A reposta para essa pergunta é simples: nós mesmos com coragem e nos valendo do Dique de Capitólio.

Para aqueles que porventura não entenderam a pergunta e a resposta acima, relembramos alguns fatos históricos, que talvez, os faça concordar com tais enunciados.

Primeiramente, não podemos nos esquecer que as águas represadas por Furnas inundaram as terras mais férteis e valorizadas (várzeas) de grande área deste Estado, provocando, pelo baixo custo de indenizações ofertadas, uma quebradeira geral seguida, inclusive, de alguns suicídios de proprietários que, de uma hora para outra, se viram em situação econômica mais que precária.

Passada esta fase inicial, surgiu, aos poucos, a adaptação aos novos tempos e como previa JK, foram adotadas novas formas de exploração das águas que, garantido seu multiuso, permitiram a criação de milhares de empregos, com maior distribuição de renda através da exploração de ramos como: o de piscicultura, agronegócios e muitas outras atividades ligadas à exploração turística do lago por intermédio da implantação da hotelaria, da criação de novos clubes, do surgimento de loteamentos e da atração de turistas e de grande movimentação de recursos que os esportes náuticos nos trouxeram, como o que ocorre nos principais pólos turísticos de outros continentes.

E este período de bonança e de crescimento econômico e social, por aqui, cujo maior exemplo se mostra em Capitólio, infelizmente, durou pouco.

Ultimamente, ou melhor, nos últimos 8 a 10 anos, por razões que só o ONS (Operador Nacional do Sistema), a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) a ANA (Agência Nacional de Águas), o Ministério do Turismo, o da Infraestrutura, Senado, Câmara, muitos outros penduricalhos federais e a própria Furnas Centrais Elétricas saberão explicar, insiste-se na manutenção do nível do lago, sempre abaixo da cota 760 (mais ou menos 50% de seu volume útil) sob a alegação de que… “xzyxwyxw”

Ora, sabido é, ao se analisar os dados disponibilizados pela própria ANA, na página Sistema Interligado Nacional, que nos últimos anos, para que tudo funcionasse a contento, sem que houvesse apagão em tudo aquilo que à jusante de Furnas depende daquela água, inclusive a Hidrovia Parará/Tietê, menos de 40% do volume útil lago é mais que suficiente para tal.

Daí a pergunta: Por que então não se faz uso disto, a partir dos 100% do armazenamento? Por qual razão temos que sofrer (em especial o Estado de Minas) todos os prejuízos que esta prática nos impõe?

Quem diariamente verifica o que ocorre em Furnas no tocante à vazão afluente e a defluente, com ou sem ocorrência de precipitação pluviométrica na região, fica sem entender as razões daquilo que só os técnicos dos penduricalhos acima citados são capazes de defender.

 A Alago – associação que representa os trinta e muitos municípios lindeiros, prefeitos, senadores, deputados federais, técnicos de renome e de reconhecido saber na área, todos sem exceção, abraçaram esta causa, pedindo a manutenção mínima da 762 em Furnas mas, ao que parece, somos todos incapazes de mudar esta prática que só prejuízos tem trazido a este Estado nos últimos anos.

Esta semana tomamos conhecimento do teor de uma resposta que o diretor presidente de Furnas (Luiz Carlos Ciocchi) enviou ao vice-presidente do Senado Federal, Antônio Anastasia e, sinceramente, em especial ao contido no parágrafo primeiro de tal missiva, dele discordamos, pois, quando ele afirma que “a reivindicação do setor de turismo de estabelecer um limite mínimo de 762,00 metros para a operação da citada usina constitui em uma mudança de uma importante condição operativa implicando em significativa redução do volume útil do reservatório” (grifo nosso), isto realmente não é fácil se admitir já que, neste momento, ao verificarmos no sie oficial da ANA – encontramos a informação de que no dia 25/12/2019, o nível do lago estava em 753.70, mostrando um volume armazenado de 13,05%.

Ora, 762,00 é maior ou menor que 753,70? Aguardamos a resposta!

Mais adiante, o presidente de Furnas informa que há “Impossibilidade de se garantir o pleno atendimento das restrições ambientais associadas ao uso múltiplo da água e preservação da ictiofauna, na base do rio Paraná;

– Impossibilidade de se garantir o pleno atendimento aos requisitos de navegação do rio Tietê/Paraná, podendo acarretar na paralisação da mesma no período seco da região (…)”.

