Desde que se tornou uma das principais formas de acesso às universidades federais, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) apresenta um histórico de problemas. O furto da prova e a divulgação do gabarito errado no passado, e o vazamento de dados sigilosos dos alunos descoberto nesta terça-feira (3) abalam a credibilidade do exame, segundo os estudantes.
O diretor pedagógico do cursinho Oficina do Estudante, Célio Tasinafo, disse que o vazamento de dados pessoais dos estudantes inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é mais um absurdo envolvendo a prova.
?O temor é que a ideia de um sistema unificado de seleção para as universidades federais e até as públicas caia no descrédito, porque é tanta trapalhada envolvendo esta instituição?, afirmou.
Segundo Célio Tasinafo, os problemas criam desconfiança com relação ao Enem. ?Se meus dados, que são sigilosos, inclusive de documentos pessoais, como CPF e RG, vazam, quem me garante que a minha prova foi corrigida adequadamente, sobretudo, a prova de redação, que a gente não tem acesso e não sabe como são atribuídas as notas?, disse.
A candidata a uma vaga em medicina, Ana Paula Mendes Gouveia, de 26 anos, disse que o vazamento das informações leva ela e outros estudantes a desacreditarem no Enem. ?No ano passado, as provas vazaram. Agora, vazam as nossas informações, que é uma coisa pessoal, sigilosa. Está todo mundo desacreditando, estão desistindo do Enem?, afirmou.
Problema grave
O coordenador geral do Anglo Vestibulares, Nicolau Marmo, disse que o fato de dados pessoais de estudantes ficaram disponíveis no site do Inep é problema grave. ?É grave para o cidadão ter seu cadastro publicado. Isso foi por má administração. Não foi por outra coisa. É deplorável?, disse.
Segundo Marmo, dos cerca de seis mil alunos do Anglo em São Paulo, metade participa do Enem. ?Os interessados são os estudantes que fazem o ProUni e aqueles que querem entrar em universidades federais?, disse. A Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) não usarão a nota do Enem 2010 no vestibular, como já ocorreu em 2009.
A diretora do Instituto Dom Barreto, em Teresina, no Piauí, Maria Stela Rangel da Silva, disse que o vazamento da prova de 2009 atrapalhou os estudantes e motivou uma passeata dos alunos. Segundo a diretora, os estudantes devem, mais uma vez, ficar ?chateados?, por confiarem que seus dados só poderiam ser acessados por eles e pelas universidades.
?Os organizadores do Enem precisam ter cuidado para isso não acontecer novamente, assim como o vazamento da prova?, disse Maria Stela. O Instituto Dom Barreto teve a segunda melhor nota do Brasil no Enem 2009.

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