Uma mãe descobriu que o filho de 13 anos estava sendo molestado sexualmente pelo treinador em uma escolinha de futebol no bairro Glória, na região Noroeste de Belo Horizonte, a partir de uma conversa de WhatsApp. A denúncia dela fez a polícia chegar a outros dois casos e levou, nessa quarta-feira (8), à prisão do suspeito.

Mas o combate ao crime esbarra na dificuldade das vítimas em falar e dos pais em perceber os sinais da agressão. No ano passado, foram registrados 1.420 estupros de vulneráveis (crianças e adolescentes menores de 14 anos e outras pessoas sem possibilidade de defesa) em Minas, uma média de quatro por dia. A Polícia Civil, porém, estima que a violência vá muito além dos dados por conta da subnotificação.

Dos casos que chegaram às delegacias, 203 ocorreram na capital. A Polícia Civil não deu números deste ano ou de 2015, mas observa um aumento na quantidade de ocorrências nos últimos anos. Só nessa quarta-feira (8), dois suspeitos foram presos: o treinador de futebol do bairro Glória e um vereador no município de Carmo do Cajuru, na região Centro-Oeste do Estado, que teria estuprado seis crianças, entre 7 e 11 anos.

De acordo com o Código Penal, qualquer ato libidinoso ou sexual contra menores de 14 anos, com ou sem consentimento da vítima, é considerado estupro de vulnerável. A violência geralmente é precedida da oferta de presentes ou benefícios.

No caso da escola de futebol, o treinador Diego Tadeu Gomes Silva, 27, teria se aproveitado da função para, em troca de supostamente ajudar os garotos, abusar sexualmente deles. “Ele não ameaçava e não insistia, mas usava a paixão dos meninos pelo futebol para praticar os atos. Falava que teria condições de fazer com que eles crescessem no esporte”, explicou a delegada do Departamento de Investigação, Orientação e Proteção à Família, Isabella Franca.

Quando a mãe viu a mensagem do treinador no celular do filho, em janeiro, dizendo que estava com saudades, ela questionou o garoto. Na delegacia, o adolescente e mais dois alunos da escolinha, ambos de 14 anos, disseram que Silva propunha masturbação a cada um deles, individualmente. “Além de ser treinador, ele trabalhava como auxiliar administrativo no local há cerca de dez anos e não levantava suspeitas”, contou a delegada.

Segundo ela, os agressores geralmente são pessoas próximas das famílias. “Começa com uma passada de mãos até chegar a conjunção carnal. É uma violência que se estende por vários anos, com uma pressão psicológica absurda na vítima, que fica com um sentimento de culpa muito grande”, concluiu Isabella.

Versão. O treinador Diego Tadeu Gomes Silva negou os crimes e confirmou apenas ter beijado um dos garotos de 14 anos, com o consentimento dele. Ele responderá pelos crimes de estupro (dos rapazes de 14 anos) e estupro de vulnerável (do de 13 anos).

Investigação. A Polícia Civil informou que a apuração desse tipo de crime envolve levantamento de provas, como exame de corpo de delito. Mas, quando a denúncia ocorre dias após o abuso, a palavra da vítima é suficiente para abertura da investigação e pedido de prisão preventiva. O crime prescreve 20 anos. Mas, mesmo anos após o abuso, a denúncia é importante para impedir que o autor continue fazendo novas vítimas.

Projeto. A Câmara dos Deputados analisa projeto do deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG) que propõe reduzir de 1/6 a 2/3 a pena para estupro de vulnerável quando o ato não envolver penetração ou sexo oral.

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