Os problemas de drenagem interna da barragem B1, da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, eram conhecidos desde 1995, quando a mina ainda era da empresa Ferteco. A informação está no relatório do Comitê Independente de Assessoramento Extraordinário divulgado pela Vale nesta sexta-feira (21).

A barragem B1 se rompeu em janeiro de 2019, em Brumadinho, deixando 259 mortos. Onze pessoas seguem desaparecidas.

Segundo o relatório, o rompimento ocorreu por instabilidade estrutural com liquefação. As condições que culminaram neste rompimento foram ignoradas ao longo da história da estrutura.

De acordo com o documento, ainda em 1995, uma empresa contratada pela Ferteco teria apresentado, no projeto executivo do 4º alteamento, considerações que já apontavam condições desfavoráveis em relação aos baixos fatores de segurança.

Já a Vale conhecia a condição de instabilidade da barragem pelo menos desde 2003, quando foi feita auditoria externa por empresa contratada pela mineradora.

Segundo o relatório, em 2010 e em 2013, a empresa contratada para fazer auditoria externa recomendou estudos de potencial liquefação da estrutura, já que o último tinha sido feito só em 2006, por causa de alteamentos realizados no ano anterior.

Mas o estudo, segundo o documento divulgado pela Vale, só foi feito em 2014, utilizando dados do último levantamento realizado, quase uma década antes. Não houve realização de novos estudos, mesmo tendo ocorrido dois alteamentos entre um e outro estudo.

Em 2016, após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, em que 19 pessoas morreram, novos estudos “apontaram resultados desfavoráveis a respeito da estabilidade da B1”. Mesmo assim, foi atestada a estabilidade da B1, utilizando uma metodologia considerada duvidosa.

Um ano depois, as empresas Tüv Sud e Potamos foram contratadas e já apresentaram às áreas de geotecnia da Vale a fragilidade da B1. Mas outra empresa é que teria atestado, naquele ano, a estabilidade da estrutura, sem considerar estas ponderações.

Em 2018, as duas empresas foram contratadas pela Vale para apresentar alternativas para aumentar o fator de segurança da estrutura. A Vale optou pela execução de Drenos Horizontais Profundos (DHPs), o que foi considerado pelo estudo divulgado nesta sexta como “limitada e mal sucedida”.

Ainda de acordo com o relatório, nesta época, a Vale convenceu as empresas de auditoria a adotarem a mesma metodologia duvidosa adotada em 2016 para conseguir resultados favoráveis em relação à estabilidade da B1. A última Declaração de Condição de Estabilidade (DCE) foi dado em setembro de 2018.

Recomendações

O relatório também traz algumas recomendações à Vale, como adoção de critérios de estabilidade consistentes e baseados em riscos, aprimoramento da metodologia de análise de riscos e revisão de quadro de colaboradores.

Em nota, a Vale informou que, após uma avaliação inicial, “considera que as recomendações estão em conformidade com as ações que já vinham sendo adotadas pela companhia desde o rompimento. Em até 30 dias, a Vale divulgará um cronograma de implementação dessas ações. A companhia está fazendo uma análise aprofundada do documento e avaliará se há necessidade de medidas adicionais.”

 

Fonte: Matéria do G1||https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2020/02/21/problemas-na-barragem-que-se-rompeu-em-brumadinho-eram-conhecidos-desde-1995-aponta-relatorio-divulgado-pela-vale.ghtml
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