As notícias falsas e informações desencontradas estão dominando o WhatsApp na Índia. Com 200 milhões de usuários ativos por mês, o país é o maior mercado do mundo para o WhatsApp. É também um dos mais problemáticos. Ao longo do último ano, pelo menos 30 mortes foram relacionadas a boatos que circulavam no aplicativo de mensagens. Em junho, oito pessoas foram assassinadas depois de boatos que diziam que eles eram sequestradores de crianças.

O protesto teve como estopim os rumores de que uma garota de 14 anos teria sido atacada. Em 25 de agosto, centenas de pessoas foram às ruas do pequeno distrito de Banda, parte da região norte de Shahjahanpur, para protestar contra um policial que teria matado uma jovem enquanto ela tentava montar a sua banca em uma feira local. O fato colocou em confronto as comunidades hindu e sick.

“Áudios e vídeos provocativos foram compartilhados em mensagens e redes sociais”, disse o juiz distrital Amrit Tripathi ao The Tiimes da Índia, depois do tumulto em Shahjahanpur. “Os boatos sobre a morte de uma garota parecem ter inflamado uma comunidade pacífica”, explicou. Três pessoas já foram presas, durante as investigações, por compartilhar notícias falsas em grupos de WhatsApp, sendo um deles o administrador de um dos grupos.

Segundo o site britânico Wired, Pedras foram atiradas pelos dois grupos, danificando automóveis e ferindo 12 pessoas. Policiais usaram gás lacrimogêneo para tentar controlar o tumulto. O incidente foi registrado pela mídia local. Dias depois, a polícia denunciou 70 pessoas por tumulto e danos ao patrimônio. Uma reunião de conciliação com líderes das duas correntes religiosas tentou botar fim ao impasse. Em 27 de agosto, no entanto, autoridades locais ordenaram a suspensão de conexões de celular à internet das 6h às 14h na região como forma de conter o compartilhamento de falsas notícias sobre outro suposto ataque seguido de prisão. O alvo principal, no entanto, não era a internet em si, mas o WhatsApp.

“O WhatsApp é extremamente importante no cotidiano da Índia”, disse ao Wired a pesquisadora Allie Funk, analista na ONG Freedom House. Os grupos de WhatsApp são muito usados para informar com rapidez o que acontece nas comunidades locais e as mensagens se multiplicam nos grupos. As mensagens agora são acusadas de criar movimentos violentos como o ocorrido em Shahjahanpur, diante da velocidade com que fazem circular imagens e vídeos.

O resultado é que a Índia acabou se transformando no líder mundial em suspensões generalizadas de acesso à internet. O Centro Jurídico para a Liberdade dos Softwares (SFLC, por sua sigla em inglês), que tem sede em Nova Déli, rastreou 116 suspensões de serviço na Índia somente em 2018. Em 2017, foram 79 ocorrências, contra 31 em 2016 e apenas três em 2012. Um crescimento de 3.788% em seis anos. Especialistas dizem que as suspensões de acesso custam à Índia bilhões de dólares e arranham gravemente a reputação do país, sendo as próprias restrições, cada vez mais, assunto de novos boatos a serem compartilhados pelo WhatsApp.

 

Fonte: Estado de Minas ||

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