Pesquisa inédita feita pelo Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (Pnud) mostra que 90,1% dos brasileiros têm a percepção de que a violência vem crescendo no país. Além do percentual bastante expressivo, o que chama a atenção é que, para 23% dos entrevistados, não é a violência praticada por bandidos que mais incomoda, mas sim aquela vivenciada em casa.
?Os números obtidos no trabalho surpreendem. Levantamentos semelhantes feitos no passado mostram que 70% dos brasileiros tinham a percepção de que a violência estava aumentando?, conta o economista sênior do PNUD, Flávio Comim.
Ele observa que, em muitos dos locais analisados, a violência captada nas estatísticas policiais não aumentou na mesma velocidade que a percepção dos entrevistados. ?Talvez os números reflitam o impacto que a violência doméstica, muitas vezes invisível nos índices oficiais, vem apresentando na vida do brasileiro?, completou.
Valores
O trabalho, feito em parceria com Instituto Paulo Montenegro/Ibope e Universidade Mackenzie com 4.017 entrevistados, procurou definir quais são os valores mais importantes para o brasileiro. Em primeiro lugar, vem o bem estar do próximo e, em segundo, o bem estar da humanidade e da natureza. Resultados que, de acordo com Comim, são frequentemente encontrados em vários países.
Na terceira colocação, veio a surpresa: a importância que brasileiros dão à estabilidade social. ?É um elemento novo, diferente do que é constatado em trabalhos semelhantes feitos em outros locais?, conta Comim. Para o economista, a relevância dada pelo brasileiro à estabilidade pode ter duas explicações. ?Ela pode ser reflexo da memória ainda presente do período de hiperinflação vivido no país?, diz.
Outra possibilidade é que brasileiros procurem estabilidade para ?compensar? fatores que desestabilizam o cotidiano, como o receio da violência. ?A estabilidade seria uma espécie de antídoto?, resume. Comim observa que a pesquisa desmente o estereótipo do brasileiro, que é a busca constante do prazer. Na escala de valores, ele ocupa a sexta posição, abaixo da autonomia e da tradição.
O trabalho procurou também diferenciar valores de acordo com sexo, escolaridade e faixa etária. Mulheres, por exemplo, dão mais valor a valores relacionados à conservação (como estabilidade social e tradição) e pouco se importam com autopromoção (relacionado ao poder e êxito pessoal). Para jovens ocorre o oposto: eles estão pouco ligados à valores ligados à conservação, mas dão muita importância para aqueles relacionados à autopromoção e os vinculados a mudanças.

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