A Polícia Civil pediu autorização na Justiça para exumar o corpo de Maria Augusta Campos Cordeiro, de 60 anos, que morreu no dia 28 de dezembro em Pompéu, com suspeita de síndrome nefroneural por possível ingestão da cerveja artesanal Belorizontina. Segundo a polícia, o pedido faz parte da continuidade às investigações relacionados aos casos de intoxicação por substância encontrada em alguns lotes da bebida fabricada pela Backer.

A morte da idosa também é investigada pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) desde o último dia 16 de janeiro.


Em entrevista concedida ao portal G1, na semana passada, Adriana Neves, enteada de Maria Augusta, disse que a família aguarda esclarecimentos e o posicionamento de autoridades, além da apuração da polícia.

Caso investigado

O caso entrou para a lista de investigação da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) nesta quinta. Foram notificados 19 casos suspeitos de intoxicação exógena por dietilenoglicol até o dia 17 de janeiro. Desses, 17 pessoas são do sexo masculino e duas do feminino. Quatro casos foram confirmados e os 15 restantes continuam sob investigação, uma vez que apresentaram sinais e sintomas com relato de exposição.

A SES-MG confirmou que quatro casos evoluíram para óbito. Um desses óbitos está entre os casos em que foi confirmada a presença da substância dietilenoglicol no sangue. Trata-se de um homem, que esteve internado em hospital de Juiz de Fora e faleceu no dia 7 de janeiro.

Vítima

Maria Augusta de Campos Cordeiro, de 60 anos, morava em Pompéu e no dia 20 de dezembro estava em Belo Horizonte visitando as duas enteadas. De acordo com a família, naquele dia, Maria Augusta consumiu a cerveja no Bairro Buritis e desde então vinha se queixando de dores abdominais, diarreia e vômitos.

Ela voltou para Pompéu e permaneceu sentindo mal estar até o dia 26 de dezembro, quando deu entrada no Pronto Atendimento da Santa Casa da cidade. O quadro clínico da paciente se agravou e ela faleceu no dia 28 de dezembro, com causa constatada como insuficiência renal e alteração neurológica.

Após a SES-MG divulgar sobre as investigações relacionadas à cerveja Backer, no dia 7 de janeiro, a família se atentou à hipótese. Por isso, na segunda-feira (13), a família registrou um Boletim de Ocorrência e levou o caso ao conhecimento da Polícia Civil em Belo Horizonte.

À época, a Prefeitura de Pompéu informou, por meio de nota, que desde que tomou conhecimento do caso, “a Secretaria Municipal de Saúde juntamente com o Pronto Atendimento, realizou a apuração e levantamento de informações com posterior notificação e encaminhamento ao CIEVS-MG”.

O caso foi comunicado à SES na ocasião e diante de apurações sobre os principais sintomas causados pela ingestão da possível bebida contaminada, a SES incluiu a morte de Maria Augusta como um caso a ser investigado.

Relação com a cerveja

A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou um inquérito para investigar a Cerveja Belorizontina produzida pela Backer, com o objetivo de determinar se consumo da bebida tem relação com a internação de pessoas na capital mineira e ainda, a morte de um paciente em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Todas a vítimas têm em comum o fato de terem ingerido a cerveja.

Por meio das investigações foi descoberto em duas garrafas do lote 1348, das linhas de produção L1 e L2, uma substância tóxica chamada dietilenoglicol, usada em serpentinas no processo de refrigeração de cervejas. A substância é apontada como causadora da síndrome nefroneural.

Nesta quinta, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) afirmou que identificou as substâncias dietilenoglicol e monoetilenoglicol em oito rótulos produzidos pela cervejaria Backer. Além das marcas Belorizontina e Capixaba já divulgadas, foram encontradas as substâncias tóxicas em outras seis marcas:

  • Backer D2
  • Backer Pilsen
  • Brown
  • Capitão Senra
  • Fargo 46
  • Pele Vermelha

A fábrica da Backer, localizada no Bairro Olhos D’água, na Região Oeste da capital mineira, foi interditada pelo Ministério da Agricultura. Na ocasião, foram apreendidos 139 mil litros de cerveja engarrafadas e 8.480 litros de chope. Também foram lacrados tanques e demais equipamentos de produção.

Ministério identifica oito rótulos de cerveja contaminados da Backer em 21 lotes, sendo que um lote foi usado para engarrafar a Belorizontina e a Capixaba — Foto: Reprodução/Mapa

Investigação

Nesta quinta, um ex-funcionário da Backer e um ex-funcionário de uma distribuidora de produtos químicos, fornecedora de insumos, foram ouvidos pela Polícia Civil. O ex-funcionário da empresa química foi apresentado pelos advogados da cervejaria. O teor do depoimento não foi divulgado.

A Backer nega que usa o dietilenoglicol no processo de fabricação. Ele foi encontrado pelo Ministério da Agricultura em um tanque de fermentação e na água usada pela cervejaria.

Através do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) estadual, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) afirmou que as cervejas produzidas pela Backer não devem ser vendidas e nem fornecidas por comerciantes no estado. O comunicado foi emitido depois de uma reunião entre o órgão e representantes da cervejaria.

O órgão definiu ainda que os produtos deverão ser separados e ficar sob a guarda do responsável pelo estabelecimento até a conclusão das investigações. Até a última atualização desta matéria, a cervejaria não tinha se pronunciado para orientar os comerciantes sobre a destinação das bebidas.

Após uma ação de busca e apreensão, realizada pela Polícia Civil, amostras de produtos e documentos da empresa Imperquímica, localizada no Bairro Vila Paris, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foram recolhidos. A empresa fornece monoetilenoglicol para a cervejaria Backer. Ninguém do estabelecimento foi encontrado pela reportagem para falar sobre o assunto.

Recall

O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento afirmou na última segunda-feira que intimou a cervejaria Backer a realizar recall de todas as cervejas e chopes da empresa e também suspender a venda de qualquer produto da marca, até que seja descartada a possibilidade de contaminação de demais produtos. A medida abrange qualquer rótulo da cerveja, além dos chopes, fabricado entre outubro de 2019 e esta segunda.

 

Fonte: G1 ||
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