Quando alguém pensa em violência, logo vem à cabeça a imagem de um homem com cara de mau e arma em punho, quase sempre com ligação com o tráfico de drogas. Mas, nos tempos modernos, a realidade é outra. As mulheres, que antes figuravam nas estatísticas apenas como vítimas, estão cada vez mais violentas e inseridas no topo das organizações criminosas.
Essa é a realidade de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte. Pesquisa realizada entre 2009 e o início de 2011 pela fisioterapeuta Rejane Alves, mestranda da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mostra que as mulheres da cidade estão tão violentas quanto os homens.
A pesquisadora ouviu 230 pessoas – 118 mulheres e 113 homens. O estudo surgiu de uma antiga desconfiança da relação quase que automática feita entre gênero e violência. E os relatos confirmaram a teoria. Rejane constatou que não só os homens são violentos; as mulheres aparecem, muitas vezes, como mandantes dos crimes.
O que determina quem vai ser violento é o contexto em que as pessoas vivem e as relações de poder que existem entre elas. Me surpreendi com relatos de mulheres que cometiam espancamentos, humilhações verbais e assassinatos, explica.
A diferença entre homens e mulheres, segundo a médica de saúde pública Elza Machado de Melo, coordenadora da pesquisa, está no método usado. Eles preferem usar a força física e armas. Elas optam pela pressão psicológica. No contexto familiar, a mulher tem posição soberana e pratica 60% das agressões contra crianças, explica Elza Machado.
Ainda de acordo com a professora, os números recentemente constatados já fazem parte da realidade da população. O que impressiona é que a conclusão do estudo já está muito clara para a comunidade. Os entrevistados dizem com naturalidade que uma vizinha mandou matar alguém, que a irmã espancou o sobrinho ou ainda que a amiga já praticou algum outro crime, conta.
Pesquisa
Em vez de quantificar a violência, a pesquisadora se concentrou em medir a capacidade de praticar uma agressão – não há, por exemplo, números de crimes praticados por cada gênero. E a escolha por Ribeirão das Neves, conta ela, não foi aleatória. A cidade é tida como uma das mais violentas do Estado.
População carcerária feminina cresceu 362% em cinco anos
O secretário adjunto de Defesa Social, Genilson Zeferino, diz que a sociedade precisa abrir os olhos para a realidade dos dias atuais. Para ele, os números mostram que é necessário desconstruir a imagem de nossa senhora automaticamente dada às mulheres. Prova disso é que, nos últimos cinco anos, a população carcerária feminina de Minas cresceu 362%.
A mulher não é sublime por definição. O envolvimento no crime tem mais a ver com a oportunidade do que com o gênero. Percebemos inclusive um aumento de delitos entre mulheres de classe superior, disse.
Exemplo disso é Giselle Chaves, 31, empresária de Lagoa Santa, na região metropolitana de Belo Horizonte. Ela é acusada de mandar matar Glauber Julião, 28, filho de seu ex-sócio, por simples vingança. Ela se ressentiu por ele ter desmanchado a sociedade em uma imobiliária.
Crimes
A pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Elza Machado de Melo afirma que os crimes mais praticados por elas são tráfico, furto, roubo e homicídio.
O tenente Gustavo Alves, do 40º Batalhão da Polícia Militar de Ribeirão das Neves, diz que já percebe a presença das mulheres no crime. Elas estão principalmente no apoio ao companheiro. Quando há uma operação, ele passa a arma ou a droga para a mulher. Ela também aparece como autora da violência doméstica.

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