Tive acesso a uma pesquisa qualitativa recente que capta os humores dos eleitores em Minas Gerais. Bom lembrar que nosso Estado, por sua centralidade e por suas características sociais, espelha o Brasil inteiro. Representa uma síntese do sentimento nacional com muita aproximação.
Espantosa, emerge a “rejeição”, consequência do desgaste incrível da classe política, aquela que se apresenta pleiteando a renovação de seus cargos. Difícil encontrar na opinião do eleitor razões para reeleger os atuais mandatários.
No mar de lama, Jair Bolsonaro é uma imagem emergente, contudo seu radicalismo o coloca distante da tendência eleitoralmente preferida pela população: “paz e amor”. O ex-oficial do Exército conquistou toda a revolta à disposição e chegou rapidamente a um fosso árduo de ser ultrapassado com a “metralhadora”. Chegou e lá está acampado há seis meses.
Bolsonaro, proveniente da direita, lembra o Lula saído da esquerda e derrotado nas versões 1.0, 2.0 e 3.0, quando sucumbiu repetidamente a Collor e duas vezes a FHC. Apenas na versão 4.0, elaborada por Duda Mendonça, com largos sorrisos, muita paz e amor, terno bem-cortado e um empresário bem-sucedido a seu lado, Lula deixou de parar no fosso que cerca o Palácio do Planalto e acertou a rampa de acesso.
O Brasil não mudou muito desde 1989, primeira eleição presidencial no formato estabelecido pela Constituição de 1988. Dessa forma, Bolsonaro tem chance? É possível vencer, mas improvável na versão 1.0, aquela que acaba no fosso.
Na leitura da pesquisa ainda aparece que o eleitor arrepia com a palavra “Brasília”, o nome da capital é um agregado de “imprestável”. Apenas a Polícia Federal se salva.
A eleição deste ano apresenta-se como uma esperada oportunidade de vingança do eleitor contra o sistema, o status quo, a tradição, os coronéis, os mensaleiros e petroleiros. Os votos nulos, pelo menos neste momento, vencem qualquer outra opção, em segundo lugar desponta a tendência ao novo e honesto. Mas resta identificar quem veste claramente, no inconsciente da população, essa roupagem, ainda não está claro.
As classes sociais mais humildes têm em Lula sua estrela-guia, ele merece a consideração de quem deu atenção a quem atenção não tinha, mas sofre também uma pesada rejeição pela catástrofe moral protagonizada pelos aliados, pelos amigos e por quem colocou à volta dele.
Amado e odiado, provavelmente não terá oportunidade e vez de disputar. A legislação já tira da condição de elegível o condenado em segundo grau, e agora luta para reconquistar a elegibilidade. Deus sabe como. Mas no Brasil as altas Cortes do Judiciário podem até rever o impedimento dele. As leis aqui são válidas até o momento de sua revogação.
Geraldo Alckmin, que parece ter pacificado o PSDB, eternamente agitado por rusgas e discórdias internas, sofre como sigla um forte desgaste. Menos que o PT, mais acentuado dentro do curral de seus eleitores tradicionais. Não se perdoam episódios acachapantes e recentes. Os respingos da Lava Jato ofuscaram a fama de mocinho, de primeiro da classe. Ainda considerando que o PSDB perdeu as últimas quatro oportunidades presidenciais, de 2002 até 2014, em Minas, mesmo com o mineiro Aécio Neves, a pesquisa faz do Estado o maior problema tucano de todos os tempos para voltar à Presidência da República. Pior agora que em 2014.
Restam no páreo atual três candidaturas com potencial. Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Alvaro Dias (Podemos). Marina parece ter perdido seu melhor momento na última eleição, e sua chama não foi realimentada de novo combustível. Ciro Gomes conta com a saída de Lula para herdar a condição de representante das esquerdas nordestinas e dos órfãos do ex-presidente. Alvaro Dias estreia numa disputa presidencial, com 73 anos de idade e 50 de política, pela qual transitou como o governador do Paraná mais bem avaliado e um currículo irretocável. Sem ser novidade, entretanto, se apresenta como a única “novidade” associada à “ética” e à “experiência”. É um candidato de forte potencial.
Muito vai acontecer, mas as condições e os rumos já estão determinados no inconsciente do eleitor. O tempo e as capacidades de cada um determinarão o resultado.

 

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