No Brasil, há cerca de 12,8 milhões de veículos de duas rodas, quase metade dos 35,3 milhões de automóveis e ator constante de discussões no trânsito que se transformam em lesões corporais, tentativa de homicídios e mortes consumadas.
Dos 32 casos de violentas brigas de trânsito analisados pela reportagem do jornal Estado de Minas, pelo menos 10 envolvem motociclistas. ?O incentivo para cruzar carros, subir na calçada, passar na faixa, furar semáforo é muito maior no caso deles, especialmente os que ganham conforme o número de entregas que fazem. No entanto, o porte menor do veículo os coloca em posição desfavorável em relação a um carro se ocorrer, por exemplo, um acidente?, analisa Hartmut Günther, professor de psicologia do trânsito na Universidade de Brasília.
Na avaliação de quem lida com os conflitos nas vias urbanas do país, muitos desastres envolvendo motociclistas são desdobramentos de uma desavença anterior. ?Algumas fechadas contra eles podem ser intencionais. São frequentes colisões com árvores e postes em decorrência das fechadas?, afirma a delegada Edilma de Freitas Gomes, titular da Delegacia Especializada em Investigações de Crimes de Trânsito (Dict) de Goiânia.
A população de Goianésia, uma pequena cidade de 64 mil habitantes no interior de Goiás, está assustada. Desde o início do ano, o município é assombrado pelo ?motoqueiro fantasma?, alcunha dada pelos moradores a um matador de aluguel contratado para fazer acertos do tráfico de drogas na região. A Polícia Civil tenta prender o homem, suspeito de assassinar oito pessoas na cidade, que passou a ser objeto de disputa por pontos de tráfico.
Em 28 de fevereiro, o ?motoqueiro fantasma? decidiu matar por outro motivo: ele não aceitou a reclamação por ter esbarrado sua moto no carro do comerciante Silvani Mendes de Jesus, de 34 anos. Silvani reclamou com os motociclistas, como resposta, foi alvejado sem qualquer chance de defesa. O homem que estava na garupa, que seria o assassino procurado pela polícia, foi quem disparou contra Silvani, que nem chegou a sair do carro. ?Os tiros foram à queima-roupa?, conta um agente policial da delegacia de Goianésia. Foram três disparos. Dois acertaram Silvani pela janela do carro.
A família do comerciante chegou a alegar que o crime era um latrocínio. Depois, sustentou que poderia ser um acerto de contas, já que Silvani era credor de um homem próximo ao acusado. Para a polícia, nenhuma das duas teses se sustenta. A motivação desse crime específico foi uma briga de trânsito, numa cidade onde as ruas são pouco movimentadas.

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