Durou apenas seis dias o governo de Manuel Merino, que, como presidente do Congresso peruano, liderou a manobra para impugnar o então presidente do país, Martín Vizcarra. Sem legitimidade e respaldo da comunidade internacional, e questionado nas ruas com protestos diários, ele renunciou no domingo, após a morte de dois jovens em confrontos violentos.

Em mais de três décadas, todos os presidentes se envolveram em escândalos de corrupção, a maioria deles denunciada na esteira da Lava-Jato e vínculos com a Odebrecht. Alberto Fujimori cumpre três condenações por corrupção e crimes contra a Humanidade; Alan García se suicidou antes de ser preso; Alejandro Toledo fugiu para os EUA; Ollanta Humala foi detido por três meses. Pedro Pablo Kuczynski renunciou em 2018 e está em prisão domiciliar.

O vice-presidente Vizcarra assumiu o vazio deixado por Kuczynki. Na última segunda-feira, foi afastado por “incapacidade moral permanente”, acusado de receber US$ 630 mil em propinas há seis anos, como governador de Moquegua.

No terceiro mandato pelo partido de centro-direita Ação Popular, Manuel Merino, já tinha tentado, como presidente do Congresso, destituir Vizcarra em setembro passado, num processo de impeachment articulado com integrantes das Forças Armadas. O plano fracassou.

Na segunda tentativa, semana passada, baseou-se na investigação aberta em outubro pelo Ministério Público, mas ainda em fase preliminar, para conseguir impugnar o presidente com aprovação de 105 dos 130 deputados. Assumiu o cargo, mas sem apoio popular: segundo pesquisas de opinião, 70% rejeitaram a manobra do novo presidente.

Os seis dias de governo foram caóticos, marcados por manifestações, às quais Merino atribuiu a extremistas e reprimiu com violência. Grupos de direitos humanos contestam, unanimemente, a ação das forças de segurança e denunciam o desaparecimento de 40 pessoas nos protestos pacíficos deste sábado.

Diante da pressão e da falta de apoio político, Merino deixou o cargo com um alerta contra a corrupção, embora ele também tenha sido alvo de processos. Caberá novamente ao Congresso destrinchar esse imbróglio, escolhendo uma nova mesa diretora, cujo chefe formalmente será o novo presidente.

Uma lista única liderada pela deputada Rocío Silva Santisteban, do partido de esquerda Frente Ampla, porém, não obteve votos suficientes durante a madrugada. A votação foi adiada para esta tarde.

Matéria do G1

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