Na contramão da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ? contrária à participação de padres nas eleições para as prefeituras e câmaras municipais de todo o país ?, sacerdotes de várias regiões do estado se preparam para disputar o voto dos mineiros. Com ou sem a licença dos bispos de suas arquidioceses, os padres já estão nas ruas fazendo campanha. Um deles é Geraldo da Silva Macedo (PMDB), o Padre Gê, candidato a prefeito de Diamantina, na Região Central do estado. Ex-prefeito de Três Marias entre 2001 e 2004 e candidato derrotado a deputado federal nas eleições de 2006, o padre disputa um cargo político pela terceira vez.
Graças a um acordo com o bispo da arquidiocese, Dom João Bosco, o padre participa da disputa sem licenciar-se das suas funções de pároco. ?Temos que colocar o bem comum acima de tudo. Uma candidatura dessa não deixa de trazer conflitos junto à sociedade e à própria política, mas tudo se resolve com entendimento e diálogo?, explica padre Gê. O acordo feito pelo padre ? que está na Igreja Católica há 19 anos ? inclui a celebração de missas apenas em capelas internas para preservar o sacerdócio e respeitar a legislação eleitoral. O que motivou o padre a entrar na política? ?Como padre, e com um cargo político, posso fazer mais pelo povo. Isso é que motiva a gente. ?
Em Manhumirim, na Zona da Mata, o padre e atual prefeito, Ronaldo Lopes Correa (PT), tenta a reeleição. Para disputar o pleito, pediu licença à paróquia sediada em Mariana e se afastou das atividades sacerdotais, como a celebração de missas e confissões dos fiéis, para se dedicar à política. Contrário à posição da CNBB, padre Ronaldo, como é conhecido em Manhumirim, disse que a participação dos sacerdotes na política partidária é um ato de cidadania e liberdade.
?A atuação de um clérigo vai muito além da sua função sacerdotal?, argumenta. Licenciado de suas funções, o padre tem realizado apenas visitas a enfermos em comunidades carentes da região. Há quatro anos, padre Ronaldo derrotou nas urnas o candidato do PDT Luciano Portilho Borchio. ?Na eleição passada não precisei me afastar das atividades sacerdotais. Hoje a situação é outra, com muito mais restrições. Penso que ainda tenho muito a contribuir na vida pública, enquanto político, por isso resolvi me afastar da Igreja e tentar a reeleição?, disse padre Ronaldo.

Moral
Depois de oito anos realizando trabalhos de evangelização na pequena cidade de Alpercata, no Vale do Rio Doce, com pouco mais de 7 mil habitantes, o padre José Ferreira Leão decidiu pedir afastamento da Igreja para entrar na disputa majoritária do município. Ele será o representante do PT no pleito e terá como adversários o atual prefeito Gilcleber Bento de Souza (PMDB), que tenta a reeleição, e Doraci de Sá (PSC).
?Coloquei meu nome à disposição do partido, porque senti a necessidade de mudar a realidade sócioeconômica da cidade onde vivo e que ficou empobrecida com o passar dos anos. Respeito a CNBB, mas discordo de algumas posições, como a de banir os padres da atividade política. Acredito que os padres que entram para a política têm uma grande responsabilidade moral, pois lidam diretamente com os problemas da comunidade?, defende.

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