É inegável que 2020 é um ano atípico para a maioria dos brasileiros, principalmente por causa da pandemia de coronavírus. Por causa disso, diversos eventos foram afetados e, apesar de apenas terem sido adiadas, já que ocorreriam em outubro, não em novembro, as eleições municipais não ficaram de fora.

Normas sanitárias impostas pelas autoridades contra aglomerações, por exemplo, prejudicaram comícios, passeatas pelas ruas e visitas a domicílio, o famoso “tete a tete”, práticas adotadas há anos pelos candidatos e que precisaram ser deixadas de lado esse ano. Com isso, o interesse pelo pleito também ficou em segundo plano.

Segundo o cientista político e professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e do Ibmec, Adriano Cerqueira, é visível que as eleições em 2020 estão mais “frias” e deverão ter muitas ausências se comparadas a anos anteriores. “Esse ano, a eleição municipal deve ter um baixo comparecimento do eleitorado, porque ele está muito desmotivado, sem cabeça para eleição e muito preocupado com a pandemia”, disse.

“Pode ter algumas exceções, mas o quadro geral é de desmotivação, falta de consciência que vai ter uma eleição, uma votação agora no dia 15. Acho que muitos vão se surpreender no dia sem ter nome de vereador para votar e não muito certo quanto ao prefeito”, alertou.

Um retrato dessa situação é a última pesquisa DataTempo/CP2 para a Prefeitura de Belo Horizonte, divulgada na segunda-feira (2). Conforme o levantamento, 21,1% do eleitorado não sabe ou não respondeu em quem vai votar e 9,5% não votariam em nenhum dos candidatos.

Ainda de acordo com Cerqueira, esse sentimento geral favorece quem já está no poder. “Esse quadro de desmobilização é muito favorável para um prefeito que está disputando a reeleição, porque ele já está no cargo, ele tomou medidas na pandemia, respondendo à pressão da população de que algo tinha que ser feito. E mesmo se foi pouco, ele apareceu fazendo algo, e isso foi positivo na avaliação da população”, explica.

Além do mais, ele não acredita que haverá mudanças nos próximos dias. “Tomara que esse quadro seja revertido, mas a falta de comícios, a famosa política do ‘corpo a corpo’, que é feita através de aglomerações, que é um processo muito cívico e bacana que as eleições provocam, por conta da pandemia isso não está acontecendo”, concluiu.

Reflexo nos candidatos

Professor de direito na UNA, o analista político Carlos Barbosa enxerga uma certa acomodação quanto às eleições também entre os postulantes. Se tratando especificamente de Belo Horizonte, o fato de as pesquisas indicarem ampla vantagem do atual prefeito, Alexandre Kalil (PSD), sem perspectiva de mudança, desanimou seus concorrentes.

“Um ponto importante que eu destaco neste clima frio no que tange as eleições municipais é a ausência de proposta apresentada pelos candidatos que contrapõem a candidatura de Kalil. Sua vantagem acabou desmotivando as equipes em torno de propostas que sejam viáveis”, afirmou.

Conforme ele, o povo não cai mais em “papinho” de político para ganhar voto como antes. “As pessoas estão atentas, elas estão ouvindo os candidatos, mas eles não estão apresentando nenhuma discussão que seja realmente viável, a ser concretizada na próxima gestão. E isso acaba realmente gerando a falta de interesse das pessoas em torno das eleições municipais em BH”, completa.

No mais, assim como o especialista anterior, Barbosa classifica a pandemia da Covid-19 como o fator chave para esse fenômeno atípico na política brasileira. “Quando nós vivenciamos uma pandemia como esta, observamos que as pessoas ficam mais preocupadas com questões envolvendo a esfera privada do que a própria esfera pública”, opinou.

“Muitas pessoas perderam o emprego e estão inseguras com o futuro. Isso gera uma preocupação em torno desses fatores que atingem cada indivíduo e a sua família. Todas as vezes que a esfera privada entra em um processo de crise, em uma tensão como essa, as atenções ficam voltadas para ela”, conclui o professor.

Campanha diferenciada

Para o jornalista e coordenador de campanhas eleitorais Celso Lamounier, a doença de escala mundial mudou o jeito de se chegar aos cidadãos. “A pandemia restringiu muito a campanha de rua. Isso fez com que os atos presenciais ficassem cada vez menos perceptíveis pela cidade. Além disso, muitos veículos cancelaram os debates para evitar aglomerações. Naturalmente para as pessoas que eram acostumadas com grandes ações presenciais, entrevistas e debates, a campanha eleitoral de 2020 está muito diferente”, conta.

“Por outro lado, nas redes sociais, a propaganda eleitoral ficou mais intensa. Sendo a primeira eleição municipal da história com o impulsionamento permitido, boa parte da verba que seria investida na campanha de rua foi para o digital. Por isso os usuários de redes sociais como Facebook e Instagram estão vendo mais anúncios de candidatos por lá”, relata.

Fonte: O Tempo Online

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