Ora senhores leitores, como é que nós, mineiros, podemos concordar com esta premissa de que o uso múltiplo das águas vale para todos, menos para nós, os mineiros que a décadas sofremos com esta política visivelmente equivocada e que, certamente, com um pouco de bom senso ou de boa vontade, poderia ser alterada e nos trazer de volta aquilo que o mineiro Juscelino pretendeu? Hidrovia por hidrovia, perguntamos: E a nossa, cantada em verso e prosa não faz muito tempo por ministros das diversas áreas envolvidas com o real multiuso das águas, onde anda? E os empregos perdidos? E as empresas que há anos sucumbem às margues do lago que um dia nos foi vendido como sendo a redenção econômica desta vasta região?

A iniciativa privada fez e bem, o que lhe cabia. Os governos, ou melhor, os governantes, alguns municipais, estadual e certamente o federal, em conluio ou em troca de esmolas e outros favores que nos chegam sob a forma de royalties, tem ao longo dos tempos, fechado os olhos para o problema. Falta de conhecimento, de coragem ou…?

Todos não, alguns felizmente e aqui é preciso relembrar a ação firme do saudoso governador Itamar Franco que, em minutos, resolveu colocar as tropas mineiras de prontidão aqui junto ao Dique de Capitólio, exigindo que o governo federal e Furnas, respeitassem os direitos dos mineiros.

Infelizmente Itamar já se foi, mas seu exemplo, sua forma de agir, podem e devem diante do acima exposto nortear a todos quantos perceberam que a solução por nós proposta é plausível, necessária e mais que viável.

O senhor presidente de Furnas, na missiva ao lado reproduzida “coloca-se à disposição, dentro do nosso limite de competência, para esclarecer dúvidas que ainda tenham permanecidas” (sic).

É óbvio que sua disposição merece elogios, mas, conhecendo bem o problema que há anos nos azucrina, sugerimos aos nossos senadores, deputados federais, estaduais, prefeitos e a todos os que abraçaram esta causa e a quem enviaremos cópias desta “sugestão”, que busquem esmiuçar o problema, em especial junto ao presidente da República, que nos parece, conforme suas ultimas declarações, conhecer e bem como funcionam neste país as tais Agências. Que ele possa incrementar por aqui não só a volta de nossas águas a um nível aceitável, e que, com elas, também nos traga mais investimentos para o turismo já que, provado está, que a “Água, maior atrativo turístico do mundo”, por aqui já foi e quem sabe volte a ser, a mola propulsora para a criação de milhões de novos empregos com sua consequente distribuição de renda.

Para concluir, nos permitimos lembrar aos dirigentes de Furnas, que crime ambiental por aqui ocorre é quando, baixando a níveis críticos o volume armazenado em nosso lago, toneladas de peixes e de outros seres vivos sucumbem. Aliás, não faz muito tempo, o Ministério Público Estadual moveu uma ação neste sentido.

Presidente venha conhecer o entorno do lago, em especial aqui no Sul de Minas e na região do lago norte (Formiga, Pimenta, Capitólio, etc) e quem sabe, o senhor mude de idéia, diante de nossa realidade que difere e muito daquela que através de números, de tabelas frias ou de estatísticas, seus assessores lhe apresentam.

Terminando, lembramos aos nossos leitores e demais interessados que, com a privatização que está em pauta, nossa reivindicação, mais que justa e pertinente, se não atendida, selará para sempre o destino desta vasta região que se empobrece a cada dia por não ver respeitados seus direitos no que toca ao uso de nossas águas. De fato, relembrando o que disse, não faz muito tempo, um dirigente de Furnas, “nós fomos indenizados quando da construção da hidrelétrica”. Só que, muitos dos proprietários até hoje não viram a cor de tal prestação pecuniária e, é unânime o pensamento de que nossos antepassados “venderam” terras à União (Furnas). A água, NÃO! E ainda que isso tivesse ocorrido, a que jorra hoje e alimenta nosso lago, nos parece, não foi objeto de tal negociação.

Nossa esperança é a de que, dentre tantos que hoje comungam desta ideia, surja por aqui, pelo menos um novo, lúcido e destemido Itamar.

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