Sabe aquela recomendação sobre não se expor ao sol entre as 10h e as 15h? Pois bem, já não é mais bem assim. A conclusão de uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Itajubá (Unifei), no Sul de Minas, mapeou a incidência de radiação ultravioleta (UV) em todo o território brasileiro e indica que esses números são muito maiores do que os que vinham sendo considerados por grande parte dos médicos e unidades de saúde no país.

Segundo o professor Marcelo de Paula Corrêa, autor do estudo, é a primeira vez que essa quantidade relevante de informações sobre radiação solar ultravioleta no Brasil é reunida. ?Até então, todas as recomendações que eram feitas sobre a exposição ao sol usavam informações coletadas, principalmente, nos Estados Unidos e na Europa?, explica. Parte dos dados sobre a incidência de radiação ultravioleta foi obtida com medições ?in loco?, enquanto modelos matemáticos que se baseiam em diversos parâmetros (como o conteúdo de ozônio, a incidência de nuvens e a poluição) complementaram as informações para todo o Brasil e a América do Sul.

O modelo de medição é considerado muito confiável, segundo o pesquisador. A explicação sobre os níveis elevados de radiação UV no Brasil é a localização geográfica do país, que favorece o registro de uma das maiores incidências observadas no mundo. ?As pessoas costumam associar a grande incidência de radiação solar com praia e com a Região Nordeste do Brasil, mas constatamos que, no verão, o Sudeste recebe uma quantidade de radiação maior que no Nordeste?, afirma Corrêa.
No Rio Grande do Norte, por exemplo, às 9h já existe uma incidência de radiação ultravioleta que exige uma proteção intensa, com índices ultravioleta máximos entre 13 e 14. Por outro lado, em São Paulo, esse mesmo índice pode atingir índice 15 no verão. Então, é preciso que as pessoas que vão se expor ao sol tenham muito bom senso, pois essa radiação vai variar de acordo com o horário, o lugar e as características da atmosfera (a incidência de nuvens, por exemplo).

A pesquisa repercutiu na classe médica e a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) logo divulgou o Consenso Brasileiro de Fotoproteção, documento atual e baseado na realidade brasileira. A publicação, anunciada no fim do ano passado e retratada pelo Estado de Minas, confirma que os parâmetros usados até então pela categoria para fazer recomendações sobre as formas e horários mais adequados à exposição ao sol eram retirados de revistas internacionais dos Estados Unidos ou da Europa, e que os poucos estudos publicados revelam que a radiação solar no Brasil é muito superior à observada nesses países. A SBD chegou a recomendar mais estudos sobre a realidade brasileira, a fim de produzir políticas públicas mais adequadas.

Horários
Além de não recomendar a exposição ao sol entre as 10h e as 15h (sendo que o horário de verão deve ser considerado), dependendo da época do ano e a localidade é preciso se precaver num período ainda maior. No Nordeste, por exemplo, é melhor evitar o sol a partir das 9h. Já no Centro-Oeste, é necessário estender esse período até as 16h. E o resultado dessa falta de informação talvez esteja retratada no último relatório divulgado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) em relação à estimativa de novos casos de câncer de pele no Brasil para 2014: 180 mil casos, nada menos que 31% do total de casos gerais da doença que devem ser registrados no ano.

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