Crianças deitadas em cadeiras, esparramadas no colo das mães e sem o sorriso característico da faixa etária. Esse era o cenário do Hospital Infantil João Paulo II, no Santa Efigênia, na região Centro-Sul da capital, onde a espera por atendimento na emergência pediátrica superava quatro horas na última quarta-feira. A unidade tinha apenas um profissional para atender a cerca de 50 crianças. A situação se repete em outros prontos-atendimentos de Belo Horizonte, inclusive privados.
Com o fechamento de 18 unidades nos últimos cinco anos e a falta de especialistas no mercado, o setor vive em crise. Minas Gerais tem, em média, um pediatra para cada 1.827 crianças e adolescentes, quase a metade do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – um médico para cada mil habitantes. Entretanto, muitos desses pediatras não atuam mais na área e migraram para outras especialidades, conforme o presidente da Associação Médica de Minas, Lincoln Ferreira.
?O Sistema Único de Saude (SUS) paga R$ 2,70, e os planos, R$ 30 por uma consulta de emergência. Fica inviável manter os prontos-atendimentos. Vários médicos fecharam seus consultórios porque não conseguem arcar com as despesas, explica.
Desvalorização desestimula profissionais
A relação desproporcional entre o número de crianças e adolescentes no Estado e a quantidade de pediatras é um reflexo da desvalorização desse profissional nos últimos anos. Os baixos honorários e a sobrecarga de trabalho desestimulam a categoria, tanto que a procura pela residência em pediatria caiu 50% na última década, segundo a Sociedade Mineira de Pediatria (SMP).
Os estudantes têm vontade de fazer a especialidade, mas a desvalorização faz com que eles optem por áreas mais promissoras, como a dermatologia,, destaca a presidente da SMP, Raquel Pitchon.
Ainda assim, segundo a entidade, a concorrência pelas 222 vagas para residência em pediatria oferecidas por apenas 19 hospitais mineiros é alta. Já o tempo de formação da especialidade, de dois anos, pode aumentar para três, segundo projetos em discussão, devido à necessidade de ampliar as disciplinas e atualizar o conhecimento na área.
Nos últimos anos, perdemos muitos pediatras. O serviço público não atrai o profissional porque os plantões são muito puxados e o salário, baixo. Há cidades sem pediatra, ressalta a diretora do Sindicato dos Médicos de Minas, Ariete de Araújo.

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