai aceitar, e você vai ficar indo e voltando. Não posso ficar perdendo meu tempo e  você gastando dinheiro para ficar arrumando foto para você”, disse.

Ao ver que a imagem dela havia sido completamente alterado com o cabelo apagado, ela disse que levaria a foto apenas da filha. Sara viu no computador fotos de outras mulheres negras e todas estavam com o cabelo escondido.  O tratamento com uma mulher branca foi diferente. Ela teve apenas que colocar o cabelo para trás para fazer a foto. “Se ela só joga o cabelo dela para trás, por que o nosso não pode?”, questionou. Ela saiu e começou a chorar na calçada e entrou em contato com o marido. 

“Por que ele estava tão convencido que eles não iriam aceitar. Pensei que isso estava acontecendo não era de hoje. Por que UAI não quer aceitar a foto nossa com o cabelo. E a gente ter que precisar passar por esse transtorno todo. Não é a primeira vez que acontece. Tem alguma coisa de errado aí. Não ia falar isso a toa.” 

A reportagem entrou em contato com a Secretária de Estado de Segurança Pública, responsável pela emissão do documento, mas até o momento não obteve resposta. 

Matéria do Estado de Minas

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